Nas últimas semanas, o pânico tomou conta dos mercados financeiros. Bolsas, o preço das commodities e o valor da moeda de países com economias menos sólidas despencaram em todo o mundo. Na segunda-feira (9), o preço do petróleo teve sua maior queda em várias décadas e a Bolsa brasileira a maior queda em 22 anos.
O pânico dos mercados financeiros origina-se de outro pânico, o pânico do coronavírus, e seus impactos negativos na economia mundial e como em economia tudo está conectado, exacerba estes impactos negativos.
A alta letalidade do coronavírus em pacientes de mais idade e saúde fragilizada e sua facilidade de transmissão disseminaram o medo, apesar da letalidade ser relativamente baixa em crianças e adultos.
A necessidade de conter a transmissão e o medo, por sua vez, levaram a decisões tanto individuais quanto de governos que paralisaram a economia. Em cada vez mais países, pessoas evitam sair à rua, ir ao trabalho e viajar, escolas estão fechadas e centenas de milhões de pessoas estão em regiões em quarentena.
Os impactos negativos na economia mundial começaram pela China, onde o surto se originou. A China responde, hoje, por quase 1/3 da indústria mundial. Sua paralisação afeta a indústria de todo o mundo, que depende de componentes produzidos por lá. Só para citar um exemplo, já há estimativas de atraso de até um ano e meio na implementação do 5G em alguns países por conta da paralisação de produção causada pelo coronavírus.
Depois, o vírus se disseminou pela Itália. Em pleno inverno - com clima frio - população envelhecida - e, portanto, mais vulnerável - e fronteiras abertas para a União Europeia, da Itália, o surto se disseminou pela Europa e para o resto do mundo, inclusive para o Brasil. Segundo alguns, o coronavírus é como o macarrão. Nasceu na China, mas os italianos o espalharam pelo mundo.
A paralisação da atividade econômica causada pela reação ao vírus, por sua vez, derrubou a demanda de petróleo no mundo. Para controlar a queda de preços, a OPEP - Organização dos Países Exportadores de Petróleo - liderada pela Arábia Saudita, tentou convencer, sem sucesso, a Rússia - também uma das maiores produtoras de petróleo do mundo, mas que não faz parte da OPEP - a também cortar a produção do produto. A Rússia não topou e a Arábia Saudita, maior produtor mundial, resolveu, então, deixar o preço despencar, reduzindo recursos não só para a economia russa, mas também para outros países exportadores de petróleo já em situação frágil, como Venezuela e Irã. Com menos recursos financeiros vindos das vendas do petróleo, a economia destes países vai piorar e a insatisfação popular com seus governantes e, possivelmente, as manifestações contra eles vão aumentar. Como eles reagirão? Ninguém sabe, mas não custa lembrar, por exemplo, dos conflitos recentes entre Irã e EUA.
Este é apenas um exemplo de como a piora do panorama econômico descortina conflitos adormecidos pela bonança gerada pelo mais longo ciclo de expansão econômica global, ao menos desde a Segunda Guerra Mundial. Com a brutal destruição de riqueza que está acontecendo, os conflitos eclodem, muitas vezes aumentando os impactos econômicos negativos na economia, em um círculo vicioso tanto a nível global quanto em cada país. No campo da política, por exemplo, governos de todo o mundo se beneficiaram politicamente da bonança global - muitas vezes de forma indevida. Da mesma forma, a oposição aos atuais governos vai se beneficiar agora de críticas e insatisfação popular com os atuais governantes, culpando-os - muitas vezes também de forma indevida - caso uma recessão global efetivamente se materialize. Este impacto pode ser particularmente significativo em países que passarão por eleições, principalmente eleições presidenciais, como os EUA.
Ninguém sabe ao certo como o surto evoluirá, quais serão as reações da população e de governos a ele e a magnitude total que estas reações terão na economia mundial, mas há tempos o risco de uma nova recessão global não é tão claro e iminente. Quando outras recessões assim aconteceram no passado, as quedas acumuladas da Bolsa dos EUA, por exemplo, em relação a suas máximas variaram de 20% - próxima do que já aconteceu - a 55%. Em resumo, na melhor das hipóteses, o pânico dos mercados financeiros - Bolsas, moedas, etc... - e suas consequências negativas nas economias mundo afora já ficaram para trás. Na pior, não vimos ainda nem metade do stress pelo qual estes ativos passarão, talvez até bem menos da metade.
Todo pânico gera enormes oportunidades de investimentos para aqueles que têm a coragem de ir na direção oposta da manada na hora certa - no momento em que o pânico atinge seu ápice. Pessoalmente, considerando todos os riscos envolvidos, acredito que esta hora ainda não chegou, mas é importante estar preparado para aproveitar as oportunidades que surgirão, em breve, e serão substanciais.
Enquanto isso, o que resta, infelizmente, é estar pronto para lidar com as consequência negativas da piora da economia global para os negócios das empresas e o mercado de trabalho nos próximos meses.
Esta coluna é mensal.
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