Ao final desta segunda-feira, 06 de julho, o mercado brasileiro de ações fechou em forte alta de 2,24% e acumula alta superior a 4% em poucos dias no mês. Nas bolsas pelo mundo a mesma situação, com ânimo generalizado e apresentando altas consecutivas; algumas, inclusive, atingindo recordes de pontuação, como no caso da Nasdaq, bolsa onde são listadas empresas de tecnologia nos EUA. No entanto, o fator de grande preocupação de parte dos investidores considera que há um descolamento da realidade entre a euforia nos mercados e a situação econômica global.
Nos EUA, por exemplo, dezenas de companhias pediram recuperação judicial em meio ao desastre vivido na pandemia, além do percentual de desempregados, que permanece acima dos dois dígitos após ter ficado por meses em taxa próxima dos 4%. No Brasil, passamos por algo semelhante e os principais questionamentos que nos chegam têm relação à pandemia: qual e como será a recuperação econômica e se uma segunda onda afetaria os investimentos em geral.
Se começarmos pela preocupação na economia, ainda enxergo a retomada como uma interrogação. Se a volta será em forma de “U”, “V” ou até mesmo “W” só saberemos mais para frente, até porque, ao que tudo indica, em muitos lugares do mundo a primeira onda da Covid-19 nem acabou. Na Europa e até mesmo na China, voltamos a ver casos, o que traz preocupação, inclusive tornando novamente necessário o fechamento de parte dos estabelecimentos comerciais.
Por outro lado, um fato que chama a atenção é o aumento expressivo no número de casos do vírus, mas com a estabilidade nos óbitos. Acredita-se que isso se deve a alguns modelos de tratamento implementados ou até mesmo a uma redução na letalidade, segundo comentam especialistas. Enfim, nosso propósito aqui não é debater a doença em si, mas avaliar o impacto que ela pode trazer à cadeia produtiva e, por consequência, aos preços dos ativos.
Sendo assim, o que vemos até o presente momento é que mesmo diante de uma eventual segunda onda, os mercados estão “dando de ombros” e por algumas razões. Os principais bancos centrais do mundo, como dos EUA, de países da Europa, da Ásia e também aqui no Brasil, estão injetando uma quantidade de recursos nunca antes vista a fim de preservar as respectivas economias. Com este dinheiro disponível e com juros próximo de zero, os investidores estariam correndo para as bolsas de valores em busca de rentabilidade para seus investimentos.
Vamos, então, aos exemplos práticos, como o nosso. A B3 (Bolsa, Brasil, Balcão) tem reportado números crescentes de investidores pessoas físicas entrando no mercado de ações desde o início do ano, o que gera maior liquidez, ou seja, volume de negociação. Com a taxa Selic em 2,25% ao ano e perspectivas de novo corte na reunião do Copom em agosto, vemos também os fundos de investimento buscando acessar mais este veículo. Nos países desenvolvidos, ocorre a mesma coisa. Para os que desconhecem, a taxa de juros nos EUA atualmente é de uma banda entre 0 e 0,25% ao ano. Um ano atrás esse número era de 2,5%. Já na Europa, algumas taxas são negativas.
Dessa forma, vemos que a discussão aqui não está pautada em questões como: "está caro investir no mercado de ações?" ou "estamos em meio a uma bolha?". Fica evidente que não há saída em termos de aplicações financeiras. Obviamente há alternativas como empreender, investir na economia real. Mas em um momento cheio de incertezas, parece-me claro para onde o dinheiro está se deslocando, independentemente do momento e da gravidade do cenário de saúde e da economia global. Portanto, entre investir na expectativa, na realidade ou olhando o custo de oportunidade do momento, os investidores estão ficando com a terceira opção.
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