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Roberto Motta

Roberto Motta

Futuro

O Fator X e as três alternativas para o Brasil

(Foto: Pedro Kauan Amorim Lima/Pixabay)

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Precisamos falar do futuro do Brasil. Niels Bohr, ganhador do Prêmio Nobel de física e criador do modelo do átomo observou certa vez que fazer previsões é muito difícil, “especialmente sobre o futuro”. O ex-ministro da fazenda Pedro Malan já explicou que, no Brasil, análises do passado também são um desafio. Aqui no Brasil futuro e passado são elásticos, maleáveis, reconstruídos a todo o momento em função de um presente incerto, volátil e perigoso. Ainda assim, é preciso falar do futuro.

Vamos imaginá-lo na forma de três cenários. São três alternativas para a situação nacional nos próximos anos. O futuro real estará em algum lugar entre esses exercícios de simplificação.

A sensação de novidade das notícias desaparece à medida que conhecemos melhor nossa história. O conhecimento nos traz esperança, mas também ceticismo e tristeza. Não há nada de novo sob o sol

Primeiro, imaginemos um cenário positivo, ao qual daremos o nome de Caminhada Para a Luz. Nessa alternativa de futuro, o Brasil retoma o que chamamos de normalidade. Esse estado normal vem sendo substituído, nos últimos anos por insegurança jurídica e institucional ilimitada. A origem dessa insegurança é algo que chamaremos, para os propósitos desse artigo, de Fator X. Todos sabem do que estamos falando.

No cenário positivo, de alguma forma e por razões que não importam agora, o Fator X retorna a sua caixinha. Erros não são mais cometidos e erros anteriores são reparados e compensados. As regras do Estado de Direito e da República voltam a vigorar em (sempre relativa) plenitude, permitindo o funcionamento da forma fraca de livre iniciativa que sempre caracterizou a economia brasileira. Isso é suficiente para o retorno de uma modesta prosperidade. O ano de 2026 produz uma medida de renovação da política e, porque somos brasileiros e nunca desistimos, retomamos a esperança de que nossos filhos tenham uma vida melhor que a nossa. Esse foi o cenário positivo.

O segundo cenário para o futuro do Brasil que consideraremos é o neutro – nem pior e nem melhor do que vivemos hoje. Vamos chamá-lo de Me Engana Que Eu Gosto. O país continua, aos tropeços, seguindo a trajetória iniciada em 2019. O Fator X continua se impondo como uma força dominante no Direito, na política, na mídia, na economia, no combate (ou não) ao crime, na resolução e criação de disputas, na alocação de receitas e autorização de despesas e na definição de crenças, preferências estéticas, hábitos farmacêuticos, inquietações ecológicas e até performances musicais.

O país continua envolto em um nevoeiro de incerteza jurídica e avança a subordinação do Estado às idiossincrasias, fobias e obsessões de um grupo de ungidos (para usar a expressão favorita de Thomas Sowell). Nesse cenário não podemos esperar nem mais nem menos do que aquilo que temos vivido nos últimos anos. O país, com a respiração ofegante, resigna-se a uma trajetória de perdas cumulativas e constantes em troca de futebol, carnaval e bets. Pelo menos nesse futuro não há nenhuma súbita tragédia nos esperando.

A tragédia está no último cenário – aquele que batizaremos de Estado Novo de Direito. Nesse futuro alternativo, tudo de errado aconteceu. As instituições foram absorvidas pelo Fator X, inclusive política, leis, justiça, propriedades e o próprio conceito de direitos individuais. A economia colapsou. O dólar ultrapassou R$ 10, as remessas ao exterior foram proibidas e a posse de moeda estrangeira foi criminalizada e passou a ser investigada pela Polícia Ostensiva Bolivariana, formada pela união das antigas polícias estaduais. A letalidade policial finalmente foi reduzida a zero com o novo Código Penal Popular Democrático, que descriminalizou as condutas violentas – como assalto, sequestro, tráfico e homicídio – e consolidou a criminalização de fake news.

Infelizmente, a hiperinflação tornou necessária nova mudança da moeda: o real foi substituído pelo supremo real, que vale um milhão de reais antigos. Foi decretado o congelamento de preços e aluguéis, iniciada a desapropriação em massa de imóveis urbanos – um apartamento de quatro quartos pode perfeitamente acomodar quatro famílias – e construídos presídios em todo o país para os presos em manifestações antidemocráticas. Qualquer manifestação contra o Estado é antidemocrática.

A Argentina acaba de anunciar que acolherá os milhões de refugiados brasileiros que se concentram em suas fronteiras. Uma nova constituição é finalmente aprovada. Ela substitui Executivo, Legislativo e Judiciário por uma junta formada pelo Fator X e pelos Conselhos Nacionais Populares Ultrademocráticos.

Estão aqui três cenários, três futuros possíveis para o Brasil, três resultados potenciais das escolhas dos cidadãos brasileiros. Percebam que nenhum desses cenários leva em conta os resultados das eleições de 2026. A dominância do Fator X sobrepuja e torna irrelevante meros resultados eleitorais. Não importa quem ganha; importa quem manda, quem define, quem impede, quem anula, quem desfaz ou refaz presente, futuro e passado.

A sensação de novidade das notícias desaparece à medida que conhecemos melhor nossa história. O conhecimento nos traz esperança, mas também ceticismo e tristeza. Não há nada de novo sob o sol. O futuro do Brasil se encontra em algum lugar entre esses três cenários.

Na véspera de Natal, eu fiz a seguinte postagem no X: "Os presentes de Natal dos quais os brasileiros precisam: metade precisa de coragem, a outra metade de vergonha na cara". Faço o mesmo comentário no Ano Novo. Faço votos que, pelo menos, evitemos o pior cenário.

Tenham todos um admirável ano novo.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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