Considero a tradicional e popular poupança a pior aplicação financeira do país. Em termos de produtos financeiros, ainda há outros que conseguem ter retorno mais baixo, mas prefiro concentrar esta análise em aplicações financeiras em vez de colocar todo o segmento em uma mesma cesta.
De acordo com a legislação atual, em vigor desde maio de 2012, a remuneração dos depósitos da poupança é composta de duas parcelas: (I) a remuneração básica, dada pela Taxa Referencial (TR), e (II) a remuneração adicional, correspondente a: 0,5% ao mês, enquanto a taxa Selic estiver superior a 8,5% ou 70% da taxa Selic ao ano, mensalizada, vigente na data de início do período de rendimento, enquanto os juros estiverem iguais ou inferiores a 8,5%. Como a Selic atual está em 6,5% ao ano, o retorno mensal tem sido de 0,37% desde o início de 2019. Para os que possuem recursos de antes da Medida Provisória de 2012, a rentabilidade continua a ser de 0,5% ao mês somada a TR, o que tem dado 6,17% ao ano.
Para que a rentabilidade seja efetivada, é necessário aguardar o chamado “mêsversário”, em que a data de aniversário da conta de depósito de poupança é o dia do mês de sua abertura. Considera-se a data de aniversário das contas abertas nos dias 29, 30 e 31 como o dia 1° do mês seguinte. Neste caso - em que vejo diversas comparações com Títulos do Tesouro Direto, por exemplo, em termos de retorno para um investidor - esta característica não é citada, possivelmente por desconhecimento ou esquecimento.
Como vantagens, que já não podem ser consideradas um diferencial neste mundo dos investimentos, podemos citar a liquidez diária (desconsiderando aqui o item citado acima), a facilidade na aplicação e o Fundo Garantidor de Créditos (FGC). Gosto de ressaltar que os riscos da poupança realmente são baixos, mas existem. Afinal, não podemos nos esquecer do fatídico confisco realizado no governo Collor, no início da década de 90. Portanto, todo e qualquer investimento tem risco, alguns menores e outros mais elevados.
Comparativo histórico de rentabilidade
Se levarmos em conta a rentabilidade dessa modalidade nos últimos 20 anos, ou seja, de 1999 até meados de 2019, o retorno da poupança ficou em 338%, segundo dados da Economatica. Ajustando-se esse dado por inflação, ou seja, o ganho real que o investidor teria no período, seria de “míseros” 33,4% em 20 anos. Neste mesmo período, o retorno daqueles que realizaram aplicações financeiras a 100% do CDI ficou em 1.000,2%, que ajustado pelo IPCA ficou em 235,2%. Isso mostra a real diferença de realizar bons investimentos a longo prazo. Vale ressaltar que estamos falando de aplicações populares e, portanto, conhecidas pelo público em geral.
Fazendo outra simulação, agora em um prazo mais curto de tempo, 5 anos, o CDI acumulado no período apresentou retorno de 56%, enquanto na poupança foi de 37,7%. Outro ponto de atenção é que, em momentos de inflação elevada, como tivemos no país em 2015, a rentabilidade dos poupadores ficou abaixo da inflação, ou seja, estes viram seu poder de compra minguar no período.
Simulação de retorno futuro
Em uma simulação detalhada entre poupança e tesouro Selic que visa projetar o retorno futuro, levei em consideração o título atual disponível, cujo vencimento se dá em março de 2025, uma taxa de juros no período de 6% ao ano e sem custo de corretagem para investimentos nos títulos do Tesouro. O valor inicial aplicado foi simulado em R$ 10 mil. No momento do resgate, em quase 6 anos e considerando os termos citados, o Tesouro Selic terá valor bruto de resgate de R$13.819 ou 5,92% de rentabilidade bruta ao ano, enquanto a poupança oferecerá R$12.582, ou retorno de 4,16% anual. Como não há Imposto de Renda sobre as aplicações nesta última opção, a rentabilidade líquida também é mesma citada. Já no caso do Tesouro Selic, o retorno líquido seria de 4,85% ao ano, dado que há 15% de IR sobre os ganhos auferidos no período.
Se pegarmos como exemplo o mesmo título, considerando a possibilidade de resgate diário, e realizarmos uma simulação em uma aplicação de 3 meses, com o mesmo valor inicial, mas modificando a perspectiva da taxa de juros para 6,25%, teremos ainda um retorno superior ao do Tesouro Selic, com o valor do resgate líquido ficando em R$10.112, enquanto na poupança, ficaria em R$10.072.
Para essas simulações foram utilizados dados do Tesouro Nacional.
Perspectivas
Em 2019, segundo dados do Banco Central, a poupança acumula resgate líquido de R$ 14,5 bilhões. E o que isso quer dizer? Não podemos afirmar categoricamente nada sobre esse volume, mas há grandes chances de ele ser composto por pessoas que retiraram seus recursos da caderneta para quitar dívidas ou para utilizar no dia a dia (dado o momento ruim da economia do país) ou por pessoas que resgataram para realizar aplicações financeiras mais vantajosas, já pensando no futuro financeiro tanto no curto quanto no longo prazo. Infelizmente, ainda há mais de R$ 800 bilhões aplicados na poupança, mas acredito que com o baixo retorno e o aprendizado sobre educação financeira, além da conscientização da população sobre o tema, a tendência é vermos esse número cada vez menor. Pelo menos essa é a minha expectativa.