| Foto: Michael Nagle/Bloomberg

Conforme comentei no texto da semana passada, neste momento nos aproximamos daquele timing de mercado em que há uma série de previsões e perspectivas para o ano que entra. Eu não seria diferente dos demais e também acho importante fazer esse tipo de reflexão. Como o mundo dos investimentos é parte do meu dia a dia, sinto-me na obrigação de escrever sobre situações possíveis, de acordo com o cenário econômico esperado. Não posso me furtar de trazer informações sobre praticamente todos os segmentos, como mercado de ações, renda fixa, fundos imobiliários e fundos de investimento. Dessa forma, também considero necessário separar o joio do trigo e neste artigo vou me ater ao segmento de renda variável.

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Dadas as expectativas econômicas para 2020 (que preveem um cenário desafiador diante da desaceleração global decorrente da guerra comercial, em especial entre EUA e China), o que já vimos e deveremos continuar a assistir é um mundo mais protecionista - o que, sem dúvida, terá consequências diretas nos resultados do comércio mundial. Como principal fator de risco, além deste, está a eleição norte-americana para a presidência, cujos desdobramentos ainda são imprevisíveis e poderão impactar o Brasil.

Já no cenário doméstico, teremos um ano de eleições municipais pelo país, o que diminui o tempo disponível para discussões relevantes no Congresso Nacional. Por outro lado, há a perspectiva de continuidade da melhora na economia nacional, com possibilidades de crescer cerca de 2,3% em 2020 - um número muito acima do observado nos últimos anos.

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Sendo assim, o Brasil ganha tração, ainda mais se considerarmos uma inflação controlada abaixo da meta, que é de 4%, e com taxa de juros podendo sofrer mais um ou dois cortes de 0,25 p.p., caminhando assim para algo antes inimaginável: Selic em 4% ao ano. Neste quadro, há ainda perspectivas de o segmento de crédito reagir aos cortes consecutivos da taxa de juros e de as concessões de infraestrutura ganharem mais projeção após um bom 2019, o que estimularia novos investimentos no país. Também de olho nesse resultado é possível sonhar com mais sinais positivos vindos das agências de risco, que recentemente fizeram revisões da situação do país.

Feita a leitura de cenário e das suas expectativas (numa análise chamada top-down, onde começamos pela conjuntura mais ampla, passando a fechar a avaliação, indo, então, para cada setor e assim por diante), chegamos ao mercado de ações. E aqui surge o principal questionamento: com a alta do Ibovespa de quase 30% até aqui em 2019 e de 150% nos últimos 4 anos, será que ainda tem espaço para novas altas? Na minha visão, sim, mas é necessário olhar caso a caso.

Diante de um cenário global mais desafiador, como o colocado acima, e de perspectivas mais positivas para a economia nacional, a recomendação é olhar com mais carinho para ações que podem se privilegiar deste momento do Brasil. Empresas ligadas ao segmento de varejo, consumo (como shopping centers) podem ser boas indicações neste cenário. Em retrospecto, como colocado há um ano, empresas ligadas ao governo brasileiro eram destaque e, de fato, apresentaram ótimos retornos (como Eletrobras e Petrobras, que registraram performances próximas de 40% no ano). Agora, estamos em outro momento e isso não quer dizer que essas companhias estejam descartadas, mas os olhos do mercado passaram a se voltar para outros setores.

Teremos ruídos no curto prazo que podem impactar diretamente nos preços das ações, mas se forem com objetivos definidos e disciplina, a tendência é de se obter bons resultados. Sempre teremos boas oportunidades na bolsa de valores, independentemente do momento, mas elas dependem de uma leitura correta, para que os riscos sejam minimizados e os ganhos, maximizados.