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Roberto Indech

Roberto Indech

Vozes

Devo tirar ou deixar meu dinheiro no FGTS?

Como foi amplamente informado na imprensa, a Caixa Econômica Federal inicia nesta sexta-feira o pagamento de até R$ 500 das contas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Em outubro começam as solicitações para o “saque aniversário”, quando poderão ser resgatadas partes dos recursos ano a ano. Em função disso, é importante desmistificar alguns pontos que ainda não estão claros sobre a utilização desses recursos: é melhor pagar contas? Ou investir? Não irei, aqui, entrar no mérito de consumir, pois se trata de uma decisão ou necessidade individual.

Sendo assim, o primeiro ponto a destacar é a taxa de juros (Selic) do Brasil que está em 6,0% ao ano e com perspectivas de chegar a 5,0% até o final de 2019. Este é o balizador mais importante de todos, dado que é utilizado como referência para investimentos e empréstimos no país. O próximo ponto a ser levado em consideração é se você tem dívidas a pagar e qual os juros sobre elas. Lembre-se de que os grandes bancos chegam a cobrar mais de 10% ao mês sobre o cheque especial além de outras tarifas abusivas como nas cobranças de cartão de crédito, por exemplo. Em um cálculo simples, para um investimento conservador, ou seja, de baixo risco, a rentabilidade anual fica próxima dos 6% ao ano, enquanto sua dívida pode “crescer” 10% ao mês, o que dá sinais claros que o pagamento desta última deve ser prioridade. Mais um indicador importante é a inflação medida pelo IPCA, que deve encerrar este ano próxima a 3,5%, segundo Boletim Focus do Banco Central divulgado semanalmente. Interessante notar que este será o 3º ano consecutivo que a inflação irá encerrar abaixo dos 4%, o que nos traz uma previsibilidade maior para a economia em geral.

Seguindo nos dados de rentabilidade anual, foi anunciado pelo Governo Federal que o lucro do FGTS iria para as contas do fundo e, dessa forma, 2018 encerrou com retorno de 6,18%, enquanto a poupança ficou em 4,7%. Portanto, no ano que passou, o retorno para os poupadores ficou abaixo até do FGTS, que acumulava histórico ruim de retorno. Se levarmos em conta os últimos 12 anos, ou seja, de 2007 até o final de 2018, o FGTS apresentou retorno acumulado de 64,1% ante 125,4% da poupança. Mas dado histórico é passado e com a mudança da distribuição do lucro para as contas do fundo, essa máxima parece ter mudado.

Outro comparativo a ser realizado é do retorno do fundo ante os títulos do Tesouro Direto. No mesmo período citado acima, enquanto o FGTS rendeu 64,1%, o Tesouro Selic apresentou retorno de 233,9%, número quase quatro vezes superior. Do ponto de vista financeiro, para os que tinham R$ 5 mil aplicado em cada uma das três modalidades, no Tesouro Selic o investidor teria obtido R$ 15.669,73 no fim de 2018, enquanto os demais apresentaram números bem inferiores (vide tabelas abaixo). Nestes mesmos 12 anos, infelizmente o FGTS apresentou retorno abaixo da inflação. Dados mostram que a rentabilidade da inflação ficou em 95,1% no mesmo período. Para tristeza de milhões de brasileiros, fica claro que o FGTS foi, apesar de obrigatório, um mau negócio dado que sua rentabilidade foi abaixo da inflação em todos os anos de 2007 a 2016. Já nos últimos dois anos foi diferente, assim como deve ser 2019.

Portanto, temos alguns pontos importantes para a decisão sobre planejamento financeiro:

  • (i) não leve em consideração – a partir daqui - apenas dados do passado, pois o futuro parece que será mais promissor para o FGTS (rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura),
  • (ii) sim, vale a pena o resgate para pagamento de dívidas se estas forem maiores que 6% ao ano e para diversas formas de investimentos, conservadoras ou não,
  • (iii) o retorno da poupança seguirá, ao menos até segunda ordem do Governo Federal, estabelecido por 70% da taxa Selic, o que não a posiciona como bom investimento, pois seguirá com baixo retorno e abaixo de outras aplicações conservadoras
  • (iv) você poderá resgatar os recursos e deixar alocado em títulos do Tesouro Selic ou em fundos de renda fixa com taxa de administração próxima de 0,5% ao ano para utilização destes como reserva de emergência e não “preso” como está atualmente no FGTS,
  • (v) pelo valor máximo a sacar no momento de R$ 500, este recurso poderá ir para a renda variável ou compra de ações se possui perfil agressivo e com objetivos de buscar algo mais ambicioso para o longo prazo.

Obviamente há outras circunstâncias, mas estas me parecem ser as mais razoáveis, ao menos, para nos tirar dessa zona de conforto acerca do conhecimento de qual decisão tomar.

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