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As recentes pesquisas de opinião divulgadas pela XP Investimentos e pelo Instituto Data Poder soterram qualquer perspectiva de reeleição para o presidente Bolsonaro. Os 64% de rejeição, cerca de dois terços do eleitorado, representam o cruzamento do rubicão eleitoral. Daqui em diante, há apenas o vale dos derrotados.
A notícia caiu como bomba em Brasília. Implodiu, antes de tudo, as pontes construídas por Bolsonaro junto a setores do centrão para as próximas eleições. Isso explica por que as pesquisas sequer foram comentadas pela bolsosfera. Deveria seguir um padrão — a descredibilização dos levantamentos feitos pelo Ibope e pela DataFolha —, mas o buraco aqui é mais embaixo.
A pesquisa encomendada pela XP junto ao IPESPE faz parte de uma série histórica que baliza a tomada de decisões por parte de agentes de mercado, e se tornou referência até para o eleitorado fiel ao presidente. A corretora, antes de tudo, não pode ser qualificada como “esquerdista”, nem sequer “crítica” ao governo. A XP que divulga essa pesquisa é a mesma que demitiu a economista Zeina Latif por conta de seus reports pessimistas em 2019; a mesma que abriga em seu catálogo de “influencers” governistas desavergonhados como o “Primo Rico” e Pablo Speyer, o “vai tourinho” da Jovem Pan.
A XP, assim como a Faria Lima, nossa Wall Street tupiniquim, serviu-se da ilusão Guedes para aumentar sua base de cotistas e lucrar em meio à crise. A massa de desavisados, impulsionados pela expansão monetária por conta do COVID, caiu no truque. Se há um interesse por parte desta empresa, é a manutenção do clima de euforia, e não a derrocada do governo Bolsonaro. Quem descredibiliza seus resultados não tem ideia do que está falando.
Mais que um Bolsonaro derrotado, os levantamentos entregam uma situação de terra arrasada. O presidente “não será votado de jeito nenhum” por 61% dos eleitores, contra 45% de Lula. Isso significa que Bolsonaro, quando comparado aos demais candidatos no segundo turno, perde feio para todos, até para os mais inexpressivos. É o caso de Eduardo Leite — desconhecido do eleitorado e dono de 4% nas sondagens —, que derrota o presidente sem muitas dificuldades num hipotético segundo turno. O recado da sondagem é óbvio: até um poste é mais palatável que que o capitão de artilharia.
As razões para o agravamento do desastre são muitas, todas abordadas por aqui. O descaso com a pandemia cobra seu preço, mas o total e completo descontrole inflacionário, somado a uma crise econômica que bate à porta e obriga o aumento de juros, levou consigo uma massa de brasileiros que ainda nutria certa simpatia pelo mandatário. Abastecer o carro se tornou um calvário; comer carne virou luxo. Não apenas os mais pobres, mas também a classe média passaram a ver seu modo de vida ser profundamente alterado.
Isso explica também o monumental desgaste do presidente junto a mulheres e jovens, gente que percebe a carestia e o desemprego de forma mais aguda e não tem saco para sua pregação populista. Explica também o padrão homogêneo de sua militância — idosos ricos e aposentados que sentem menos os efeitos do desastre econômico.
Nos setores intermediários, a derrocada do discurso moral se fez sentir no casamento morfético com o centrão. Mais que fortalecer as contradições, a parceria destruiu o espírito de luta de seus defensores, que se questionam internamente, pela primeira vez, sobre a validade de uma defesa emocional sem lastro na realidade. Seria o mito apenas um… pilantra? Seria tudo isso apenas ilusão para um projeto de poder rasteiro — a promoção da impunidade de filhos e parentes, a entrega o Brasil para uma camarilha de desqualificados?
A permanência de Bolsonaro na segunda colocação das pesquisas depende ainda da ilusão de uma massa de seguidores que acredita na papagaiada do voto impresso (ou da cloroquina) enquanto não percebe a realidade em convulsão abaixo do próprio nariz. Mesmo eles, porém, tem prazo de validade: o crescimento de Lula, independente da queda de seu mito, avança a ponto de permitir uma vitória em primeiro turno. Creio eu que patriotas de todas as estirpes deixariam de lado seu ídolo de olhos claros em troca da derrota de um petista, certo? Não gostaria de chamá-los de “petistas úteis” mediante sua burrice. Ou seriam os “PSOL-Seniors”?
A verdade, colegas, é que se livrar de Bolsonaro é o único caminho possível para impedir o retorno do PT. Manifestações surgem no horizonte — dia 12/09 está logo aí — dando o tom de uma revolta heterogênea contra o populismo golpista que deixa o povo pobre pra enriquecer político ladrão. Se der certo, Bolsonaro cai — ainda este ano. Se fracassar, se a desesperança se fizer presente, o veredito é óbvio: teremos o petismo no poder, com Lula, Gleisi e Dirceu, vencendo por W.O.