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Os jornalistas pró-governo já podem comemorar. Mesmo diante da sabotagem do coronavírus, do uso de máscaras e da aplicação da vacina chinesa, nosso senhor presidente Jair Bolsonaro continua apresentando números que fazem os adversários chorar. O que dirão seus críticos — aqueles que o chamam de “inimigo da democracia” — diante do maior investimento do mundo numa eleição, o dito “fundão eleitoral de 6 bilhões”? 

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Bolsonaro promete vetar este anexo à LDO, para que seus aliados do grande centro derrubem o veto. É prevista, também, a hipótese de que Bolsonaro proponha um fundão menor, de 4 bilhões de reais, mantendo o recorde mundial, ainda que os números sejam um pouco mais modestos. Sua fiel base de parlamentares, da corajosa Bia Kicis ao sempre capaz Carlos Jordy, promete votar conforme os interesses do grande condutor. Argumentam que são contrários o fundo, mas que  votarão favoravelmente caso necessário. 

Para muitos, a argumentação dos bolsonaristas soa malandra. Para outros, patriotas de verdade, percebe-se a inteligência aguda dos parlamentares do presidente. O que nos interessa, porém, é a realidade por trás dos fatos: a despeito da propaganda, o governo agoniza. Entrega bilhões ao centrão na forma de fundo eleitoral e das emendas obscuras de Arthur Lira, mas nem isso basta. Acossado pelo impeachment, Bolsonaro convida o insuspeito Ciro Nogueira para comandar a Casa Civil. Humilhação maior não há.

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Como sempre lembro, a fiel base de ofensores nos comentários dirá que está tudo bem. A nomeação de Nogueira, logo após o fundo de 6bi e a recondução de Augusto Aras ao comando da PGR, é mero detalhe. O que interessa para o governista é a “luta pelo voto auditável” novo estratagema bolsonarista para conduzir o rebanho e invalidar os resultados das eleições vindouras.

Quem acompanha o dia a dia em Brasília sabe que a reeleição do capitão de artilharia é dada como “quase impossível” por deputados e lideranças partidárias. O avanço de Lula nas pesquisas internas e externas em todos os institutos é indicativo de clima de derrota que permeia o governo. O que explica, então, a adesão entusiasmada de lideranças do centro fisiológico? Decerto não são os olhos verdes de Bolsonaro, umedecidos pelas lágrimas de tanto chorar pelo Brasil.

O centrão faz cálculo. O presidente fragilizado de hoje é a verba gorda de amanhã. O Bolsonaro em ruínas que se esforça para se manter no jogo, lutando contra o impeachment, é aquele que entrega ministérios e oferece sua base de deputados para comungar no convescote do fundão. Nunca foi tão fácil saquear o governo federal — vê-se a farra na compra de vacinas e máscaras, permeadas por superfaturamentos e atravessadores de quinta categoria.

O centrão usa o fraco Bolsonaro como instrumento de saque, e se reforça para o pleito vindouro sem amarras nem obrigações. Se o negócio for apoiar Lula em seus respectivos estados — coisa que Ciro Nogueira e Arthur Lira conhecem bem —, assim será. Não existem vínculos outros que passem por cima do instinto de sobrevivência dos abutres políticos oficiais da república. Aliados hoje, caso o dinheiro entre; inimigos amanhã, quando a eleição desponta. O centrão já sabe o que fazer no governo impoluto do presidente patriota.

E o voto impresso?

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O argumento oficial justificando a nomeação de Ciro Nogueira é o de que o piauiense “entrará de sola” na aprovação do voto impresso. Mais que falso — Ciro está pouco se lixando para o tema —, o argumento denota o desprezo nutrido por Bolsonaro pela massa de bobalhões que o segue nas redes sociais. Perceba: Nogueira não possui apreço algum pelo presidente e suas teses. Em entrevistas já se referiu a Bolsonaro como “fascista”, e disse ser “impossível” não apoiar Lula em seu estado. Imaginar que o senador investigado converteu-se à causa golpista de Bolsonaro é mera profissão de fé — prática recorrente da massa bolsonarista.

Bolsonaro, por isso mesmo, conta com a fé cega de quem o segue. E aposta que comprarão de pronto a ideia de que Ciro Nogueira é mais um Jefferson, Lira, ou Aécio, o “bandido do bem” que coloca suas habilidades a serviço de uma “causa maior”. A massa de seguidores cairá no conto pois não lhe resta muito mais para se apegar. A relação entre Bolsonaro e os seus ultrapassou qualquer limite do aceitável, e o abuso perpetrado pelo presidente já não precisa fazer sentido. Atingiu-se a submissão total, e sorte a nossa que seus fanáticos são mera fração do eleitorado e da sociedade brasileira.

Não há muito o que fazer no cenário que se avizinha. Os que querem seu impeachment, hoje maioria, precisam se articular; os defensores do governo, encurralados, rezam para que a traição dos Liras e Nogueiras não surja tão cedo. Independente das posições, porém, todos pagarão a conta da brincadeira. É o boleto patriota do presidente que jurou que a mamata iria acabar…