Na altura deste campeonato, não há muito o que se fazer em nome da defesa (política) de Flávio Bolsonaro. O senador carioca, acossado pelas recentes acusações, pouco pode fazer diante de uma imprensa disposta a quase tudo em nome da desforra. Em bom português: os vazamentos vão continuar e o "zero um" será frito em praça pública.
Eleito através do sobrenome de seu pai, imaginava-se que fosse expoente da articulação governista no senado. É, de longe, o mais diplomático e politicamente capaz do trio de filhos eleitos. É, também, o menos histriônico. Quis o destino que o melhor dos Bolsonaro fosse também seu calcanhar de Aquiles.
O primogénito é morto vivo operando no senado. Os mais desatentos confundiriam sua atuação com o outrora reizinho do salão azul, Renan Calheiros. É ele, desde o começo do ano, o homem que costura em nome da impunidade e da "velha política" — termo horrendo, mas adequado — na casa revisora, impedindo CPI’s como a Lava Toga e "errando" votos a favor do aumento do fundão eleitoral.
Para muitos, parece ter vendido sua alma ao diabo. Não duvidamos. Beneficiado com liminar de Dias Toffoli, é natural que encare de forma espartana o fardo que carrega. Flávio — mais que qualquer um — sabe bem os desdobramentos que envolvem o caso Queiroz; sua penitência pública, agonia da "Nova Era", converteu o potencial revolucionário do discurso bolsonarista em passeio no parque para uma Brasília interessada na impunidade.
Eis aí, portanto, o drama dado: Flávio impede que o bolsolavismo realize sua profecia. Os sonhos arrivistas do filósofo da Virgínia, o discurso inflamado de seus prosélitos de twitter, as gritas desesperadas de sua bancada de deputados, tudo isso perde sentido diante de um escândalo que expôs as entranhas nem tão patrióticas da família oficial.
A mesquinharia das rachadinhas — caso comprovadas, é claro — demonstram um apego — uma disciplina — na pequena fraude, no pequeno roubo. É trabalho meticuloso, de artesão, com seus saques e retiradas, seus "controles de caixa" e acordos com funcionários. Gente tão apegada a um acúmulo ilegal, tão ciosa de seus direitos (lê-se privilégios) como deputados, não combina com o perfil de varões de Plutarco propagandeado pelo bolsonarismo em sua campanha eleitoral.
O patriarca Jair sempre orgulhou-se de "gastar tudo o que pode" em seus gabinetes. Nunca considerou a hipótese da austeridade em seus mandatos, coqueluche dos parlamentares do Novo e MBL; para ele, se há grana, que seja usada. Ponto. Foi o que disse, inclusive, sobre um caminhão de som em discurso acalorado de campanha. O capitão nunca brincou a respeito de seus privilégios:
Tamanho patrimonialismo, refletido também em suas votações como parlamentar, predizia uma contradição que se tornaria mais aparente tão logo ele e sua família entrassem nos holofotes. Foi o que constatou Queiroz em diálogo com "funcionária" ligada a milicianos em seu gabinete: diante do escrutínio de órgãos de investigação, ou até mesmo da imprensa, as vísceras da real prática política da família seriam expostas. E as consequências apresentadas, conforme vemos, trágicas.
Assim que as contradições tornaram-se insolúveis — e o caso Queiroz grande demais para ser ignorado — , restou pouco dos gloriosos planos da ala ideológica do governo; Eduardo, Filipe e Olavo tiveram que se contentar com a promessa não cumprida de uma embaixada, enquanto Jair aguarda nem tão pacientemente o crescimento econômico prometido por Guedes. Não é muito — quiçá pouco mais que o almejado por Michel Temer — para uma turma que prometia uma "Nova Era" em seus discursos.
Além desta externalidade, temos também o aprofundamento do racha — perdoe-me a analogia — no campo da direita. É impossível negar que grandes agentes e influenciadores, seja na Jovem Pan, no MBL, nesta Gazeta do Povo, no parlamento e nas redes sociais condenam veementemente as práticas de Flávio Bolsonaro e apoiam sem ressalvas sua investigação. Mantém-se o discurso que alçou a direita ao poder; divide-se o campo vitorioso entre estes e o grupo que isolou-se na presidência.
Flávio encontra quartel no seio de sua família, encastelada no Planalto, e na verve cada vez mais caduca de seus influenciadores nas redes sociais. Jair não poderá negá-lo; seus prosélitos terão que justificá-lo. É a situação mais terrível que poderiam confrontar, visto que o meme da campanha é desnudado pela realidade: eis o dia em que o slogan “me chama de corrupto, p****!” perde sentido e se converte, sadicamente, em profecia de uma era que acabou.
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