Doação de respiradores por empresa vira polêmica por suposto conflito de interesse

O secretário estadual de Desenvolvimento Sustentável, Márcio Nunes, entregou, na última sexta-feira, quatro respiradores a hospitais de Campo Mourão, na região Centro-Oeste do estado. Uma das entregas, na Santa Casa do município, foi filmada e o vídeo publicado nas redes sociais do secretário, mas o post foi apagado horas depois. Os respiradores foram doados pela Engie, empresa responsável pela obra de 15 linhas de transmissão de energia que corta os Campos Gerais e a Escarpa Devoniana; a secretaria de Márcio Nunes é a pasta que abriga o Instituto Água e Terras (IAT), órgão que concedeu as licenças ambientais para o empreendimento; e Campo Mourão é a base eleitoral de Nunes, que é deputado estadual licenciado.

No vídeo postado, e depois excluído das redes sociais, Márcio Nunes aparece ao lado da filha, Maria Fernanda, que é médica e trabalha na Santa Casa de Campo Mourão. Ele agradece a doação de um respirador e de um monitor feita pela empresa Engie. “Muitas empresas doaram, em especial a empresa Engie, que uma empresa que trabalha com transmissão de energia. Eu trouxe uma doação específica da Engie. Então, nem passa pelo patrimônio do Estado, é uma doação direta da empresa Engie para a Santa Casa de Campo Mourão”, declarou.

A obra na Escarpa Devoniana é alvo de diversos questionamentos judiciais por conta de seu impacto ambiental no ecossistema que tem como característica as florestas de araucárias. As obras foram iniciadas após o recebimento das licenças ambientais por parte do IAT, mesmo sem terem sido submetidas ao Ibama. O Ministério Público do Estado e o Ministério Público Federal contestam judicialmente as autorizações para as obras, que já chegaram a ser barradas por decisões liminares da Justiça.

Em nota, a Engie afirmou que desde o início da pandemia já fez doações de mais de R$ 12 milhões para apoiar todo o país. No Paraná, onde opera duas usinas hidrelétricas e implementa o Sistema de Transmissão Gralha Azul, a companhia afirma que já destinou mais de R$ 2 milhões ao Hospital Pequeno Príncipe e ao Programa Salvando Vidas, do BNDES, que ajudou cerca de 20 hospitais do estado. “Nas últimas semanas, por consequência do cenário de emergência e superlotação de UTIs, o governo do Paraná solicitou o apoio de empresas para reforçarem iniciativas de atendimento a pacientes internados, o que motivou a doação de mais q1uatro kits de respiradores e monitores, totalizando R$ 257 mil. Os aparelhos foram destinados ao governo do estado, que é responsável por definir o local para onde a doação será direcionada, conforme seus próprios critérios técnicos”, conclui a nota.

Também em nota, a Secretária do Desenvolvimento Sustentável e o secretário Márcio Nunes afirmaram que entregou seis respiradores para Campo Mourão, sendo quatro oriundos de uma doação, uma compra direta realizada pela empresa. Nunes afirmou que, “de agora em diante respeitará a resolução que será editada pela Controladoria-Geral do Estado e todas as doações serão encaminhadas diretamente para a Secretaria de Estado da Saúde (SESA)”. O governo do Paraná afirmou que as doações são fruto da articulação de diversas autoridades, mas vai editar uma resolução para que as doações passem a ser centralizadas pela SESA.