Gados em área rural ao lado do Cânion Guartelá, ponto turístico na região dos campos gerais. Foto: Daniel Castellano / Gazeta do Povo / Arquivo| Foto:

A discussão em torno da reforma da Previdência voltou a ganhar força com o fim das eleições e a definição do novo governo. A relevância do tema também tem levado muitos brasileiros a fazerem uma autoanálise relativa a suas decisões de consumo e hábitos de poupança. Esse é um movimento importante e que mostra o início de um amadurecimento financeiro por parte da população, que agora demanda conteúdo sobre como planejar a sua aposentadoria.

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Basta uma rápida busca na internet para encontrar diversos artigos sobre o tema — principalmente no exterior —, com grande parte dos textos relatando histórias e métodos de pessoas que se aposentaram de forma precoce. É bem verdade que muitos dos hábitos sugeridos nos artigos podem ser aplicados para pessoas do mundo todo. No entanto, é preciso levar em consideração que a dinâmica de vida no Brasil é bastante distinta da de países desenvolvidos como EUA, Inglaterra, Alemanha, entre outros.

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Outro ponto significativo é a mudança na prosperidade e na história econômica de cada nação. Enquanto muitos países de primeiro mundo tiveram taxa de juros próximas a 2% nas últimas décadas, o Brasil chegou a alcançar um pico de 14,25% ao ano. A inflação é outra variável econômica que também impacta este planejamento. Nos últimos 20 anos, o principal indicador de inflação do Brasil, o IPCA, teve piso de 2,9% em 2017 e pico em 12,5%, em 2002. Neste período, tivemos inflação acima da meta do Banco Central por diversas vezes, elevando o custo de vida da população.

Coloco como exemplo os planos de saúde. De acordo com o site da Agencia Nacional de Saúde Suplementar (ANS), entre os anos de 2015 e 2018 o Índice de reajuste anual autorizado para planos de saúde individuais ou familiares contratados no período ficou em dois dígitos ao ano, mais especificamente acima de 13% durante três anos consecutivos, mesmo com o IPCA de 2017 abaixo de 3%.

A instabilidade nos indicadores reforça ainda mais a importância de adotar práticas financeiras saudáveis para planejar a aposentadoria. O hábito de poupar é importante, mas é preciso haver equilíbrio. Quando realizo algumas leituras, me deparo com especialistas que sugerem economizar no cafezinho diário, morar com os pais, abrir mão do carro e ter uma vida social mais restrita para atingir os seus objetivos. Não me parece algo razoável. É claro que excessos financeiros devem ser corrigidos, mas é preciso levar a qualidade de vida em consideração na hora de se planejar.

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De minha parte, acredito que há formas mais eficazes de se alcançar a independência financeira. Para começar, é fundamental estipular uma porcentagem da renda mensal que será destinada para o objetivo. Sugiro um número próximo de 5%. Com juros compostos e histórico de patamar elevado da taxa de juros no Brasil, o dinheiro trabalhará ao seu favor com o tempo.

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Um aspecto para fazer essa conta é: qual padrão de vida você quer levar? Quanto vai querer gastar ao mês? Se fizermos um cálculo da renda de um indivíduo da classe média no país, é possível estimarmos algo em torno de R$5 mil mensais. Segundo uma regra frequentemente utilizada para o cálculo deste planejamento, seria necessário economizar 20 ou 25 vezes a despesa anual, que neste caso é equivalente a R$60 mil. Ou seja, o montante destinado para aposentaria será de R$1,5 milhão. Se levarmos em consideração que este valor continuaria aplicado ao longo do tempo, é possível manter o padrão de vida apenas com os juros obtidos.

Façamos aqui, então, uma conta com os parâmetros atuais do Tesouro IPCA com vencimento em 2035 e inflação média anual de 5% para atingir este objetivo. Com um aporte inicial de R$30 mil, e aplicações mensais de R$2,8 mil, chegaremos ao valor final. Vale ressaltar que a disciplina de realizar aportes recorrentes é fundamental para alcançar o objetivo daqui 17 anos. É claro que realizar investimentos em fundos de previdência com perfil mais arrojado, por exemplo, pode encurtar este tempo em função de sua gestão ativa, com o gestor buscando oportunidades a todo momento. Dependendo o seu perfil de investidor, pode ser uma possibilidade.

De qualquer forma, é preciso de foco e disciplina se você deseja se aposentar perto dos 40 ou 50 anos de idade. Quanto antes começar a realizar as suas aplicações mensais, mais cedo poderá pensar em “pendurar as chuteiras”.