Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Ricardo Sabbag

Ricardo Sabbag

Política partidária e eleições no Paraná.

Corrida para o Senado

Alvaro, Moro e Martins buscam o voto do mesmo eleitor com estratégias diferentes de campanha

Alvaro Dias, Paulo Martins e Sergio Moro
Alvaro Dias, Paulo Martins e Sergio Moro estão entre os dez concorrentes à vaga do Senado pelo Paraná. (Foto: Reprodução/Gazeta do Povo)

Ouça este conteúdo

A supercoligação de apoio à reeleição de Carlos Massa Ratinho Junior (PSD e outros 10 partidos) ao governo do Paraná teve como efeito colateral a inusitada situação de uma mesma chapa ter quatro candidatos para uma única vaga ao Senado. Em tese, os quatro candidatos ao Senado apoiam o mesmo candidato ao governo. Este apoio, no entanto, não é recíproco. Pouco antes do início da campanha eleitoral, Ratinho Junior declarou que seu candidato, entre todos os de sua chapa, seria o deputado federal Paulo Martins (PL).

Na prática, a escolha de Ratinho por Martins fez com que os demais candidatos da coligação - Sergio Moro (União Brasil), Orlando Pessuti (MDB) e Aline Sleutjes (Pros) - se vissem sozinhos na campanha. Terão as estruturas disponibilizadas por seus partidos, como acesso a recursos do fundo eleitoral e tempo de televisão, mas não gozarão de uma série de benefícios “intangíveis” da companhia do governador.

Acrescente-se a este cenário incomum o fato de que outro importante candidato ao Senado em 2022, o atual senador Alvaro Dias (Pode), foi o padrinho da entrada de Moro na política, sendo aliado do ex-juiz e ex-ministro até poucos meses.

São cinco candidatos que poderiam ser do mesmo grupo político, mas que, mais importante no momento: disputam o voto do mesmo eleitor.

Dentro os cinco, segundo o que aponta a última pesquisa ao Senado, divulgada pela Real Time Big Data* em 16 de agosto, três despontam como os principais na disputa. Na ordem registrada pelo levantamento: Sergio Moro (30% de intenções de votos), Alvaro Dias (27%) e Paulo Martins (8%). Na mesma pesquisa, Sleutjes aparece com 2% e Pessuti com 1%, respectivamente.

O retrato poderia indicar uma polarização entre Alvaro e Moro, mas Martins tem um claro cenário de crescimento à frente, uma vez que é apoiado também pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) e, graças ao suporte declarado de Ratinho, deverá colar na presença do governador em eventos de campanha. Será uma eleição disputada.

Nos primeiros dias de campanha, antes mesmo do início da propaganda eleitoral em rádio e tevê, os três principais candidatos começaram a se posicionar de modo a indicar quais serão as estratégias para disputar o voto deste eleitor. Que eleitor é este? Aquele que se posiciona politicamente do centro à direita e tende a votar em Ratinho para o governo e em Bolsonaro para presidente. É um recorte amplo e há outras clivagens que os candidatos podem mirar para tentar aumentar suas chances. Mas, via de regra, disputam o mesmo terreno.

Mais interessante ainda é que as estratégias de convencimento deste eleitor até o momento se mostram distintas.

Moro foi o primeiro a divulgar peças de campanha. Em um dos primeiros vídeos publicados como candidato oficial, que deve ocupar parte das primeiras inserções em rádio e tevê a que terá direito, o ex-juiz aparece falando sobre “traição”.

“Traição é você abandonar seus princípios e seus valores”, diz. É um recado claro a um público familiar a Moro: o de apoiadores do presidente Bolsonaro que se decepcionaram com a forma com que Moro deixou o governo e frequentemente o acusam de traição. Membros de uma base que um dia foi inteiramente lavajatista, mas que se fragmentou com a saída do ex-juiz do ministério da Justiça.

A estratégia demonstra que a campanha de Moro vê como necessário recuperar uma base do eleitorado que já simpatizou com o ex-juiz, mas hoje o vê com restrições. Ou seja: não enxergam que o número atual de apoiadores ou de pessoas que considerariam votar em Moro seja suficiente para vencer a eleição. É preciso reconquistar um território perdido.

Mais à vontade com esta mesma base está o deputado federal Paulo Martins. Ele, que em no primeiro evento público como candidato oficial saiu alfinetando Moro, adota uma estratégia diferente nas redes: não está falando sobre o Paraná ou seus adversários na corrida ao Senado. Ao contrário, prefere comentar política nacional, portando-se como um apoiador de primeira ordem de Bolsonaro, criticando Lula e o PT e a cobertura de imprensa sobre o presidente.

A estratégia pode parecer estranha ao menos conhecido entre os três principais candidatos nesta corrida. Não deveria Martins estar se apresentando a um eleitorado maior? Dizendo quem é e quais são suas principais bandeiras com essa candidatura? É uma escolha. A estratégia de momento indica que a primeira preocupação da campanha de Martins é grudá-lo à imagem de Bolsonaro. Primeiro são os próprios paranaenses fieis a Bolsonaro que precisam saber que Martins é candidato. Uma vez assegurada essa posição, a campanha deve modular o discurso para um público mais amplo.

Por fim, a estratégia mais convencional é a do mais conhecido entre os três. Alvaro Dias, que busca o quarto mandato consecutivo como senador da República, não levantou até o momento nenhuma bandeira nem contrapôs nenhum adversário. Sua campanha o coloca como um “velho conhecido” dos paranaenses, mostrando-o em andanças pelo interior, recebendo o apoio de políticos e lideranças mais ou menos conhecidas. Fala um pouco sobre seus feitos como político experimentado e o mostra visitando cidades e participando de eventos regionais. Uma campanha, até o momento, à moda antiga.

É a busca por um voto de quem não está ávido por mudança, que prefere a segurança à incerteza. Este eleitor sem dúvida já conhece o candidato, pode gostar um pouco mais ou um pouco menos dele, mas não quer trocar o certo pelo incerto. Numa leitura um pouco menos superficial, a campanha do senador está mirando não perder sua base eleitoral conquistada em longos anos e, quem sabe, atrair até o voto de eleitores de esquerda que não encontrem viabilidade nos candidatos de seus partidos. Afinal, para um eleitor convicto de Lula, é praticamente impossível que vote no ex-juiz que o condenou à prisão ou em um assumido bolsonarista.

Considerando a força e o potencial dos candidatos, é bastante provável que o quadro mude conforme o avanço da campanha. A ver como reforçam ou modificam suas estratégias ou se, menos provável, surge algum adversário correndo por fora que balance a atual divisão de forças.

*A pesquisa eleitoral encomendada pela Record TV para a Real Time Big Data entrevistou 1,5 mil pessoas, entre os dias 13 e 15 de agosto. A margem de erro do levantamento é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%, sob o registro na Justiça Eleitoral com o número PR-06612/2022.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.