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Na semana passada tive o prazer de acompanhar o maior evento de investimentos do mundo, a Expert XP 2020. Foram cinco dias com mais de 200 palestras sobre investimentos, aspectos sociais e políticos e o mundo dos negócios em geral.
Dentro do rol de palestrantes, estavam os principais gestores de fundos de investimento e personalidades do país, além de gestores de renome mundial. Ainda a ativista Malala, o ex-jogador de basquete Earving “Magic” Johnson, o ex-premiê do Reino Unido Tony Blair, a vencedora do prêmio Nobel da Economia em 2019, Esther Duflo, a CEO da Nasdaq Adena Friedman, entre outros.
Diante de tantos nomes conhecidos e vitoriosos em suas respectivas carreiras, posso afirmar que foram dias extremamente proveitosos para adquirir muito conhecimento sobre o que é pensado para presente e futuro por essas personalidades. Dessa forma, coloco abaixo os cinco principais aspectos que considerei mais relevantes de tudo que pude acompanhar: (1) a importância da evolução da tecnologia, (2) investimentos ESG (ambientais, sociais e de governança), (3) momento da bolsa de valores, (4) ascensão da China como possível nova potência global e (5) a importância da diversificação numa carteira de investimentos.
A evolução da tecnologia
O setor de tecnologia, que já era discutido há meses, é colocado cada vez mais em evidência. Desde o início da pandemia, o índice da Nasdaq, que mede o retorno das empresas do setor, não para de subir. Nos últimos três meses a alta ultrapassa 25%, algo muito acima de tempos “normais”.
O grupo das gigantes FAANMGs (Facebook, Amazon, Apple, Netflix, Microsoft e Google) é o centro das atenções e principal destaque do índice, que também tem nomes como Tesla, Mercado Livre, Intel, entre outros. No Brasil, o que se pode verificar é que as empresas de varejo online são as que mais se destacam na bolsa brasileira, em especial neste momento.
Outro tema que foi muito abordado é a entrada do 5G, que poderá colocar a internet em outro patamar no cenário global. Diante desse movimento, grandes gestores citam uma mudança de paradigma no business global, com os dados de consumidores sendo grande ativo, além da mudança comportamental que vivenciamos.
Investimentos ambientais, sociais e de governança
O ESG (Environmental, Social, and Governance ou ambiental, social e de governança, na tradução do inglês) é uma preocupação demonstrada há anos - até décadas - nos EUA e nos demais países desenvolvidos em geral, mas pouco explorado no Brasil. Esses fatores são cada vez mais utilizados como critérios de análise, para além de questões econômico-financeiras. Na prática, a análise de um investimento inclui mais do que risco e retorno, a avaliação do impacto que ele causa na sociedade.
Os investimentos que levam em consideração fatores ESG se preocupam com mudanças climáticas, poluição e resíduo, relação da empresa com a comunidade, diversidade, a composição do conselho de administração. O próprio Howard Marks, gestor que detém mais US$ 100 bilhões em seus fundos, menciona que inclui o ESG em tudo que realiza, pois empresas que "fazem mal ao mundo" têm dificuldades em levantar capital.
O momento da bolsa de valores
Não há um consenso sobre o momento que atravessamos, mas em geral grande parte dos profissionais estão animados com o mercado de renda variável no curto prazo e por duas razões específicas que tenho comentado neste espaço semanalmente: injeção de recursos por parte dos bancos centrais muito acima de outras crises já vividas e taxas de juros próximas de zero (ou até negativas) em alguns casos, como na Europa.
Mesmo no Brasil, com a Selic perto de 2%, a busca por ativos com perspectiva de melhor rentabilidade é a bola da vez. O ambiente político mais conciliador, ao menos nas últimas semanas, também contribui para o ânimo atual.
China como possível nova potência global
Outro tema bastante discutidofoi a China, inclusive com gráficos apresentados por Ray Dalio, outro grande gestor de fundos global. Aliás, este também não é um tema que surgiu recentemente nas mesas de operações. A discussão que Donald Trump vem enfrentando em sua guerra comercial com os chineses tem um grande propósito e passa por esse rápido crescimento do país asiático.
O tema será sem dúvida um mote de sua campanha à reeleição, assim como foi o muro na fronteira com o México quatro anos atrás. Certamente ainda veremos muitos capítulos deste tema que trará volatilidade às bolsas pelo mundo, em função de novas barreiras de entrada que poderão ser criadas no comércio internacional.
Importância da diversificação da carteira de investimentos
Por fim e algo quase unânime foi o tema diversificação de carteira de investimentos. Como temos visto nova entrada de fluxo de pessoas no mercado de renda variável, todos os especialistas sugerem cautela e a não realização de aportes exclusivos em ações. Para tanto foi sugerido ter parcela do dinheiro em outros produtos de aplicações financeiras como renda fixa – sim, há boas oportunidades -, câmbio, ouro e até investimentos no exterior.
Interessante este último, pois com a possibilidade de negociação de BDRs (ou seja, recibos de ações de empresas americanas no Brasil) por parte do investidor pessoa física até o final do ano, abre-se uma janela de participação maior e com leque mais abrangente para os investimentos. No entanto, vale sempre ressaltar que, como cada indivíduo tem um perfil e objetivos diferentes, cabe a cada um realizar suas carteiras em termos percentuais por produto. Lembre-se, não há uma bala de prata ou uma regra fixa sobre quanto deverá ser investido.