Como o próprio título do artigo indica, pretendo apontar quais as melhores opções de investimento para o próximo ano. Para isso, porém, precisamos contextualizar o cenário atual no Brasil e exterior. Só com este entendimento será possível dar um direcionamento sobre onde investir e como aproveitar as oportunidades que devem surgir em 2019.
Há um ano existia um consenso no mercado de que em 2018 o Brasil iria finalmente superar a grave crise que assolou o País. Com a inflação controlada e a taxa de juros no menor patamar da história, esperava-se o início de um novo ciclo de crescimento econômico. No entanto, o cenário eleitoral e outros eventos extraordinários no Brasil e exterior tornaram essa recuperação mais lenta que o previsto.
1. O que aconteceu em 2018
O primeiro evento extraordinário veio dos Estados Unidos. O país entrou em 2018 com uma economia forte e fundamentos sólidos, aumentando a confiança da população e gerando um ambiente otimista. Diante deste cenário, porém, o Banco Central dos EUA alertou o mundo para o aumento da inflação e a possibilidade de uma futura recessão econômica. Como medida, o Fed começou a elevar gradualmente os juros. Apenas em 2018 foram três aumentos, com a taxa saindo de 1,5% ao ano para 2,25%, sendo que mais um aumento de 0,25% ainda é esperado para dezembro.
Em paralelo, os riscos geopolíticos e potenciais conflitos comerciais causados pelo presidente Donald Trump começaram a surgir de maneira mais evidente. O presidente se voltou para aquele que sempre foi um de seus temas favoritos: o déficit na balança comercial americana, protagonizado pela China. O medo de um conflito comercial em escala mundial, somado ao aumento gradual nas taxas de juros e uma economia em forte crescimento, levou a uma alta generalizada do dólar e das commodities, em especial o petróleo.
1.1. O cenário nacional
Para piorar, o cenário nacional não ajudava. Pelo contrário, atrapalhava ainda mais.
Em meio à disparada do dólar ante o real, o Banco Central surpreendeu o mercado financeiro e, em maio deste ano, decidiu interromper o ciclo de cortes de juros no Brasil, iniciado em outubro de 2016. O Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou a manutenção da Selic em 6,5% ao ano enquanto era esperado mais um corte de 0,25%, uma vez que a sinalização havia sido feita por dirigentes do BC.
Neste mesmo período foi iniciada a greve dos caminhoneiros, elevando ainda mais o pessimismo em relação ao futuro do país. Como o mercado repudia incertezas, vimos uma forte volatilidade alimentada também pelos desafios econômicos enfrentados por emergentes com Turquia e Argentina.
Em meio a esse contexto — e após a Copa do Mundo —, o foco no Brasil voltou-se imediatamente para as pesquisas eleitorais. As propagandas televisivas nem haviam começado, mas as incertezas cresciam a cada novo levantamento. No início, a expectativa era que os candidatos com maior tempo de TV avançassem na disputa, o que não se comprovou. O mercado passou então a apoiar Jair Bolsonaro, que tinha um perfil mais reformista na comparação outros candidatos na ponta da disputa. O favoritismo nas pesquisas foi confirmado nas urnas e Bolsonaro foi eleito com 57,8 milhões de votos, além de seu partido (PSL) também conquistar a segunda maior bancada da Câmara, mostrando a força de seu discurso e trazendo otimismo ao mercado.
2. Quais as expectativas para 2019
2.1. Brasil
Do ponto de vista econômico, a questão fiscal é a principal a ser solucionada no país. O Governo Federal gasta mais do que arrecada e seguindo o ritmo atual o estado não será capaz de honrar obrigações básicas em um futuro próximo. Ou seja, caso nenhuma medida para combater esse enorme problema avance, poderemos entrar em uma crise econômica e social.
Desta forma, a Reforma da Previdência é a prioridade número 1, 2 e 3 para o mercado. A preocupação decorre do fato de que o governo tem uma despesa excessiva com a previdência social e o número piora a cada ano com o envelhecimento da população.
A eleição de Jair Bolsonaro traz à tona a discussão de Reformas. Seu futuro ministro da economia, aquele que deverá ajustar as contas públicas e influenciar diretamente no crescimento do país, é Paulo Guedes, renomado economista liberal. Com carta branca do próximo presidente, o futuro ministro acredita que o estado deve ter menor participação nas decisões econômicas e empresariais, o que abre condições para uma agenda de desburocratização, privatizações e concessões.
2.2. Exterior
O cenário internacional já não se encontra tão benéfico para os países emergentes. Estamos observando um aperto monetário por parte do Banco Central dos EUA e a Europa deve seguir o mesmo caminho. Ou seja, os principais países desenvolvidos estão elevando os juros e a falta de liquidez nos mercados globais deve acelerar os questionamentos de crescimento e, como consequência disso, a volatilidade nas bolsas. Além disso, vemos as duas maiores potências mundiais em uma briga comercial que, ao que tudo indica, deve se estender para os próximos anos e impactar no crescimento global. Hoje, essa é a maior preocupação no cenário internacional.
Após o forte crescimento chinês dos últimos anos, a guerra comercial travada pelo presidente Trump traz preocupações aos investidores e para as autoridades chinesas, que vêm prometendo oferecer maior ajuda a pequenas empresas do setor privado. Em seu relatório trimestral sobre política monetária, o Banco Central da China (PBoC) sugeriu que estaria disposto a adotar fortes medidas de estímulos, se necessário.
2.3. Commodities
A discussão também se estende ao segmento de commodities, uma vez que a expansão da economia global também provoca um aumento na demanda por minério, petróleo e bens agrícolas. No entanto, não acreditamos que o preço das commodities deva mudar fortemente de patamar.
Com relação ao petróleo, acreditamos que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) continuará controlando a sua oferta global. Além disso, vemos uma situação desafiadora na Venezuela e Irã, grandes exportadores do produto.
Já o minério de ferro dificilmente tem ficado abaixo de US$ 65. Especialistas afirmam que para ficar abaixo deste valor, o minério de baixa qualidade deveria custar cerca de US$ 40, tirando do mercado uma quantidade importante de empresas necessárias para continuar suprindo a demanda. Dessa maneira, caso o preço recue, menos empresas explorariam o minério, elevando o seu preço ao patamar anterior.
No que se refere às commodities, é importante monitorar as duas maiores potências do mundo. Como parte das empresas brasileiras possuem exposição relevante ao preço das commodities, uma desaceleração no setor também traria consequências por aqui.
3. Melhores investimentos para 2019
Estamos otimistas com o Brasil, embora o atual cenário seja extremamente delicado. As eleições se passaram e as incertezas sobre quem assumiria o cargo de presidente também. Sendo assim, acreditamos que haverá comprometimento com os ajustes necessários. Ainda que não tenha sido possível aprovar a reforma da previdência em 2018, o esforço que o próximo governo tem feito já repercute positivamente. Em nossa visão, acreditamos que a medida será aprovada no segundo semestre de 2019, o que traria confiança aos agentes financeiros, empresários e consumidores.
Como o mercado costuma incorporar as expectativas com antecedência, temos uma perspectiva otimista para o mercado de ações no médio e curto prazo, abrindo assim uma janela de oportunidade. Ao mesmo tempo, é preciso ter atenção ao cenário externo e seus desdobramentos.
A alocação em Fundos de Ações e Multimercados com uma parcela alocada em ações deverão estar entre nossas principais indicações para o próximo ano, assim como a alocação em ativos de Renda Fixa menos conservadores.
3.1. Recomendação
Para investidores que desejam se arriscar mais em busca de maiores retornos, sugerimos que uma parcela seja alocada em investimentos de renda variável, como ações ou fundo de ações.
Vemos com bons olhos as empresas que possuem gestão eficiente e receitas ligadas ao mercado local dentro dos setores varejista, financeiro e de energia elétrica, tais como Localiza, Itaú Unibanco, B3 e Equatorial, respectivamente. Também não descartamos estatais como Petrobras e Banco do Brasil, já que as empresas podem se beneficiar de um governo menos intervencionista e já apresentam evolução trimestre a trimestre nos principais indicadores de rentabilidade. Dentro de uma carteira balanceada, não poderíamos deixar de colocar empresas de qualidade e com receitas dolarizadas, tais como Gerdau e Suzano.
Caso o perfil seja moderado, sugerimos Fundos Multimercados, uma vez que os riscos são diluídos com a aplicação de recursos em ações, commodities, moedas, ativos de renda fixa, entre outros.
Já para os investimentos em ativos de Renda Fixa menos conservadores, sugerimos Debêntures Incentivadas, Certificados de Recebíveis Imobiliário (CRI) e Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA). Investimentos isentos de Imposto de Renda, que permitam um ganho real (já descontado a inflação) de 5% a 6% tornam-se atrativos, uma vez que o mercado projeta a taxa de juros próximo ao nível atual por um período mais longo. Fique atento a possibilidade de novas emissões em 2019 em função da retomada da confiança dos empresários já visando a captação de recursos para expansão dos negócios a longo prazo.
3.2. Mas por que o otimismo?
Passada a reforma da previdência, o Brasil deverá atrair grande fluxo de capital estrangeiro, seja via capital especulativo ou por meio de investimento estrangeiro direto (utilizado para o investimento produtivo ou mesmo para fusões/aquisições).
Além disso, em paralelo ao movimento pró-reformas, temos a perspectiva de que a inflação siga controlada, taxa de juros mantida em patamares historicamente baixos e empresas estatais mais eficientes. Sendo assim, a retomada da confiança será traduzida em crescimento econômico.
Diante de melhores perspectivas econômicas e um clima mais estável e previsível, acreditamos que novas empresas deverão abrir capital na Bolsa (IPO) ou mesmo ampliar a sua participação no mercado de capitais, abrindo espaço para novas ofertas públicas, tais como Debêntures, CRI/CRA, dentre outros.
Contudo, não devemos recomendar toda e qualquer nova emissão. Precisamos acompanhar as empresas e as taxas de rentabilidade dos investimentos com bastante cautela e cuidado.
3.3. E os riscos de dar errado?
Caso as reformas não avancem de forma consistente no Congresso Nacional, vemos espaço para o agravamento da crise econômica e política. Tal ambiente local viria em conjunto com um cenário internacional que já não se encontra tão benéfico para países emergentes diante da elevação da taxa de juros nos EUA e acordos comercias sendo renegociados. A falta de liquidez nos mercados globais deve acelerar os questionamentos de crescimento e, como consequência disso, a volatilidade nas bolsas.
Não menosprezamos o risco da elevação dos juros na maior economia do mundo, assim como o risco de uma desaceleração maior do crescimento mundial. Por essa razão uma das recomendações estaria direcionada para fundos multimercado, uma vez que eles poderiam se aproveitar desse movimento.