Falar de retrospectiva no mercado financeiro em 2020 está muito mais simples do que nos anos anteriores. À primeira vista muitos diriam o contrário, mas já vou explanar o porquê deste meu viés: quando se fala em fazer uma leitura deste ano, vem à mente apenas um tema - e todas as consequências que derivaram dele. A Covid-19 esteve no centro das atenções.
Em janeiro e grande parte de fevereiro praticamente vivemos em um período de lateralizarão na bolsa, ou seja, com o mercado oscilando entre pequenas altas e baixas apesar do ganho de escala do vírus vindo da China e já atingindo parte do Ocidente. Ao final do carnaval no Brasil, no final de fevereiro, é que começamos a grande novela da vida que vivemos até hoje. Em poucos dias (ou mais especificamente em quatro semanas) vimos o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, sair de mais de 113 mil pontos para a mínima em 61.690 pontos, o que nos trouxe uma queda de 45,7% no período.
Em março tivemos uma queda fortíssima de 29,9% no mercado nacional. Quem não se lembra da baixa de 25% das ações da Petrobras num único dia, ou do preço do barril do petróleo negociando a preços negativos, com a oferta maior que a demanda? Indo mais além, quem não se recorda da quantidade de circuit breakers em 2020, mecanismo que é acionado quando os negócios na bolsa são paralisados no momento em que o índice recua 10%?
De fato, este foi um ano em que o mercado de renda variável proporcionou muitos aprendizados, assim como algumas oportunidades. Certamente esse período promoveu um ganho de conhecimento e experiência que servirá para a tomada de decisões nos próximos anos ou até mesmo na necessidade da diversificação de uma carteira de investimentos.
Diante de todo o cenário, vimos a taxa de juros (a Selic) cair ao menor patamar da história, em 2% ao ano. Assim como vimos a inflação medida pelo IPCA registrar dois meses consecutivos de deflação e finalizar muito acima do esperado pelo caos econômico vivido. E quem diria que o outro indicador de inflação mais utilizado no país, o IGP-M, poderia fechar em quase 25%?
Chamou muito a atenção também o comportamento do câmbio, que praticamente encostou nos R$ 6,00 no início de maio e deve encerrar 2020 mais próximo dos R$5,00! O que passamos, definitivamente, foi algo raríssimo, com muitas dificuldades que provavelmente nossa geração não esperaria. Quem diria também que veríamos uma eleição para presidente dos EUA ser um tema praticamente secundário, destacado apenas nas duas semanas anteriores à votação e em algumas subsequentes, pela demora na divulgação dos resultados.
Chegaremos em 2021 ainda com dúvidas sobre a efetividade da vacina e alguns pontos de interrogação sobre o prazo de imunização, bem como se ela será o bastante para conter uma segunda onda do novo coronavírus que temos visualizado na Europa. Agora, falando especificamente de oportunidades de investimentos, 2020 teve fortes movimentos no mercado de ações com as empresas de varejo online em poucos meses, assim como vimos a recuperação mais rápida da história da bolsa após movimento intenso de venda. A onda de empresas que abriram capital no ano também foi relevante, especialmente se considerarmos as condições. No mercado de renda fixa, vimos até cota negativa do Tesouro Selic, o que não ocorria desde 2002.
Eu esqueci de algo aqui? Provavelmente sim, mas as distorções foram tantas que o importante de tudo foi de fato o aprendizado e a experiência. Na minha visão, o que fica claro a partir daqui é que teremos uma cultura mais forte de e-commerce, operações bancárias realizadas de forma online e aceleração cada vez mais rápida da tecnologia. Sem dúvida será dada atenção especial a esse tema.
Fecho minha retrospectiva olhando o lado humano, não apenas da Covid-19, mas de todas as outras doenças e consequência deste vírus, mas com a certeza de que dias melhores virão.
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