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Roberto Motta

Roberto Motta

Política

Desejo de jagunços

Jagunços de Conceição de Coité, Bahia, em 1922 (Foto: Wikimedia Commons)

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O governo é um grupo político que ocupa temporariamente o comando do poder Executivo, um dos três poderes de uma república.

Essa é a definição precisa de “governo”. O governo não manda nos outros dois poderes republicanos, o Legislativo e o Judiciário. Principalmente, um governo não é dono do país que governa.

Não cabe aos políticos do governo determinar o que os cidadãos podem ou não podem fazer, dizer ou possuir. Em uma república democrática, isso só pode ser feito através de leis aprovadas por um Congresso regularmente eleito pelo povo. Se, em algum momento, esse princípio da legalidade for violado, o recurso é o Judiciário.

Até as leis não podem violar os direitos considerados como fundamentais, ou seja, direitos que são inerentes à nossa condição humana, que acreditamos que recebemos de nosso Criador. Alguns desses direitos são o direito à vida, o direito à liberdade e o direito à propriedade.

Qualquer lei que viole esses direitos é ilegítima.

Os políticos que ocupam o governo podem ser mal-informados, ressentidos ou subservientes a ideologias tóxicas, mas não têm o direito de impor suas crenças aos cidadãos. É evidente que o despreparo e a servidão ideológica dos políticos influenciam seus atos e as políticas públicas que eles propõem. Mas nenhum político tem o direito de transformar o Estado em uma máquina de doutrinação em massa.

Qualquer política que tente fazer isso é ilegítima.

O político eleito para chefiar o Executivo e presidir o país tem duas missões principais. A primeira é atuar como chefe da máquina administrativa do Estado. A segunda é representar o país diante das outras nações.

Os poderes envolvidos nessas missões estão claramente definidos em lei.

O atual sistema democrático ocidental permite a ascensão de políticos cujo nível intelectual e moral se encontra abaixo da média da sociedade

Qualquer ato que extrapole esses poderes – por exemplo, apoiar ou financiar regimes estrangeiros que violam direitos fundamentais - é ilegítimo.

O político que preside o país não é o tutor de todos os brasileiros, nem senhor das vontades individuais, nem proprietário de todas as riquezas e nem mesmo a melhor fonte de crenças, ideias e comportamentos.

Ele foi eleito para ser presidente, e não painho.

Ele é um servidor público temporário, que deve tanta obediência às leis quanto o mais humilde cidadão.

Mas o atual sistema democrático ocidental baseado no voto universal, associado ao populismo do “estado de bem-estar social”, repleto de ofertas de “benefícios” e ao extremismo ressentido do ativismo progressista, frequentemente, permite a ascensão de políticos cujo nível intelectual e moral se encontra abaixo da média da sociedade.

Pessoas sem noções fundamentais de administração, economia, moral ou mesmo lógica são colocadas em posições de grande poder, onde podem causar enorme estrago – muitas vezes permanente - à nação e às vidas dos cidadãos.

Esse, infelizmente, tem sido um fenômeno comum até nas nações mais avançadas, e explica a degeneração financeira e a tensão social cada vez mais presentes nas principais democracias. Esses políticos despreparados têm ainda o poder supremo de nomear outros nas mesmas condições para posições poderosíssimas, não eleitas, nas quais eles ficarão por décadas, distorcendo instituições e construindo um ecossistema especializado em auferir vantagens e impedir mudanças, usando a força se necessário. É daí que brota o desejo de jagunços.

Esse mecanismo se fortalece até o ponto em que não faz mais diferença alguma quem vence as eleições. O destino do país é determinado por um estamento formado por burocratas autoritários sem um único voto e que têm, entre outros superpoderes, o de fazer e interpretar as próprias regras do processo “democrático”.

A consequência final é a degeneração da vida pública e a transformação dos Estados ocidentais – inclusive os que foram o berço da liberdade moderna - em gigantescas máquinas de apropriação de riqueza e opressão política.

É isso, em resumo, o que se pode ver hoje da Austrália ao Canadá, passando por toda a América.

Enquanto isso, os inimigos do Ocidente se preparam e esperam.

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