Não há mais como negar: a crise está aí. E nem é preciso ser um especialista em economia para perceber isso, já que os sinais de recessão estão mais do que claros em todos os cantos — principalmente em nosso bolso. Basta olhar o quanto tudo está mais caro e no simples fato de que o dólar já flerta com os R$ 3,50.
Esse cenário econômico desfavorável reflete em praticamente todos os setores e os video games são um dos que mais sentem o golpe. Por ser um segmento que depende quase que em sua totalidade de importações, a desvalorização do real impulsionou os preços e os jogadores vem sentindo isso já há algum tempo e da pior maneira possível.
Com Mortal Kombat X, a Warner foi a primeira a mostrar ao consumidor que a situação não está fácil. O mais recente game da série chegou às lojas cometendo um Fatality em nossas carteiras e quebrando a já salgada barreira dos R$ 200 que tínhamos até então. E, a partir daquele momento, vários outros lançamentos seguiram pelo mesmo caminho, fazendo com que o novo padrão oscile entre os R$ 230 e R$ 250.
Nem mesmo o Steam escapou das vacas magras. Considerado por muitos como a salvação do jogador brasileiro, o serviço da Valve pegou muita gente de surpresa ao trazer preços bem acima dos costumeiros R$ 99 que tínhamos nos PCs por tanto tempo. Jogos como Fallout 4, Pro Evolution Soccer 2016 e o aguardado Metal Gear Solid V: The Phantom Pain são apenas alguns exemplos que evidenciam que a crise chegou mesmo para todos.
E a coisa fica ainda pior quando pensamos em valores maiores. Embora a Sony tenha confirmado a produção nacional do PlayStation 4, ninguém parece estar muito otimista quanto ao novo preço do console. Durante a última E3, o presidente da divisão latino-americana da empresa, Anderson Gracias, afirmou que o valor vai ficar abaixo dos infames R$ 4 mil, “mas não tanto”, sobretudo por conta do próprio valor do dólar.
Só que, de todos os elos dessa cadeia, quem mais sente o impacto da recessão é o consumidor e o lojista. No caso do vendedor, a situação é ainda mais complicada, pois é ele quem precisa repassar os novos preços e se adequar nessa nova realidade para sobreviver. “Para as lojas físicas, o impacto da crise foi assustador”, explica o gerente de marketing do Grupo ShopB, Gabriel Bollico. “Teve muita gente fechando”.
Sócio de uma loja com foco em vendas online, Bollico conta que a economia em retração não fez com que as pessoas parassem de consumir, mas as forçou a pensarem um pouco mais antes de ir ao caixa. “O gamer que é gamer não deixa de comprar o jogo que ele tanto espera, como um The Witcher 3 ou Mortal Kombat X, mas ele vai pesquisar o preço mais do que nunca”, afirma o empresário, relembrando ainda que o consumidor, ainda que descontente com os altos valores, sabe apontar os vilões dessa história.
Só que os games são apenas a parte menos afetada. Como Bollico explica, um dos reflexos mais claros da crise entre os lojistas está exatamente na escassez de itens importados que antes eram tão comuns nas prateleiras. “Existem muitos produtos em falta nos fornecedores, principalmente acessórios”, conta. Basta olhar que a própria oferta de PlayStation 4 diminuiu bastante e você quase não vê mais amiibos à venda por aí.
Diante disso, surge um outro questionamento: se está tão caro trazer de fora, por que não investir na produção nacional? Algumas empresas até já fazem isso e, apesar de ser uma medida que consegue relativamente segurar as pontas, está longe de ser uma solução. Isso porque, mesmo os jogos que são fabricados por aqui precisam pagar royalties e esses valores são em dólar, o que faz com que o preço suba de maneira inevitável. É por isso que muitos títulos que antes chegavam às lojas entre R$ 150 e R$ 180 ainda estão conseguindo segurar os R$ 199.
Quem olha o copo meio cheio
No entanto, uma crise também é um campo fértil para oportunidades. A própria ShopB viu nesse momento de desaceleração econômica a chance de investir em um segmento até então pouco explorado por aqui: os seminovos. Embora muitas lojas comprassem títulos usados, esse mercado ainda não tinha mesma força que vemos em outros países, como Estados Unidos, e o aumento geral nos preços reacendeu o interesse do consumidor por esse tipo de produto.
No caso da empresa paranaense, ela criou o Meu Game Usado, uma loja virtual na qual as pessoas podem vender e comprar seus jogos a preços bem abaixo daqueles vistos no varejo, o que faz com que a modalidade seja uma opção bem interessante para o público em geral. “Na mesma semana de lançamento de Batman: Arkham Knight, tínhamos cópias usadas que foram vendidas a R$ 149,90 e que não duraram nem 45 minutos no ar”, conta Bollico. Pela Warner, a cópia saía por R$ 250.
Em apenas cinco meses, o Meu Game Usado já ganhou corpo a ponto de o Grupo ShopB estudar a criação de divisão dedicada a jogos seminovos dentro da empresa. “O segredo da venda é comprar bem”, detalha o empresário, destacando que comprar um game de segunda mão pode ser um ótimo negócio tanto para quem compra quanto para quem vende.
Só que ele não é o único a ver oportunidades onde todo mundo vê crise — tanto que há companhias internacionais investindo em uma entrada no Brasil mesmo com todos os problemas econômicos. É o caso da chinesa Gamebau, especializada em títulos mobile e que acaba de chegar ao país com o lançamento de Rainbow Pop.
Embora seja estranho imaginar isso acontecendo exatamente neste momento, o chefe de operações da produtora, Pedro D’Aguiar, explica que a ideia de expandir por aqui se dá exatamente por considerar que “o mercado brasileiro ainda não está maduro no que diz respeito a celulares e games”. Segundo ele, o número de aparelhos ainda é pequena se comparada com a população e que isso deve mudar nos próximos anos, mesmo com a crise.
“A Gamebau quer se tornar uma empresa sólida no mercado brasileiro justamente nesse momento, fixar suas raízes e aproveitar o esperado boom”, afirma D’Aguiar. E nem mesmo o fato de as microtransações de seus títulos serem feitas a partir do dólar parece afetar essa convicção da companhia. Para o executivo, a monetização de apps é uma consequência do engajamento do público, que atualmente está ainda em fase de aprendizado. “Isso é mais uma questão mais relacionada à maturidade do mercado e independe da crise”, afirma.
Paralelo a tudo isso, há ainda aqueles que seguem otimistas quanto ao panorama atual — mesmo com todo mundo dizendo o contrário. Para o fundador e CEO da Brasil Game Show, Marcelo Tavares, o cenário brasileiro de jogos segue na contramão da crise econômica, se mantendo o primeiro no ranking de mercado na América Latina e o quarto maior na lista mundial.
“Assim como aconteceu no auge da crise de 2009 nos EUA, o mercado de games representa uma opção de entretenimento mais barata do que a maioria das outras alternativas disponíveis”, explica Tavares, destacando que é muito mais vantajoso comprar um jogo novo e aproveitá-lo por longos períodos do que fazer vários outros programas ao longo do mesmo período.
Como fruto dessa visão positiva, Tavares não crê que a desaceleração econômica do país e o consequente aumento nos preços vá afetar o seu evento, que acontece em São Paulo no próximo mês de outubro. Como os ingressos da edição deste ano da feira estão sendo vendidos pelo mesmo preço de 2014, ele acredita que o número de visitantes cresça. A expectativa é que 300 mil pessoas passem por entre os estandes — 50 mil a mais que no ano anterior.
Mais do que isso, ele ainda conta que as empresas também estão otimistas e não usaram a crise como desculpa para deixar de participar do evento ou diminuir sua participação. Mesmo repassando parte dos reajustes para fornecedores e parceiros, o interesse das companhias pelo evento não diminuiu. “Muitas empresas estão participando da feira pela primeira vez e outras aumentaram seus espaços com relação ao ano passado”, relata sem dizer exatamente quem é quem.
Texto originalmente publicado no site New Game Plus.
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