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Roberto Indech

Roberto Indech

Vozes

A demonização do day trade

Day trade

Ganhos, suor, trabalho devidamente realizado e gratificação – quando tudo está sob controle, claro. Eis um equilíbrio que não temos encontrado nos últimos artigos relacionados ao day trade, operações diárias realizadas no mercado de renda variável. Para caracterizar esse tipo de operação é necessário que o investidor compre e venda ativos no mesmo dia (ou vice-versa). Nesse caso, podemos afirmar que é possível utilizar ações, contratos de commodities, derivativos, opções e aqueles que mais têm crescido no mercado: os minicontratos de índice Bovespa e de dólar futuro.

Nesta última modalidade, temos visto um crescimento quase que exponencial ao longo dos 3 anos mais recentes, especialmente se considerarmos uma elevação no número de contratos negociados, próxima de oito vezes desde o início de 2016. Há outras modalidades operacionais no mercado de renda variável, mas o day trade dos minicontratos é o que mais tem gerado discussões e polêmica.

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Como o número significativo de novos investidores chama a atenção, estudiosos e agentes do mercado têm se manifestado de forma negativa em relação a este operacional. Na minha visão, fica clara a falta de conhecimento sobre o assunto e um dos pontos mais importantes é saber explicar o day trade. Sendo assim, é mais fácil demonizar aspectos pouco conhecidos pelo público em geral do que conversar com pessoas familiarizadas com o assunto, buscar entender como ele, de fato, funciona e o que os agentes têm produzido para informar os novos investidores.

Outro ponto de discussão é: se este é um mercado tão ineficiente, porque as instituições financeiras ou plataformas digitais de investimento trabalham fomentando a modalidade? Será que o tempo de vida de um cliente não é levado em conta? Só quem está envolvido nesse dia a dia pode responder categoricamente essas questões. Aos que julgam e constatam apenas resultados baseados em estatísticas, qual será a razão de afirmar que uma maioria é perdedora nesta modalidade? A seguir, elenco alguns pontos que devem ser considerados em relação à rotina dessa modalidade de investimento.

O day trade pode seduzir investidores pela promessa de ganhos rápidos e autonomia, o que de fato pode ocorrer; mas também é possível que o investidor perca o controle, ficando sujeito a déficits relevantes. Segundo estudos realizados por professores da Fundação Getúlio Vargas (FGV), entre as 20 mil pessoas que começaram a fazer day trade entre 2013 e 2015, 92% desistiram. Dos que persistiram, 91% tiveram prejuízos. E por que isso ocorre?

Quando de fato o investidor desconhece estratégias, controle de risco e objetivos, me parece evidente que isso possa ocorrer independentemente do tipo de investimento. Portanto, com o day trade não seria diferente. Ou não podemos comparar estes dados com estatísticas do IBGE do mesmo período, em que 80% das micro e pequenas empresas abertas no país desaparecem antes de completarem 1 ano? Ademais, em torno de 60% das empresas fecham com menos de 5 anos, período no qual deveriam estar ganhando sustentabilidade e escalabilidade. Indo mais além, e em outros segmentos, quantos por cento dos profissionais atuantes de fato obtêm sucesso em iguais períodos?

Se considerássemos o day trade como uma profissão (que poderia ser, em função de a atividade requerer disponibilidade de tempo e estratégia), podemos afirmar que é necessário estar preparado para que se obtenha sucesso. Infelizmente, muitos que iniciam desconhecem, inclusive, questões operacionais básicas. Nesse caso, tenho que tomar partido da classe e mencionar as cerca de duas ou três dezenas de salas online com analistas de instituições que se colocam à disposição para auxiliar tomadas de decisão. Com as taxas de corretagem tendendo a zero, como algumas plataformas digitais de investimento já implementaram, não há mais como afirmar que tenham interesses de geração de receita.

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Mais um destaque para os entrantes é a necessidade de utilizar simuladores para entender a parte técnica e acompanhar a velocidade do mercado. Ou seja, treinamento antes de execução para o mundo real pode ser um caminho. Implementar limites de perda e meta de ganho diário também devem fazer parte da estratégia. Como gostam de citar os grandes operadores do mercado, a parte técnica significa 5% a 10% e controle de risco, estratégia e disciplina os outros 90% a 95%. Portanto, as análises podem até mesmo ser parte pouco representativa no day trade; todas as descrições acima, além do controle emocional, são preponderantes.

Do lado das estratégias, há diversas que podem ser utilizadas. Dentre as mais usadas no dia a dia pelas pessoas físicas estão a análise técnica e o tape reading (leitura de fluxo). Importante salientar que análise técnica não foi criada para prever o futuro, mas, sim, para elencar padrões que aconteceram no passado e encontrar a melhor probabilidade de se ter sucesso no próximo movimento. São cálculos de probabilidade.

A conclusão: vencer no day trade é difícil, desafiador, mas perfeitamente possível. Dessa forma, gostaria de passar a mensagem de que estudos que apresentam resultados estatísticos são importantes, mas devem ser realizados com amostras em período de tempo que apresente a realidade de “um novo” business, bem como o trabalho que é realizado pelas instituições. Demonizar sem conhecer métodos utilizados não ajuda os interessados em entender o que há por trás dos números.

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