O CEO da Meta, Mark Zuckerberg, durante audiência no Senado americano, em janeiro de 2024.| Foto: EFE/EPA/Tasos Katopodis
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Veículos de mídia proclamam indignação com o anúncio do CEO da Meta, Mark Zuckerberg, de que as redes sociais do grupo não mais usarão os serviços de “agências checadoras de fatos”. Essa expressão – checagem de fatos – sempre me causa calafrios por seu odor de totalitarismo. Ela lembra o servidor público Winston Smith, do livro 1984, cujo trabalho era reescrever notícias antigas para que elas estivessem sempre em linha com o pensamento do Partido. Essa é a “checagem de fatos” original.

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A raiva que a mídia dirigiu a Zuckerberg tem uma explicação: checagem de fatos é uma estratégia da própria mídia para manter o monopólio das notícias. A “checagem” não busca a verdade; seu propósito é sufocar as redes com a mordaça da censura e garantir que apenas o pensamento “politicamente correto”, woke ou progressista tenha voz. Não é por acaso que a inclinação das agências “checadoras” é invariavelmente para a esquerda.

No cenário ruim, os censuradores dobram a aposta. Eles aprovam leis e emitem decisões judiciais oficializando a mordaça das redes. Nesse caso, a consequência poderia ser o fechamento das redes sociais no Brasil. Na sequência, provavelmente, seria aprovada a criação de uma rede social estatal, operada pelos Correios

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A velha mídia está ameaçada pelas redes. Com exceção de alguns veículos que se destacam por sua coragem e por terem abraçado as redes sociais – como a Gazeta do Povo, a Revista Oeste e a Jovem Pan – é justo dizer que, hoje, as redes sociais, incluindo as da Meta de Zuckerberg, disponibilizam uma variedade maior de notícias, mais rapidamente e com melhor qualidade que a grande mídia. Devemos isso ao trabalho de jornalistas-cidadãos, voluntários não remunerados que estão em todos os lugares com seus celulares, transmitindo informações e imagens em tempo real, relatando fatos e compartilhando opiniões.

Esse é um processo revolucionário e talvez irreversível, com evidentes consequências políticas. Tornou-se impossível para o Estado controlar a narrativa. A verdade deixou de ser monopólio dos grandes grupos de mídia. A combinação de internet, telefonia celular e redes sociais criou um mundo anti-1984, o exato oposto da distopia imaginada por Orwell. Agora todos temos voz e podemos desafiar a verdade oficial. Winston Smith ficará desempregado.

Há algumas semanas, Elon Musk fez uma postagem em que dizia: “A mídia agora são vocês”. Nós. Os usuários. Ele tem razão.

Como tudo na vida, a nova mídia tem defeitos. Da mesma forma que os jornalistas-cidadãos divulgam notícias, eles também podem divulgar mentiras. Mas não podemos esquecer que esse é um poder que a velha mídia sempre teve e sempre exerceu. Com um agravante: antes da internet era impossível um cidadão comum saber quando a mídia mentia.

Não mais. Agora tudo pode ser desmentido. A contestação pode ser feita através de postagens, de comentários ou até de “notas da comunidade”, uma invenção de Elon Musk para o X.

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Poucos conhecem o algoritmo que rege as notas da comunidade. Explicando de forma resumida: o sistema conta com o trabalho voluntário de milhares de usuários. Eles recebem uma lista de postagens e notas para avaliar. O resultado da avaliação não é baseado em uma simples votação. O algoritmo atribui peso maior à avaliação feita por avaliadores com histórico de opiniões diferentes, mas que concordam na avaliação de determinada postagem. É um mecanismo tão imparcial e neutro quanto possível. Postagens de políticos famosos, de governos e até postagens do próprio Elon Musk – o dono da rede – estão sujeitas a serem desmentidas por uma nota da comunidade.

As notas são uma demonstração de que a nova mídia pode se regular sozinha, dispensando censura estatal. Mas a esquerda continuará insistindo na necessidade de regulamentação. Algumas pessoas de bem apoiam a ideia, por ingenuidade, ignorância ou doutrinação. Tenho amigos que não conseguem sair dessa prisão ideológica. Não consigo ajudá-los; foram sequestrados por Marx, Gramsci e Paulo Freire. São incapazes de detectar a fumaça ideológica no ar que respiram; para eles a fumaça se tornou o próprio ar.

Fiz uma postagem aplaudindo a decisão do Zuck. Uma moça comentou. Segurem a náusea e leiam: “Que bonito, heim? Apoiando que crimes como ofensas racistas, xenofobia e todo o tipo de ódio sejam permitidos aqui nessa rede. Os bolsonaristas NÃO SUPREENDEM!!!!!"

Racismo é crime previsto por lei. Não é preciso uma “agência checadora de fatos” para lidar com ele. O mesmo vale para xenofobia. Já a expressão “todo o tipo de ódio” demonstra que a autora foi levada a acreditar que liberdade de expressão só vale para declarações de “amor”. Liberdade sim, mas só para aquilo que me agrada. Aliás, quem usa as redes sociais conhece a ternura da esquerda. A ela tudo é permitido, inclusive a expressão máxima de ódio: pedir a eliminação física de adversários.

Me parece inevitável que a mudança da Meta de Zuckerberg seja copiada pelas outras redes sociais. O governo Trump defende a liberdade de expressão e tem instrumentos para convencê-las.

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Diante disso, vejo dois possíveis cenários para o Brasil.

No cenário bom, as autoridades entendem que o mundo mudou e que não vale a pena comprar briga com o novo governo americano. Elas desistem dos projetos legislativos e judiciais de censura.

No cenário ruim, os censuradores dobram a aposta. Eles aprovam leis e emitem decisões judiciais oficializando a mordaça das redes. Nesse caso, a consequência poderia ser o fechamento das redes sociais no Brasil. Na sequência, provavelmente, seria aprovada a criação de uma rede social estatal, operada pelos Correios. Minha sugestão de nome para a nova rede é Calada. Na Calada você poderá emitir qualquer opinião, desde que ela seja favorável ao Estado Novo brasileiro.

Eu nunca perco a esperança do Brasil melhorar. Mas tenho sempre em mente a possibilidade de piorar, e muito.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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