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Vida Querida: o epílogo de Alice Munro


Certa vez, Alice Munro brincou ao dizer que um conto não é uma estrada pela qual se segue, mas uma casa desconhecida onde é possível descobrir quartos e corredores. Vida Querida, sua obra que chegou ao Brasil em 2013 pela Companhia das Letras, reflete bem essa lógica. Começar a ler qualquer conto do livro é como receber as chaves de uma casa repleta de labirintos instigantes que se convergem em um portal surpreendente. Dificilmente alguém advinha para onde a trama está indo já nas primeiras páginas. As narrativas longas nos envolvem antes disso em um vai-e-vem gostoso de acontecimentos e notas psicológicas que nos preparam para o que está por vir.

Se o jeito de narrar foge ao que é comum, não é diferente com as situações reveladas por Munro. As protagonistas, quase sempre imersas a princípio em um cotidiano ordenado, vivem aventuras polêmicas atravessadas por temas fortes e controversos, como infidelidade conjugal, doença, velhice e perda de memória.

Em Que chegue ao Japão, por exemplo, uma mulher casada se envolve sexualmente com um desconhecido durante uma viagem de trem. A história se complica um pouquinho mais quando, ao voltar para o compartimento em que deixou sua filha, a personagem principal descobre que a garota havia desaparecido.

Finale

A mestre do conto contemporâneo, que recebeu o Nobel de Literatura em 2013, disse ao lançar Vida Querida, que não publicaria mais nada. Com 14 contos, seu 14ª trabalho concluiria uma obra construída ao longo de quatro décadas.

Para essa despedida, Alice preparou em seu último livro um encerramento chamado Finale com quatro contos autobiográficos. Ali, há relatos pessoais da escritora, sua descoberta do amor, da morte e impressões sobre a família, a escola e muitos outros apontamentos bem íntimos. Segundo a autora, são as primeiras e as últimas coisas que ela tem a dizer sobre a própria vida.

Caso a canadense volte atrás e publique algo novo, a gente, claro, super agradece. Mas não dá para negar que o fechamento de Vida Querida é um epílogo impecável e um verdadeiro privilégio para nós. Não é todo dia que uma escritora do calibre de Alice Munro nos dá acesso a um universo de confissões sinceras e não só escancara as portas de sua obra, como também deixa uma frestinha aberta para quem quer conhecer melhor o coração onde ela nasce.

Vida Querida
Alice Munro
Companhia das Letras
320 páginas
2013

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