O senador Alvaro Dias (Podemos) foi um dos oito convidados a participar do debate com candidatos ao Senado pelo Paraná promovido pela Gazeta do Povo na última segunda (26). Foi o único que não compareceu. Sua assessoria entrou em contato com a Gazeta na sexta-feira (23) informando a ausência do candidato. Na segunda, apresentaram como justificativa para o não comparecimento “agenda muito corrida com reuniões, viagens ao interior e produção dos últimos programas de TV”.
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Justo. A bem dizer, Alvaro sequer precisaria se justificar por não comparecer. Nenhum candidato é obrigado pela lei eleitoral a participar de debates ou conceder entrevistas à imprensa. Aqueles que o fazem, julgam que é importante ocupar os espaços oferecidos para se comunicar com quem mais interessa, no fim das contas, que é o eleitor, não os jornalistas de qualquer veículo.
Na terça (27) pela manhã, no entanto, Alvaro fez uma live em seu canal no Facebook em que deu outra justificativa para não ter comparecido ao debate: “Na verdade, colocaram lá um ringue para que os candidatos ao Senado pudessem se digladiar, um contra o outro. Eu tinha um compromisso de jantar lá no Madalosso, com o candidato Paulo Rossi. Não participei desta brincadeira”.
Alvaro também fez alusão à audiência do debate, dizendo acreditar ter mais pessoas no restaurante aquela noite do que acompanhando a transmissão. Completou afirmando que teria comparecido se o debate fosse transmitido pela RPC ou pela Rede Globo.
Mais tarde o vídeo da live de Alvaro com essas afirmações (e tantas outras, em que ele responde questionamentos de adversários) misteriosamente sumiu do canal do candidato no Facebook. Em outra live, feita na manhã de quarta (28), Alvaro diz que “surpreendentemente, a live que fizemos desapareceu” e que estão tentando descobrir o que terá acontecido com o vídeo.
À parte da fala desrespeitosa de Alvaro chamando o debate de brincadeira, menosprezando o trabalho de dezenas de profissionais, o leitor da Gazeta do Povo e seus próprios adversários na corrida eleitoral, cumpre uma breve comparação. O Madalosso, já registrado pelo Guiness como o maior restaurante do mundo, tem, segundo o Google, capacidade para 4.645 lugares. O vídeo com o debate dos candidatos ao Senado conta mais de 33 mil visualizações na página do YouTube da Gazeta do Povo até a publicação deste texto.
E uma última comparação. O vídeo do debate está aberto no YouTube, podendo ter ainda mais visualizações até o dia da eleição. Pode ser visto por eleitores de toda ordem, inclusive aqueles que não consomem regularmente o conteúdo da Gazeta do Povo. Já o jantar político no Madalosso, apesar do gigantismo de seus salões, apesar da deliciosa comida, só pode ser realizado por adesão dos convidados. Do contrário, estaria em desacordo com a lei eleitoral (e tenho certeza de que o candidato não participaria de evento dessa natureza). Ou seja: ainda que as 4.645 pessoas estivessem lá só para ouvir os candidatos, assim o fizeram tendo que pagar para participar.
Novamente: é opção de cada candidato comparecer ou não ao debate. E uma opção até compreensível considerando como a comunicação política mudou nos últimos anos. O que vale mais a pena ao candidato? Participar de um enfrentamento com adversários ou falar para seu próprio público em mídias sociais? Tentar angariar o voto de algum indeciso ou correr o risco de perder tantos outros por falar alguma bobagem e virar meme de internet? Estamos acompanhando nos últimos anos um esvaziamento desse tradicional evento de campanha e não será surpreendente se, nas próximas eleições, os veículos de imprensa realizarem menos debates.
Ao não comparecer ao debate, naturalmente o candidato faltante vira alvo dos demais. Alvaro sabe disso. Ainda assim, prefere chamar o debate de “ringue”, onde os candidatos “se digladiavam, um contra o outro”. Sem a pretensão de querer ensinar qualquer coisa ao senador, que tem mais tempo de carreira política do que este colunista de vida, mas o que é um debate eleitoral, afinal, senão um confronto direto de ideias entre os candidatos?
Se o senador candidato ao quarto mandato consecutivo prefere pregar para convertidos, em locais em que pode falar sem ser contestado, apenas aplaudido por cabos eleitorais e simpatizantes, não há dúvidas de que tomou a decisão certa em preferir o Madalosso ao debate da Gazeta. Se o eleitor paranaense concorda com essa opção ou não é outra história.
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