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Olá, amigos da Gazeta do Povo. Esta é a primeira coluna deste que vos fala, e prometo honrar o espaço com o melhor que tenho a oferecer: análises políticas que mesclam a experiência real de agente que sou — enquanto coordenador do MBL — e a de analista meio bagunçado nas redes sociais.

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Nada melhor, então, do que compartilhar com os leitores algumas palavras sobre o evento político mais memético — e por que não relevante? — desta semana que se passou: o surreal enfrentamento entre meu colega de movimento (e deputado estadual) Arthur do Val e sindicalistas enraivecidos ao lado de deputados do PT. Sobraram mordidas, porradas e memes — além de algumas percepções da sociedade civil que ajudam a explicar bem o estilo de ação política de Arthur.

Primeiro, vamos aos fatos: o deputado estadual, agora sem partido, tomou a palavra em sessão na Assembléia Legislativa que tratava da reforma da previdência para confrontar o deputado Ênio Tatto, do PT; este havia provocado sua colega Janaína Paschoal ao dizer que ela estava sentada no colo de João Doria, maneira não muito elegante (tampouco politicamente correta) de se referir a uma mulher. A provocação de Ênio era acompanhada de gritos efusivos da patuléia sindicalista ali presente, que chamava Janaína de nazista , fascista e assassina.

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Diante do microfone, Arthur dobrou a aposta. Referiu-se aos sindicalistas como "vagabundos", prometeu “acabar com suas mamatas” e feriu-lhes os brios ao duvidar de sua… digamos… capacidade enquanto agressores. Eles viravam as costas e diziam “uh, vai morrer!”; Arthur respondia dizendo que não tinham coragem de fazer coisa alguma. Mais do que o show de provocações, assistíamos ali ao nascimento de um meme e à construção de uma narrativa sólida o suficiente para resolver o debate previdenciário em São Paulo.

Entendamos: Arthur sabia o que estava fazendo. A frieza em seu tremelicar de ombros, enquanto dizia “ficou ofendidinho” para o deputado “Barba”, do PT, demonstra o raciocínio estratégico de um caçador que conduz a presa até a armadilha. Barba, além de convocador (e líder) da bagunça sindical ali presidente, era também articulador de proposta que liberava R$ 40 milhões dos cofres públicos para “verbas de propaganda” — incluindo redes sociais — para a Alesp. Seria farra com dinheiro público em ano eleitoral, uma espécie de bônus local ao fundão aprovado em Brasília.

O resultado da provocação o país inteiro viu. Barba e seus colegas petistas partiram para a agressão física contra Arthur, sendo contidos pelos colegas presentes. O deputado Heni Ozi Cukier, do Novo, terminou mordido, e a sessão interrompida. Para todos que assistiram aos recortes de vídeo do momento, o cenário ficara claro: Arthur peitou a massa de sindicalistas corporativistas — sabotadores das contas públicas, se preferir — , falando verdades em português de botequim ao microfone; foi agredido — não sem antes montar guarda de boxe ( frágil e pouco técnica, reconheçamos…); e provou que é possível ser corajoso sem ser populista — algo raro em tempos de Jair Bolsonaro e Wilson Witzel.

Viral como rastilho de pólvora, o vídeo com a contenda espalhou-se pelo país e pela América Latina. Foi tema de debate na televisão argentina e inspiração para memes dos mais diversos; colocou a Alesp, pela primeira vez, entre os trending topics do twitter. E fez com que o entendimento geral da população sobre o debate previdenciário se desse na dicotomia entre corporativistas sindicais e população pagadora de impostos — um recorte bastante fidedigno da realidade.

A novidade na ação é que Arthur tornou espetáculo temas áridos como previdência, privilégios e tamanho do Estado. Antes já o fizera, enquanto ativista, ao questionar o rendimento do FGTS em eventos da esquerda, ou ao desmontar as invasões de escola contra a PEC do Teto no Paraná. Como deputado, porém — diante das limitações impostas pelo cargo — a tarefa era mais inglória, e o resultado, por conta disso, mais celebrado.

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A diferença entre seu trabalho e as gritarias ridículas da bancada federal do PSL — ou mesmo as meméticas, porém vazias disputas de Bolsonaro contra Jean Wyllys e Maria do Rosário — é que seu espetáculo não se dá no campo do populismo barato ou do moralismo oportunista, praga que assola o dito “conservadorismo" brasileiro. Arthur fez do liberalismo político — e não é disso que se trata a luta contra privilégios? — tema de discussão em escolas, grupos de WhatsApp e rodas de amigos. Converteu as corporações, terror de governadores reformistas, em vilões nacionais. Transformou a outrora “luta por direitos” — slogan dos sindicatos em sua luta por  mamatas — em mesquinharia vil e covarde. Traduziu como ninguém impessoalidade e cidadania para o homem comum.

A confusão da última quarta-feira na Alesp serviu para mostrar que é possível construir um liberalismo popular, envolvente e simpático; um liberalismo distante dos prédios da Faria Lima e mais próximo das vielas do Aricanduva; o liberalismo contra privilégios, que derrubou monarquias absolutas e estabeleceu dignidade para o homem comum ao longo dos últimos 300 anos. Balançando os ombros ou montando guarda, Arthur foi John Locke em tempos de Felipe Neto.