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Roberto Indech

Roberto Indech

Vozes

A poupança acabou!

Não é a primeira vez que irei tocar neste assunto aqui e provavelmente também não será a última. Há alguns meses que “bato” na poupança. Pode parecer algo óbvio, mas ainda milhares de brasileiros seguem com recursos em uma das piores alternativas de aplicação financeira do país. Ainda há outros piores – por incrível que possa parecer - mas menos conhecidos do grande público.

Com o corte da taxa de juros, a Selic, pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central na semana passada, chegamos ao menor patamar da história, de 5% ao ano. Até o final do ano ainda teremos mais uma reunião do colegiado e novamente é esperado um novo corte de 0,5 p.p. para 4,5% ao ano.

Desta forma fica claro que os investimentos em renda fixa ficam cada vez menos atrativos. Para quem está acostumado a viver de renda, isso é um choque e tanto. Para os que possuem dinheiro na poupança é pior ainda, dado que o rendimento da aplicação mais tradicional do país passará a ser de 0,29% ao mês. E o que são 0,29% quando o brasileiro gostaria de seguir obtendo aqueles tais 1% ao mês? Nada. Como a poupança rende 70% da taxa Selic, então esse número está em 3,5% ao ano e encerrará 2019 rentabilizando seus poupadores em 3,15%, caso o novo corte seja concretizado em dezembro.

Para citar exemplos de como ainda estamos engatinhando neste mundo dos investimentos, por mais conservador que a aplicação nos títulos do Tesouro Direto seja, apenas 1,5 milhão investidores estão ativos, enquanto na poupança são mais de 100 milhões de brasileiros. É difícil de entender porque ainda milhares de pessoas seguem no “comodismo” da poupança. Claro que há um novo momento nessa cultura antes não explorada.

Por estarmos em um momento nunca antes vivido no país, com taxas de juros a níveis inimagináveis há poucos anos atrás, o brasileiro se questiona onde estariam as aplicações que poderiam rentabilizar melhor sua carteira.

Veja, não é porque a Selic está em 5% ao ano que devemos descartar ter recursos em renda fixa. Nesse caso visualizo duas opções:

  • Reserva de emergência: nesse caso a composição poderia ser por meio dos títulos do Tesouro Selic, CDBs de liquidez diária que pagam cerca de 100% do CDI ou Fundos de Investimento conservadores que possuem taxa de administração anual de 0,4% ou menor. Nesse e em qualquer momento é importante termos esses recursos para o dia a dia, o que chamamos de reserva de emergência ou
  • Diversificação de patrimônio: mesmo com a taxa de juros em 5%, entendo que diversificar uma carteira de investimentos faz sentido em qualquer circunstância. Sendo assim, vejo ativos de crédito privado e que possuem vencimento no longo prazo como parte de um todo. Certificados de Recebíveis Imobiliário (CRI) / Agronegócio (CRA) podem naturalmente compor estas carteiras. Em geral, são ativos cujo vencimento varia de 3 a 10 anos em geral e sua rentabilidade é atrelada ao CDI ou a indicadores de inflação (IPCA / IGP-M). Pelo risco ser um pouco mais elevado que ativos tradicionais de renda fixa, é necessário consultar anteriormente a aplicação qual seria “A” opção do momento. Vale ressaltar que são ativos isentos de Imposto de Renda e que, portanto, podem beneficiar os investidores no médio e longo prazos.

Outro caso claro de educação financeira e de novas possibilidades está no “relacionamento” do brasileiro com a bolsa de valores. Se a poupança acabou, o mercado de renda variável mais do que nunca deveria estar na boca do povo. De certa forma começa a estar, com pouco mais 1,5 milhão de CPFs cadastrados. Assim como nos títulos do Tesouro, também considero esse número irrisório pelo potencial que poderia ter ou até poderá em um futuro breve.

Com as perspectivas que temos no nosso país, começar a buscar informações sobre o mercado de ações livre – aquele em que o investidor compra suas ações pelas mesas de operações de instituições financeiras ou pelo Home Broker – deveria estar na agenda de todos. Obviamente que é um mercado que possui mais riscos, mas o retorno, em especial no longo prazo, também poderá ser mais atrativo. Além disso, é dessa forma que é possível acompanhar a economia real. Se não tiver tempo ou não quiser conhecer à fundo este mercado, mas tem a vontade de iniciar neste mundo, há dezenas de fundos de ações em que os gestores realizam as análises e, portanto, fazem a gestão do dinheiro de terceiros aplicando neste mercado.

Enfim, seria leviano aqui se falasse que há neste momento um confisco da poupança, mas da forma como os juros estão e pelas perspectivas poderíamos até considerar isso na teoria, dado o momento ruim para os poupadores. Viramos a página meu Brasil, vamos buscar para que o dinheiro trabalhe por você e não mais você por ele.

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