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Roberto Motta

Roberto Motta

Não existe “dez vezes sem juros”

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Imagem ilustrativa. (Foto: Pixabay)

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Em um tuíte dessa semana um amigo desmistificou a percepção, amplamente divulgada e tomada como verdade, de que uma compra pode ser parcelada em “dez vezes sem juros”.

Meu amigo apontou o óbvio. Quando um comerciante permite que você pague por uma compra em dez prestações, ele assume diversos custos que precisam ser recuperados de alguma forma. Por exemplo, é evidente que ele precisou de dinheiro para comprar a mercadoria que revendeu a você. Até que você termine de pagar as prestações o comerciante fica sem aquele dinheiro, que ele poderia ter investido, rendendo juros. Pode ser até que o comerciante tenha tomado dinheiro emprestado em um banco para comprar o produto. E tomar dinheiro emprestado no Brasil custa caro.

Então, para que o comerciante não vá à falência, ele necessariamente tem que recuperar esses custos através do tal parcelamento “sem juros”. É óbvio que a única alternativa é embutir os custos no preço do produto.

Um país que acha vantajoso pagar à vista por uma mercadoria o mesmo preço pago em um parcelamento em dez vezes é um país totalmente manipulável.

Mas o Brasil é um país complicado. Logo que meu amigo postou seu texto, um especialista em finanças pessoais o criticou, dizendo que “como os preços à vista e parcelado são iguais, na verdade não existem juros embutidos”.

Basta um momento de reflexão para concluir que a realidade é justamente o oposto. Se o comerciante coloca em uma mercadoria vendida à vista um preço igual ao da venda em dez prestações, o que o comerciante fez foi calcular os juros e adicioná-los ao preço da mercadoria, independentemente de como você paga por ela.

Explicando devagar: o comerciante calcula quanto custaria para ele vender aquela mercadoria em dez prestações. Esses custos adicionais – custos administrativos, contábeis, financeiros e tributários – são embutidos no preço da mercadoria. Você paga esses custos mesmo que esteja comprando a mercadoria à vista.

Ficam evidentes duas coisas. Primeiro, é lógico que, em uma situação como essa, é muito mais vantajoso comprar a mercadoria pagando em dez vezes já que, de qualquer forma, você vai pagar os custos do parcelamento.

O segundo aspecto da questão é menos óbvio: a prática de incluir o custo do parcelamento no preço das mercadorias, independente da forma pela qual elas são pagas, significa que as mercadorias subiram de preço. É evidente o prejuízo para o consumidor.

Aquele cidadão que economizou e agora consegue comprar a mercadoria à vista deveria pagar um preço menor do que o consumidor que vai dividir o pagamento em dez vezes. Se isso não está acontecendo – se as pessoas estão, alegremente, pagando por uma mercadoria à vista o mesmo preço que pagam pela mesma mercadoria parcelada em dez vezes – isso significa que, em vez de usufruir de uma grande vantagem, na verdade, os consumidores estão sendo lesados.

O aprendizado de matemática financeira é uma habilidade essencial para a conquista uma vida próspera e segura. Esse exemplo demonstra o porquê.

Um país que acha vantajoso pagar à vista por uma mercadoria o mesmo preço pago em um parcelamento em dez vezes é um país totalmente manipulável por mercadores inescrupulosos e governantes picaretas.

No Brasil há um enorme estoque dessas duas coisas.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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