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Neste mês de abril, a B3, antiga BM&FBovespa anuncia que chegamos a 1 milhão de CPFs cadastrados no segmento de renda variável. Este parece ser um número relevante, mas em um país com 210 milhões de habitantes e cerca de 60% inserido na população economicamente ativa, de fato não é.

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Dentro desse contexto, há milhares de investidores posicionados em ações de empresas estatais federais como Petrobras, Banco do Brasil e Eletrobras. Sendo companhias altamente relevantes no cenário nacional e, portanto, conhecidas do grande público, nos parece ser uma boa alternativa como porta de entrada para o brasileiro neste segmento.

As nuances das estatais

No entanto, há muitas características que envolvem o investimento em estatais, sobretudo suas nuances particulares, começando pela gestão, que é indicada pelo Governo Federal, diferentemente de empresas privadas.

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A alta cúpula destas não é formada necessariamente por um quadro técnico, o que remete a interesses políticos e, portanto, com possibilidades de ingerência governamental ou até mesmo correlacionada com partidos ou ideologias, além de movimentos de cunho pessoal como, infelizmente, presenciamos ao longo dos últimos anos.

Em função destas eventualidades, as ações destas em geral são mais sensíveis e reagem a simples pronunciamentos realizados, tanto pelo presidente da República, quanto por membros da equipe econômica e, claro, da sua direção.

Por razões como as citadas, há um risco mais elevado em relação ao investimento e que, por esse motivo, se espera o chamado prêmio de mercado, ou seja, um retorno acima da média do mercado. Vale ressaltar que as ações de empresas estatais, no seu histórico, negociam com desconto se compararmos com empresas privadas dos mesmos setores por uma simples questão de risco embutido.

Interferências

E por que exatamente isso ocorre? Basicamente presenciamos decisões, em especial no governo Dilma Rousseff, de clara ingerência na estratégia de parte destas empresas. Afinal, quem não se recorda da equipe econômica à época forçando juros menores nos bancos estatais para fomentar a economia? Além da clara interferência que houve no preço dos combustíveis e da energia com o objetivo de conter o aumento da inflação.

Nas últimas semanas, voltamos a nos deparar com situações, se não como as anteriores, pelo menos com alguma característica de interferência do presidente nas companhias. Após decidir pela manutenção dos preços do diesel, buscando evitar uma nova greve dos caminhoneiros no país, Bolsonaro apresentou ao mercado aquilo que ele menos deseja neste momento de resgate de credibilidade: a possível volta de ingerência, independentemente do objetivo.

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No Banco do Brasil também presenciamos situações, no mínimo, curiosas. Na primeira o mandatário solicitou a retirada de um vídeo produzido pela equipe de marketing do banco. Na segunda não houve interferência de fato, mas em sua fala, em tom de “brincadeira”, Bolsonaro sugeriu ao presidente do BB, Rubem Novaes, que diminuísse os juros para o setor agropecuário. Com isso, as ações do setor passaram a recuar imediatamente. E, de fato, isso ocorreu por essa simples declaração.

No caso da Eletrobras, não houve ingerência alguma até então por parte do novo governo. No entanto, é um ativo que está suscetível e à mercê de notícias envolvendo uma possível privatização, algo já discutido no Congresso Nacional há meses.

Riscos mais elevados

Sendo assim e mesmo com altas expressivas até esse momento, com as ações da empresa de energia elétrica avançando 29% no ano, da petrolífera 20% e do banco 8%, é evidente que dentro do mercado de renda variável há riscos e, com situações como estas acima, os riscos se tornam mais elevados, independentemente do presidente em exercício no país.

Em um momento crucial para o Brasil, onde se discute a Reforma da Previdência, assunto de extrema relevância para o ajuste das contas públicas que busca a retomada do crescimento da economia no longo prazo e tema tão sensível entre 100% dos brasileiros e o Congresso Nacional, o que menos precisamos são de fatos novos como esses.

A credibilidade do país é de suma importância para o investidor injetar recursos e, por esta razão, não podemos mais criar um ambiente de falta de confiança, afinal o próprio presidente busca “vender” uma imagem de resgate da credibilidade, algo esperado há anos por nós brasileiros.

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