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Roger Pereira

Roger Pereira

A política do Paraná em primeiro plano

Entrevista

No Paraná, Eduardo Leite avalia cenário político e possível impeachment de Bolsonaro

Governador Eduardo Leite durante ato contra Bolsonaro em Porto Alegre (Foto: )

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Desembarcando no Paraná para mais um evento de promoção de sua candidatura às prévias presidenciais do PSDB, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que tem estará em Francisco Beltrão neste sábado (18), avaliou, em entrevista à Gazeta do Povo, o atual quadro da política brasileira. Cenário movimentado recentemente pelas manifestações de 7 e 12 de setembro, pela decisão do PSDB em migrar para a oposição ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e pelas articulações políticas para uma eventual abertura de processo de impeachment. Para ele, mesmo como o país estando a um ano das próximas eleições, a discussão sobre o impedimento do presidente não pode ser descartada.

Como o senhor avalia as respostas das ruas ao que vem acontecendo em Brasília? Tivemos as manifestações de 7 de setembro, em apoio ao presidente, com um número bastante considerável de pessoas nas ruas e a resposta que os movimentos contrários a Bolsonaro quiseram dar no dia 12 pouco mobilizou. Por quê?

O ponto é que no dia 7 de setembro, o discurso e as principais bandeiras erguidas foram bandeiras antidemocráticas, que atacam as instituições, como o STF e o Congresso. São manifestações que vão contra a Constituição. Esse é o ponto mais preocupante. Todos devem ser livres para se manifestar, desde que não seja no intuito de cercear a liberdade dos outros. Uma manifestação contra a Constituição é uma manifestação contra a liberdade. A manifestação do dia 12, de fato, teve um público reduzido, que tem a ver com a dispersão da oposição a Bolsonaro. Os partidos de esquerda, em sua visão do ponto de vista eleitoral, querem ter suas próprias manifestações, com as forças que as organizam. E os que não estão à esquerda, têm uma capacidade de mobilização um tanto menor, talvez. Mas o mais importante de tudo é analisar os tantos que não se manifestaram, o silêncio da maioria. Há uma maioria silenciosa que a gente percebe nas pesquisas de opinião, nas diversas possibilidades de manifestação pelas redes sociais. O sentimento que a gente colhe da população é de cansaço dessa polarização. No final das contas, é isso que a gente tem que saber fazer, encerrar isso em 2022, essa polarização absolutamente inútil e nociva ao país, que faz com que o risco Brasil esteja alto - aumentando juros, pressionando a inflação, desvalorizando o real, com a retomada da economia bem mais lenta. Então, precisamos fechar esse caminho de enfrentamentos entre uns e outros e abrir o caminho de enfrentamento aos problemas. Não faltam problemas para que a gente lute contra e não podemos desperdiçar tempo lutando uns contra os outros.

Após os atos de 7 de setembro, o PSDB fechou questão e anunciou que passaria à oposição ao presidente Bolsonaro, estudando, inclusive, a adesão a articulações para um eventual impeachment. Para quem se apresenta como pré-candidato à presidência da República em oposição ao atual presidente, esse posicionamento do partido demorou?

O PSDB tem sempre cumprido um papel de fazer a oposição com a consciência de que não pode torcer pelo quanto pior, melhor. Não é da natureza do PSDB fazer uma oposição que a todo tempo atua para impedir o governo de governar. O PSDB ajudou na reforma da previdência, fazendo a relatoria do projeto, no marco do saneamento, e outros projetos que tramitaram no Congresso com o apoio do PSDB desde a elaboração das medidas, para ajudar o país. Mas o PSDB mantém a postura crítica e a manifestação, agora, de oposição, vem na direção de consolidar a percepção de que o presidente está sob o olhar atento para que qualquer movimento que indique um caminho indesejado de ruptura institucional tenha a ação imediata do partido.

Não faltam problemas para que a gente lute contra e não podemos desperdiçar tempo lutando uns contra os outros

Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul (PSDB)

Dentro desta movimentação à oposição, o PSDB também decidiu abrir discussão interna sobre um possível processo de impeachment contra o presidente. Faltando um ano para as eleições, as forças políticas e o próprio PSDB já não estão mais preocupados em construir suas candidaturas para o ano que vem do que se envolver em um novo processo desgastante de impeachment?

Não se pode banalizar o impeachment, mas também não se pode permitir que se banalize a presidência da República. Se, a qualquer tempo, houver convencimento de que Bolsonaro não está à altura do cargo, e o Congresso entender que o processo de impeachment deve avançar, ele deve sofrer o processo. Não existe tempo certo ou um prazo de tolerância caso se conclua que as ações dele desbordaram de seu juramento constitucional, de que há crime de responsabilidade configurado e circunstância política para que seu mandato seja interrompido. A qualquer tempo um processo de impeachment deve ser levado adiante. Mas tenho certeza de que Bolsonaro sairá. Seja por um processo de impedimento, seja por voto popular, nas urnas. Porque o governo não oferece as respostas que a população procura. A população quer emprego, renda e o presidente oferece um ambiente de tensão, tumulto, que prejudica a economia, prejudica a confiança de investidores no Brasil. Ataca aquilo que é de valor internacional, como o meio ambiente, tirando o país do foco dos investimentos estrangeiros. Uma condução da pandemia que não zelou pela saúde e nem pela economia do país. A retomada do Brasil é mais lenta do que a de outros países e as manifestações do presidente não criam ambiente para essa recuperação. Então, tenho convicção de que Bolsonaro terá seu mandato interrompido. Se não for por processo de impedimento, que depende de convencimento político do congresso, será nas urnas.

Neste sentido, então, quem o PSDB vê como principal adversário no pleito do ano que vem, Bolsonaro ou Lula (PT)?

Acho que é muito prematuro fazer qualquer projeção. É uma eleição em que os dois polarizam as intenções de voto, mas pouco se fala que eles polarizam, também, a rejeição: Lula e Bolsonaro são os dois candidatos mais rejeitados. Então é um cenário ainda incerto, mas tenho convicção de que a rejeição tão alta dos dois candidatos fará com que chegue uma candidatura alternativa ao segundo turno. E tenho a convicção de que ganharemos as prévias e chegaremos ao segundo turno das eleições.

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