Presidente estadual do Podemos até último mês de janeiro, Cesar Silvestri Filho surpreendeu quando anunciou sua filiação ao PSDB. O ex-prefeito de Guarapuava e ex-deputado estadual trocou de partido para manter seu projeto de disputar o governo do Paraná em outubro, uma vez que sentiu que o Podemos priorizaria uma aliança com o governador Carlos Massa Ratinho Junior (PSD) e a candidatura de Alvaro Dias à reeleição ao Senado - enquanto os tucanos buscavam um nome para a disputa estadual, para dar um palanque próprio ao presidenciável João Doria.
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A movimentação de Silvestri embaralhou o jogo político no estado, causou racha interno no PSDB, mas colocou mais um nome entre os postulantes à cadeira de Ratinho Junior. Em entrevista à Gazeta do Povo, o novo tucano diz ver, no estado, a tentativa de repetição da polarização nacional entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), desta vez representada por Ratinho Junior e Roberto Requião (sem partido). Destacou ainda que se apresenta como a “terceira via” desta disputa local.
O senhor estava no Podemos, presidindo o partido, assinou as filiações de Sergio Moro e Deltan Dallagnol, apresentava-se como pré-candidato ao governo pelo partido e, de repente, larga tudo e se filia ao PSDB. O que explica essa reviravolta?
De uma maneira muito objetiva: eu fui para o podemos para construir o projeto de candidatura ao governo. Fui convidado com esse propósito, trabalhei por dois anos com esse objetivo e o partido, de fato, conseguiu se estruturar, se organizar, cresceu em todas as regiões, conseguiu eleger um número expressivo de prefeitos e vereadores. Mas o partido acabou ao longo desse tempo, principalmente depois da filiação do Sergio Moro, tendo outro direcionamento, que era o de priorizar a candidatura ao Senado (de Alvaro Dias), numa composição com o atual governador, em detrimento da candidatura ao governo do estado. Eu sempre me posicionei que entendia que esse era um caminho equivocado. Internamente, sempre deixei isso muito claro. Até que o PSDB, percebendo essas movimentações, me procurou e me deu essa oportunidade de construir a candidatura pelo PSDB. Há, no PSDB, o entendimento de que é importante, para a estruturação do projeto nacional do partido, ter palanques estaduais próprios consistentes. E foi isso que motivou minha decisão: poder dar sequência ao projeto de candidatura ao governo, num partido que acredita na importância dessa candidatura para o atual quadro político que nós temos de polarização, com a esquerda com o (Roberto) Requião de um lado e o Ratinho (Junior – PSD) tentando abrigar todo mundo em seu palanque, desde o próprio Lula até Bolsonaro.
Mas não estava clara, principalmente após a filiação de Moro e Deltan, que o projeto nacional era prioridade do partido?
Não, pelo contrário, eu sempre entendia que um partido que quer ter uma candidatura nacional levada a sério sempre deveria priorizar a construção de palanques leais a essa candidatura. Que é o que eu vou procurar fazer agora: ajudar o PSDB no seu projeto nacional, com a definição da candidatura próprio à Presidência de República (de João Doria). Eu sempre entendi desta maneira e, para mim, foi uma surpresa quando o Podemos abriu mão disso para priorizar a reeleição de uma candidatura ao Senado.
E, para o eleitor, não fica difícil explicar que o presidente do partido que convidou Moro para entrar para a política e o lançou à presidência, agora é o pré-candidato de Doria?
Não estou tendo dificuldade nenhuma em relação a isso porque acho que houve uma compreensão geral das pessoas em relação a essa disposição de dar sequência ao projeto da candidatura ao governo. O que me move, neste caso, é dar ao Paraná uma alternativa ao quadro colocado hoje entre Requião e Ratinho. É isso que tem me permitido, a cada dia, somar adesões e apoios para fortalecer a caminhada em direção a essa candidatura. E em coerência com o posicionamento nacional, que é o de oferecer alternativas à polarização que também se repete no cenário nacional entre Bolsonaro e Lula. Continuamos, então, no mesmo campo político, o de ser a alternativa a essa polarização.
Sua filiação causou um racha no PSDB, com a renúncia do presidente do partido, Paulo Litro, e o anúncio da saída de alguns deputados da sigla. Como contornar essa situação?
Os que saíram, na sua maioria, já tinham acenado que estavam de saída, como o deputado [Ademar] Traiano, que já tinha anunciado que ia para o PSD. Eu, hoje, prefiro exaltar a postura daqueles que demonstraram independência política e a crença na importância de ter uma candidatura para o governo, como o deputado Micheli Caputo, que teve essa coragem política de ajudar a construir uma candidatura para o estado, do que ficar lamentando aqueles que aderiram às questões próprias do relacionamento entre deputados da base governista e a própria força do governo.
Mas o senhor, o Podemos e o PSDB também sempre foram da base do governador...
Importante dizer que eu estava, até muito pouco tempo atrás, na gestão municipal, como prefeito, procurando dar aos munícipes que eu representava as melhores condições em relação ao relacionamento com o governo. E agi da mesma maneira com os três governadores que passaram pelo Palácio Iguaçu no período em que fui prefeito. E, como governador, assim agirei com quem estiver na Presidência da República: dando prioridade aos interesses do povo que eu represento, tendo boa relação com qualquer um que esteja nesta função. A vivência deste relacionamento com Beto Richa (PSDB), com Cida Borghetti (PP) e com Ratinho Junior me deu a condição, inclusive, de ter a visão crítica que tenho hoje. Porque tenho condição de fazer uma comparação imediata da postura do governo, daquilo que hoje acho que seja a grande falha desta gestão: a desconexão com a realidade das pessoas, a falta de conexão com o mundo real. É um governo muito pautado por expressões midiáticas, mas pouco direcionado para o planejamento, para ações de longo prazo, para deixar legados importantes para o estado. Também apontar essa falta de posição política em temas relevantes. É um governo que não se posiciona, que não tem coragem, muitas vezes, de tomar posições com medo de desagradar ora o presidente da República, ora algum segmento de seus apoiadores. A falta de identidade do governo com a população: não se tem clareza sobre quem esse governo representa, de que lado ele está. E tudo isso são percepções que eu tive por poder fazer essa comparação imediata. É por não estar satisfeito com a condução do estado que eu coloco a minha pré-candidatura com muita tranquilidade e naturalidade dentro deste processo.
Eu fui um dos que acreditei, por algum tempo, que o governo do Ratinho pudesse se apropriar da juventude do governador e fazer com que essa característica fosse materializada em mais ousadia, mais criatividade, em novas soluções para problemas antigos. Essa acabou sendo uma das grandes frustrações que eu tenho em relação à atual gestão. É um governo que envelheceu muito precocemente, distanciando-se dessa característica que era esperada dele. A juventude que se inspirou e se identificou na candidatura dele é, hoje, o segmento mais deixado de lado. É um governo que não acolhe nenhum anseio dessa imensidão de jovens que está chegando no mercado de trabalho. Não há comprometimento do governo em preparar as condições para o futuro, que era o que se esperava quando se via um jovem chegar ao governo. E falo isso como alguém da mesma geração dele. Então, entro na disputa para provar que a nossa geração política é capaz de governar de uma maneira diferente: mais resolutiva e com mais compromisso com a geração que representamos.
O ex-governador Beto Richa foi uma das pessoas determinantes para seu ingresso no PSDB. Com todos os processos que ele enfrenta, numa eleição em que o tema corrupção certamente terá destaque, não constrange caminhar ao lado dele?
Não me constrange em nada. Eu sou amigo do Beto Richa. Ele foi um excepcional governador no período em que fui prefeito. Tem marcas e legados sólidos por todo o Paraná. É reconhecido pelos prefeitos da minha geração de prefeitos como um dos melhores governadores que o Paraná já teve. E acredito que essas questões vão ser materializadas nas urnas: o Beto Richa tem tudo para ser o deputado federal mais votado do Paraná.
O senhor acredita que há essa polarização entre Ratinho e Requião no estado? E o que o difere dos dois?
O que eu acho que existe, hoje, é falta de opção. Qualquer cidadão do Paraná que não veja razões concretas para a continuidade deste governo sente uma ausência de alternativa quando olha para o Requião como única opção. Uma opção absolutamente comprometida com o projeto da esquerda, para ser o palanque da esquerda no Paraná. Então, existe um universo gigantesco de pessoas que se sente sem alternativa. A minha candidatura se apresenta justamente como uma opção concreta para esse campo. Por isso, tenho convicção de que nossa candidatura será importante para o debate político, trazendo elementos novos para o debate. E, uma coisa importante, desnacionalizando a disputa. Temos que discutir o Paraná. O Paraná já passou esses últimos quatro anos sem se encontrar, sem debater, porque foi o tempo todo pautado pelas questões nacionais. E hoje a gente olha para trás e percebe uma ausência absoluta de legado, de marca. Eu pretendo governar o Paraná com o compromisso absoluto de colocar os temas do Paraná como prioridade das discussões e governando com quem estiver em Brasília, buscando o melhor relacionamento possível. Claro que vou defender a candidatura do João Doria, que pretende ser o nome mais viável, hoje, dessa chamada terceira via. O que me diferencia deles é, sobretudo, a visão que eu tenho sobre o estado. O Requião já deixou clara qual é a forma dele de governar, e não preciso, aqui, fazer grandes juízos, pois todos já sabem como ele é e como ele age. O Ratinho, da mesma maneira: já teve a oportunidade dele. Eu quero trazer, para essa eleição, a minha visão do estado: a visão de quem já foi prefeito, que foi forjado na gestão municipal, que aprendeu a se conectar com a realidade das pessoas e, a partir dessa sensibilidade saber priorizar o uso do dinheiro público em ações que fazem a diferença na vida das pessoas. Desse inconformismo que eu tenho de mantermos, ainda, desigualdades regionais gritantes no Paraná, com bolsões de pobreza que continuam sendo passados despercebidos pela gestão pública. A visão de quem vivenciou uma experiência de transformação, de modernização de um município tradicional do interior. Saber que isso pode ser feito e levado para todas as regiões do estado, criando um ambiente de maior equilíbrio em questão de oportunidades, conhecendo e respeitando as particularidades de cada região.
Os dois últimos governadores eleitos no Paraná construíram suas candidaturas bem antes do ano da eleição. Beto Richa já era candidato de 2010 quando foi reeleito prefeito em 2008. Ratinho Junior passou todo o segundo mandato de Richa na Secretaria de Desenvolvimento Urbano, construindo a candidatura dele. Embora o senhor esteja trabalhando na pré-candidatura há dois anos, para o grande público seu nome está sendo colocado agora. Dá tempo de viabilizar a candidatura?
Eu fui pré-candidato ao governo já em 2018. Não dei sequência ao projeto porque cheguei à decisão de que seria melhor concluir meu mandato na prefeitura. E acho que decidi bem, terminei o meu mandato com mais de 80% de aprovação, consolidando meu legado como gestor municipal. Esse projeto nunca saiu do meu norte, tanto que fui para o Podemos para dar sequência nele com muita clareza. Mas o tempo da viabilização da candidatura ou não vai se mostrar na medida em que a população voltar os olhos para o que está acontecendo no Paraná.
A falta de planejamento, a falta de capacidade de se resolver problemas minimamente complexos, acabou se tornando a marca desse governo. É um governo pautado pelas circunstâncias, por gambiarra, por arremedo do dia
Cesar Silvestri Filho, pré-candidato ao governo do Paraná pelo PSDB
E que temas sua candidatura pretende pautar neste debate?
Vamos debater o pedágio, que é um tema central no Paraná. A atenção do público e da mídia ficou tão voltada para as polêmicas de Brasília, que esse tema tão relevante para o estado passou despercebido para muitos. O governo, de maneira irresponsável e mostrando total incapacidade de planejar, jogou a responsabilidade da condução do processo da renovação das concessões para o governo federal, criou uma série de contradições e conflitos ao longo do caminho, com reações fortes da sociedade civil organizada – que, se não tivesse se mobilizado, teríamos aceitado com aval do governador as outorgas que encareceriam nossas tarifas para gerar receita para o governo federal. Esses conflitos todos nos levaram a uma condição que, mesmo o governo sabendo, desde o seu primeiro dia, que tinha que resolver essa questão e tinha data para isso, não o fez. Os contratos encerraram, o governo agora vai fazer de tudo para jogar essa licitação para depois da eleição, porque o governo não quer dizer, com transparência, para a população, onde serão instaladas as 15 novas praças de pedágio e que a tarifa não vai ser tão barata quanto eles anunciaram. E gerou, ainda, uma situação clara de desgoverno: hoje, temos as rodovias sendo cuidadas por policiais militares e bombeiros, que estão deixando de cuidar da população nos centros urbanos para dirigir ambulância e guincho. E já começou a deteriorar as condições das pistas no Paraná inteiro. As consequências dessa irresponsabilidade vão custar caro à população.
O ferry boat é outra questão muito emblemática. Em uma simples concessão de uma balsa: o governo reduz as exigências do contrato, não se sabe por qual motivo, que resultou na contratação de uma empresa nitidamente despreparada, causando um transtorno imenso para a população e que, numa gambiarra de última hora, foi tirada às pressas, com a colocação de uma nova empresa, sem nenhuma garantia. E falando em fazer, nos próximos meses, uma nova concessão pelos próximos 10 anos. Curioso, pois então a ponte que o governo diz que está pronta para sair, não deverá ser viabilizada em 10 anos. E ele recebeu o governo com cinco propostas de traçado da ponte e dinheiro em caixa para fazer. A falta de planejamento, a falta de capacidade de se resolver problemas minimamente complexos, acabou se tornando a marca desse governo. É um governo pautado pelas circunstâncias, por gambiarra, por arremedo do dia. Não é só a balsa que está à deriva, é o Paraná que está à deriva. E tenho certeza que, quando esse tipo de discussão vier à pauta, vai fazer com que as pessoas queiram saber quem é a opção a esse governo que nos levou a essa situação.
No cenário nacional, o senhor acha possível romper a polarização que se desenha?
Acho mais difícil, porque, hoje, ela está mais cristalizada. A base eleitoral do Lula e a base eleitoral do Bolsonaro têm um piso já muito alto, difícil de reduzir. Mas acredito que há espaço para a ruptura dessa polarização se houver a convergência dessa terceira via. E essa é a grande diferença do cenário nacional para o cenário estadual: hoje, no cenário estadual, não há a pulverização de candidaturas que tem no âmbito nacional. Aqui no estado, acredito que a nossa candidatura está se posicionando como a candidatura bem posicionada como essa alternativa. Por isso, no cenário nacional é mais difícil esse rompimento da polarização.
Tendo participado da entrada de Moro no jogo político e estando, agora, ao lado de Doria, o senhor acredita nessa convergência?
Acho difícil. É um trabalho árduo, mas que deve ser insistido por ambos se, de fato, eles quiserem criar uma alternativa viável à polarização entre Bolsonaro e Lula. E eles têm que estar abertos a dialogar com todos.
A viabilização de Doria como terceira via inviabilizaria Moro. Há plano B para Moro?
O Podemos e os problemas do Podemos não me pertencem mais.
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