“Os donos do Brasil são ambidestros [...] O submundo tosco de ideias e refinadamente intuitivo dos caudilhos não conhece direita nem esquerda, senão como rótulos. O que lhes importa é o poder, o uso pessoal dele, para enriquecer, para afogar suas inferioridades no ódio, na cobiça, na deslumbrada mediocridade do espanto de se verem tão alto - sem saber como nem para quê”. (Carlos Lacerda, "O Poder das Ideias", 4a Edição, p.17)
O Brasil é um país com enorme potencial. Pode se tornar uma das nações mais desenvolvidas. Mas, há muito tempo, nosso país é dominado por um grupo que vive de explorar o trabalho da população – um grupo formado por políticos que se revezam no poder e pessoas que se beneficiam disso. Por isso a vida do cidadão comum é tão difícil. Por isso, quase metade de tudo o que o brasileiro ganha com seu trabalho vai alimentar o Estado.
Nossos problemas têm raízes históricas. Vários autores apontam para a herança institucional que recebemos dos colonizadores. Isso explicaria a enorme diferença entre o desenvolvimento da América Latina e o desenvolvimento da América do Norte (Estados Unidos e Canadá).
As raízes dos nossos problemas podem ser históricas, mas esses problemas foram perpetuados por decisões populistas e irresponsáveis da classe política.
A América Latina foi colonizada pela Espanha e por Portugal, países cujas instituições eram voltadas para o enriquecimento de uma pequena classe de nobres. A América do Norte, em comparação, foi colonizada pela Inglaterra, um país onde, desde o início do século XIII, já começam a se estabelecer os direitos do cidadão, e onde instituições fortes criaram segurança jurídica e permitiram o desenvolvimento da atividade econômica. Esse desenvolvimento distribuiu a riqueza por toda a população. Foi na Inglaterra que começou a Revolução Industrial. Não foi por acaso.
Isso não quer dizer que os homens que se revezam no poder desde a Proclamação da República sejam isentos de culpa. Pelo contrário; tivemos inúmeras oportunidades para recuperar o atraso e não o fizemos. Fizemos o oposto: gastamos esforço e tempo criando desculpas e justificativas para nosso atraso. Criamos, por exemplo, a famosa Teoria da Dependência, que coloca a culpa do atraso nas nações desenvolvidas.
Temos uma cultura que considera o trabalho como uma coisa ruim, que demoniza a riqueza, que transforma rancor e ressentimento em ideologia.
As raízes dos nossos problemas podem ser históricas, mas esses problemas foram perpetuados e aprofundados por decisões populistas e irresponsáveis da classe política. Alguns problemas do Brasil são comuns a vários outros países, como o baixo crescimento econômico, a degradação urbana e o crime. Outro problema comum é o domínio da mídia, do sistema de ensino e do ambiente cultural pela esquerda.
Mas o Brasil tem características particulares que agravam tudo. Somos um país de extensão continental, com enormes diferenças regionais, governado através de um sistema federativo de mentirinha, com concentração desproporcional de poder nas mãos dos burocratas de Brasília.
É preciso acabar com o jeitinho brasileiro. Precisamos eliminar o pagamento de propina dos nossos hábitos.
Somos um país que repete, há várias décadas, que o criminoso — não importa a perversidade ou a violência do seu crime — é um coitadinho, que não teve oportunidade, ou que agiu movido pela “desigualdade” (exceção feita para aqueles que cometem crime de opinião – esses devem ser punidos com rigor). Enquanto todas as grandes democracias ocidentais têm leis penais rígidas e um sistema de justiça criminal que pune quem viola a lei, nosso sistema se torna a cada dia mais permissivo. O resultado é um nível de criminalidade sem paralelo em qualquer país que não esteja em guerra.
Existem soluções de curto prazo: alterar nossa legislação penal para reduzir a impunidade, tanto em relação à criminalidade violenta quanto à corrupção. Mas, no médio e no longo prazo, precisamos mudar a cultura e as instituições.
É preciso acabar com o jeitinho brasileiro. Precisamos eliminar o pagamento de propina dos nossos hábitos. Precisamos exterminar o politicamente correto do nosso pensamento e da nossa linguagem, e começar a dar nomes corretos aos nossos problemas. Mas, acima de tudo, precisamos entender que a solução dos principais problemas do Brasil não vem do Estado, mas dos indivíduos.
Há muito tempo, nosso país é dominado por um grupo que vive de explorar o trabalho da população
A política oferece apenas uma parte da resposta. Não existe “bala de prata” – não há nenhuma medida, emenda constitucional, lei ou decisão judicial que tenha o poder de colocar, por si só, instantaneamente, o Brasil no rumo certo.
Estamos acostumados a parar o país durante cinco dias para festejar o carnaval. Paramos o país inteiro durante quase um mês para assistir à Copa do Mundo. Gastamos 30 bilhões de reais na reforma de estádios de futebol para copa de 2014, e 80 bilhões de reais para organizar as olimpíadas de 2016, e sabe-se lá quantas fortunas em refinarias que nunca ficaram prontas. Enquanto isso, mais da metade das residências brasileiras não têm serviços de água e esgoto.
O Estado brasileiro se mete em assuntos que não lhe dizem respeito — como produção de filmes ou exploração de petróleo — e não cumpre quase nenhuma das suas missões principais, que são educação básica, saúde básica, justiça, segurança e defesa. Temos um sistema eleitoral extremamente complicado e confuso; você vota em um deputado e seu voto é usado para eleger outro candidato – é o sistema “proporcional”.
Somos um país onde o sonho da maioria dos jovens que se formam na universidade é passar em um concurso público, de preferência para o cargo de fiscal. No Brasil crianças são proibidas de trabalhar formalmente — o trabalho infantil é considerado crime — mas essas mesmas crianças estão pedindo esmolas nas ruas ou trabalhando para o tráfico de drogas.
A raiz de tudo isso é uma cultura que considera o trabalho como uma coisa ruim, que demoniza a riqueza e a prosperidade, que transforma rancor e ressentimento em ideologia e que incentiva a dependência do Estado.
Mudemos essa cultura e todo o resto mudará.
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