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Na terça-feira, dia 29 de agosto, às 19:27, meu amigo Mateus retirou o telefone celular do bolso para verificar uma mensagem que acabara de chegar. Neste momento ele estava parado no cruzamento das avenidas Faria Lima com Juscelino Kubitschek, no coração da cidade de São Paulo.
Foi nesse momento que tudo aconteceu.
Mateus estava hospedado em um hotel da região. Ele combinara de jantar com amigos em um restaurante japonês que ficava a quatro quadras de distância. Pensou primeiro em chamar um táxi, depois resolveu caminhar.
Esqueça a narrativa uníssona da grande mídia e saiba que a polícia brasileira é composta de profissionais que trabalham duro e arriscam suas vidas todo dia.
Era um hábito que ele havia abandonando – caminhar em São Paulo, principalmente à noite. A mudança foi provocada por uma experiência muito ruim; Mateus havia sido assaltado à mão armada, às 18h, na frente de um dos melhores hotéis da área mais nobre de São Paulo.
Mateus havia aprendido que pessoas sozinhas são alvo preferencial dos assaltantes, em especial das duplas em motos. O interesse deles está em aparelhos de telefone celular e relógios. Naquele mesmo dia, à tarde, ao voltar de uma reunião de trabalho, Mateus recebera de um colega o aviso: “Te cuida. Estão assaltando todos os dias aqui no Itaim”.
Por isso, ao sair com destino ao restaurante, meu amigo pedira ao mensageiro do hotel que chamasse um táxi. Mas havia pessoas na fila antes dele, e o mensageiro demorou para conseguir um carro. “São poucas quadras”, pensou ele, avaliando que o risco de ir à pé era pequeno. Foi uma avaliação ruim.
Mateus foi atropelado por uma bicicleta em alta velocidade. O “ciclista” empurrou Mateus ao mesmo tempo em que tirava o celular de sua mão.
Mateus saiu do hotel e caminhou até a esquina da Av. Juscelino Kubitschek. Cruzar as avenidas na direção do restaurante era uma operação complicada. Em alguma parte desse trajeto o telefone tocou. Mateus desbloqueou o aparelho e abriu o WhatsApp para informar o amigo que não podia falar naquele momento. O sinal para pedestres ficou verde e Mateus começou atravessar a rua, ainda com o celular na mão. A rua estava cheia naquele horário e uma pequena multidão atravessava com ele.
Nesse momento Mateus foi atropelado por uma bicicleta em alta velocidade. O “ciclista” empurrou Mateus ao mesmo tempo em que tirava o celular de sua mão. Mateus recuperou o equilíbrio e correu na direção do bandido gritando “pega ladrão”. O sinal abriu para os carros. O motorista de um Honda, que tinha assistido à cena, acelerou tentando alcançar o bandido. Mas o ladrão subiu com a bicicleta na calçada, virou na contramão de uma esquina e sumiu.
Essa história poderia acabar aqui, e não haveria nada de novo. Seria apenas mais um exemplo da rotina do brasileiro, espremido entre um Estado faminto e incompetente e uma maré de crime que a cada dia fica mais forte. Mas a história não acaba aqui.
Depois do roubo, Mateus esqueceu o jantar e voltou para o hotel. No quarto, abriu o laptop para procurar o número do atendimento da operadora telefônica e comunicar o roubo. Depois de encontrar o número do atendimento (não foi fácil) ele navegou em um enorme menu de opções da operadora (é absurdo que não exista uma opção de acesso imediato para a comunicação de roubo, mas não há).
Quando comprara o celular, Mateus havia guardado o IMEI do aparelho. O IMEI é uma espécie de número de chassi do telefone. No assalto anterior, Mateus aprendera que esse número é importante na comunicação com a operadora.
Essa história poderia acabar aqui, e não haveria nada de novo. Seria apenas mais um exemplo da rotina do brasileiro,
Desde o momento do assalto Mateus começou a receber inúmeras mensagens alertando para tentativas de mudar senhas de diversas contas de serviços online. Quando finalmente conseguiu bloquear o número de celular e o IMEI com a operadora os alertas cessaram.
Mateus então reuniu disposição para fazer o registro da ocorrência no sistema da Polícia de São Paulo. Como a maioria dos brasileiros, ele tinha pouca expectativa de que aquele registro tivesse algum resultado prático. Mas como ele usava a CNH Digital, armazenada no celular, como identidade (ele não tinha mais uma carteira de identidade física), ele teria que mostrar o registro de ocorrência no balcão da companhia aérea para conseguir embarcar no dia seguinte. O registro de ocorrência era essencial para que ele pudesse retornar para casa. Mateus comprou outro aparelho celular, retornou para casa e seguiu a vida.
E agora vem a parte surpreendente da história.
Percebam o esforço feito pela polícia. Primeiro, identificar e prender o criminoso que saía do país com os telefones roubados.
O assalto aconteceu em uma terça-feira. Na sexta-feira Mateus recebeu uma ligação de um número desconhecido, que ele imediatamente rejeitou – como fazem muitos de nós hoje em dia. Mas o mesmo número ligou para a esposa do Mateus, e ela atendeu.
Agora pause para respirar.
Do outro lado da linha estava a inspetora Roberta, da Polícia Civil de São Paulo, que tentava falar com Mateus. Alertado pela esposa, Mateus atendeu a ligação.
A Inspetora Roberta explicou o motivo da ligação: ela estava com o celular de Mateus.
Depois, o trabalho de pesquisar cada um dos IMEIs até encontrar um que constava de um registro de ocorrência policial.
Disse ela: “Ontem à noite prendemos um indivíduo que tentava embarcar para o exterior com dezenas de telefones na bagagem. Apreendemos tudo e fizemos um procedimento padrão que é carregar o aparelho, ativar o modo de emergência, anotar o IMEI e consultar o sistema da polícia em busca de uma ocorrência policial para aquele IMEI.
“Apreendemos dezenas de aparelhos roubados”, disse a inspetora, “mas o seu foi o único que tinha um registro de ocorrência”. Os outros aparelhos seriam guardados por um tempo até que um registro de ocorrência fosse encontrado para eles. Se nenhum registro fosse feito, eles seriam encaminhados para destruição.
Percebam o esforço feito pela polícia. Primeiro, identificar e prender o criminoso que saía do país com os telefones roubados. Depois, o trabalho de pesquisar cada um dos IMEIs até encontrar um que constava de um registro de ocorrência policial. Depois, todo o esforço até encontrar e contratar o Mateus. A polícia de São Paulo merece parabéns.
Há nesse episódio várias lições.
Primeiro, não facilite a vida dos criminosos usando um celular no meio da rua.
Segundo, toda vez que você for vítima de um crime, faça o registro da ocorrência.
Esqueça a narrativa uníssona da grande mídia e saiba que a polícia brasileira é composta de profissionais que trabalham duro e arriscam suas vidas todo dia para defender nossas vidas e direitos. Parabéns à Inspetora Roberta. Parabéns ao Secretário de Segurança do Estado de São Paulo, Guilherme Derrite. Parabéns ao governador Tarcísio de Freitas.
E, por último, a dica importante: consulte o número do IMEI do seu aparelho e o guarde em lugar seguro. Em um iPhone ele está em Ajustes / Geral / Sobre.
E viva a polícia de São Paulo.