Foi treinando a escrita para o vestibular na adolescência que o catarinense radicado no Paraná Matheus Lara descobriu sua paixão pela palavra. Em 2009, criou um blog com dissertações sobre diversos temas e a página acabou ficando no ar até 2012. Na época, o jovem autor começou a ganhar seus primeiros leitores virtualmente e cada comentário que recebia era um adubo extra para alimentar um sonho que começava a brotar: o da literatura.
Em pouco tempo, Matheus quis se aventurar por outros gêneros, como contos e crônicas. Fã de Rubem Fonseca e Chuck Palahniuk pelo formato ousado da narrativa desses autores, passou por um processo de amadurecimento literário tão intenso, que, em 2013, aos 20 anos, publicou o primeiro romance “A Flor que não é sua”.
Jornalista formado pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, assessor de imprensa na Prefeitura de São Matheus do Sul e Mestrando em Jornalismo pela mesma instituição, o rapaz, hoje com 23 anos, não deixou mais a escrita e reforçou esse velho caso de amor com as letras por meio do lançamento de um novo livro: Má Conduta.
Publicado pela Arte Editora no fim do ano passado, Má Conduta chega a Curitiba esta semana e será lançado amanhã às 19h30, na FNAC do ParkShopping Barigui. A obra de contos aborda temas fortes e atuais, com ênfase na violência.
Em entrevista para o Rodapé, o autor avalia o mercado editorial e fala sobre sua carreira, violência contra a mulher e o protagonismo nas lutas das minorias.
Como lidou com o desafio de falar de violência contra a mulher sendo homem?
Defender a luta contra a violência de gênero não deve ser algo restrito a quem sofre essas violências cotidianamente. Assim como não é preciso ser gay para lutar contra a homofobia, especificamente; ou ser negro para lutar contra o racismo. Reconheço que o protagonismo nas lutas é algo extremamente importante e necessário. Mas entendo também que aqueles que não sentem na pele os motivos pelos quais essas pessoas lutam podem e devem fazer pelo menos o mínimo, que é respeitar e transmitir o seu apoio e dar visibilidade a essas lutas. Como disse, vejo a narrativa ficcional como uma ferramenta oportuna para criar e representar pessoas, situações, tipos e problemas. Má Conduta, de certa forma, representa esse sentimento.
Os elementos que ajudam a pensar nessas histórias e nesses temas estão no dia-a-dia de todos nós; nas mulheres que são violentadas dentro de casa e que, por uma centena de motivos, não cogitam denunciar seus agressores; na criação dos filhos que crescem alimentando o sonho de se tornarem engenheiros, pilotos, cientistas enquanto suas irmãs crescem sob a pressão de que um dia precisam obrigatoriamente se tornar mães… E por aí vai, os exemplos, infelizmente, são inúmeros.
Qual você considera a principal marca da sua escrita?
Gosto de criar situações. Colocar personagens pra vivenciar essas situações e inseri-las em determinado contexto. A narrativa, por si só, sempre me interessou. Desde a história oral até a literatura, passando pelas diferentes formas de narrativa visual etc. O resultado disso é uma narrativa bastante descritiva, um esforço de manipular tempo, espaço e os que dialogam com esses elementos.
Em Má Conduta, reuni histórias de suspense, contos em que as cenas narradas não ajudam o leitor a antever o que pode vir a acontecer. E, se isso começa a ocorrer, o tempo, enquanto elemento narrativo, surge para ajudar a trazer elementos novos que voltam a desorientar a história em meio a lacunas. Por isso, as histórias de Má Conduta não são lineares; por isso, os personagens de Má Conduta não são regulares, ou coerentes.
Que dificuldades enfrenta um autor que se lança por uma editora independente?
A principal dificuldade é a distribuição. O tamanho de uma editora dentro do mercado editorial não diz absolutamente nada sobre a qualidade de seu trabalho e dos livros publicados por ela. As editoras pequenas estão fazendo festa no Jabuti e em outras premiações literárias promovidas por importantes institutos e organizações culturais brasileiras. Isso demonstra um amplo reconhecimento a títulos e nomes da literatura que só não estão no grande mercado por causa dos percalços na distribuição. E esses prêmios se tornam essenciais para dar visibilidade a essas editoras, autores e autoras.
Como você avalia o mercado editorial?
As portas que a Arte Editora abriu pra mim são as mesmas portas pelas quais uma enorme quantidade de escritores e escritoras independentes passaram e estão passando com o intuito de dar visibilidade àquilo que produzem. As editoras menores vêm dando oportunidades a talentos que estão mostrando seu trabalho para o Brasil inteiro.
Como comentei, a principal dificuldade é a distribuição, por conta de uma preferência natural das livrarias em ter em suas prateleiras livros com alto potencial de venda; e o alto potencial de venda, a priori, vem de grandes editoras e de autores já reconhecidos nacionalmente. Do ponto de vista dessas livrarias, é até compreensível. Só que o tesão dos autores independentes na publicação de seus livros vai além da vontade de vê-los nos rankings dos mais vendidos.
Que dicas você dá a quem quer iniciar a carreira como escritor?
Olha, na verdade, eu também estou em busca dessas dicas. O que estes passos iniciais do que eu espero que seja o início de uma carreira já puderam me mostrar foi que acreditar naquilo que você escreve é essencial para consolidar as coisas. Botar fé, mesmo. Querer fazer é fundamental. O resto é decorrência disso. Operacionalmente, estou também no caminho dos escritores independentes em início de carreira, participando de eventos, buscando concursos literários para inscrição, utilizando as redes sociais para tentar minimizar as dificuldades de distribuição, conhecendo melhor o perfil dos meus leitores e leitoras… Escritor em início de carreira tem isso de ser metade estrategista, metade cara-de-pau, buscando êxito depois de calcular possíveis resultados, mas também por tentativa e erro.
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