As recentes críticas da Prefeitura Municipal de Curitiba ao calendário de vacinação divulgado pelo Governo do Estado têm incomodado o secretário estadual de Saúde Beto Preto. Depois de ouvir do prefeito da capital, Rafael Greca (DEM) e da secretária municipal de Saúde, Márcia Huçulak, que, com os repasses de doses de vacina que o estado tem feito a Curitiba não seria possível atingir a meta de vacinação (de primeira dose) de toda a população adulta até 30 de setembro, ele partiu para o contra-ataque. Rebateu os questionamentos da prefeitura dizendo que Curitiba tem recebido regularmente as doses a ela destinadas, sem prejuízos e sem privilégios, e informando que enviou ofício para que Ministério Público, Tribunal de Contas e Controladoria Geral do Estado averiguassem os repasses de doses à capital, bem como sua destinação.
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Em entrevista à Gazeta do Povo, Beto Preto classificou como desleal, desnecessária e irresponsável a reclamação de Curitiba e pediu para que a prefeitura pare de “bravata e fanfarronice” e deixe de tentar jogar a opinião pública contra o governo do estado, politizando a vacinação.
A Prefeitura de Curitiba criticou o calendário de vacinação divulgado pelo Estado, diz não estar recebendo doses suficientes para cumprir com o cronograma e reclamou estar sendo preterida na distribuição de doses para outras cidades que já estão com a vacinação por idade bem mais avançada...
É uma reclamação incabível. Temos uma situação com Curitiba que sempre foi de colaboração de ajuda mútua, sem nenhum tipo de falta de respeito. Curitiba não recebeu nenhuma dose a menos do que os grupos prioritários necessitavam. Na verdade, recebeu até a mais, porque a população de Curitiba com mais de 60 anos de idade é de 16%. Os municípios que têm sido usados para comparação têm 23% a 25% da população idosa. E esse era o grupo prioritário. As informações chegaram ao prefeito distorcidas. E acabaram por causar esse frenesi, essa confusão toda. Temos uma responsabilidade civil de fazer essa distribuição, seguindo, inicialmente, a orientação do Ministério sobre os grupos prioritários e, a partir das últimas remessas, fizemos uma pactuação por idade com os secretários municipais de saúde. Não fizemos nenhum movimento para deixar Curitiba com menos doses. Comparar Curitiba com Guaraqueçaba é comparar alhos com bugalhos. Guaraqueçaba tem uma população bem menor, tem ribeirinhos, indígenas e quilombolas do grupo prioritário. Paranaguá recebeu, diretamente do Ministério, 11 mil doses para portuários. Não tem cabimento fazer essa comparação. E os técnicos da Secretaria Municipal de Saúde são bastante capacitados e têm ciência de tudo isso. Com todo o respeito, a tentativa de jogar a opinião pública de Curitiba contra o governo do estado se torna um ato reprovável, unilateral, e, principalmente, neste momento tão importante, mostra uma irresponsabilidade sem precedente.
Curitiba tomou as decisões que tomou, de centralizar a vacinação, obrigando as pessoas a filas intermináveis e, nem por isso, nós entramos numa discussão, porque é a estratégia do município. Agora, quando se fala em respeito, temos que pedir respeito para com toda a população paranaense, inclusive a de Curitiba. Nosso processo de divisão das doses é um processo para todo o estado do Paraná.
É totalmente desleal, desnecessário e de uma irresponsabilidade sem precedente. Sempre tratamos isso com muito respeito, principalmente com a capital.
O senhor afirmou que a distribuição de doses foi pactuada com o Conselho de Secretários Municipais de Saúde. A Secretária de Saúde de Curitiba, Márcia Huçulak, reclamou que a distribuição não foi discutida com a Comissão Intergestores Bipartite. Qual o fórum adequado para essa discussão? Curitiba não se manifestou no Conselho?
A comissão bipartite reúne-se uma vez por mês e, quando temos decisões a serem tomadas no intervalo entre uma reunião e outra, o presidente do Conselho concorda ou não e assina os documentos, referendado pela comissão, junto com a Secretaria de Saúde. Posteriormente, esses documentos são ratificados na reunião. Curitiba tem assento cativo na comissão e no Conselho. Nenhuma distribuição foi feita à revelia. E esses números estão abertos, com transparência total. Encaminhamos agora esses documentos ao Tribunal de Contas, Ministério Público e Controladoria Geral do Estado para que tenham ciência desses números e averiguem de que forma essas doses foram distribuídas, principalmente em Curitiba. Para não deixar dúvidas no processo. Estamos num momento de esperança, com esse calendário. O Ministério da Saúde tem a previsão de compra de 140 milhões de doses até setembro. Como recebemos 5% disso, teremos 7 milhões de doses, é uma conta real, econômica. Se algumas coisas falharem ainda conseguimos chegar nesta data. Então, não há motivo para esse ranço, esse mau humor unilateral, ainda mais tratando-se da capital do estado. Mas vamos superar esse momento. É apenas um momento de atrito. Meu conselho: observem mais, cuidem mais dos curitibanos, vamos fazer essa vacinação acontecer sem politicagem, neste momento tão importante. Vamos vacinar. O estado do Paraná não vacina ninguém, quem vacina são os vacinadores do município.
O senhor também contou, nesta manhã, que 95 mil doses da Pfzier que chegaram ao Paraná serão distribuídas para a vacinação por idade, para todos os municípios, conforme foi decidido pelo Conselho dos Secretários Municipais de Saúde. O senhor citou que o plano do estado era outro, mas acatou a ideia do conselho. Qual era o plano do estado?
Era mandar para um grupo de municípios, 227 ao todo. Mas, agora, todos os municípios fizeram treinamento para lidar com as doses da Pfizer e querem receber as doses. Como as doses não são nossas e sim do cidadão, se todos os municípios se consideram aptos a receber, vamos fazer chegar. São poucas doses, não haverá problema com armazenamento, é receber e aplicar.
Há alguns dias, em entrevista à Gazeta do Povo, o senhor disse que não entraria no “chutômetro” de outros estados que lançaram calendário de vacinação, mas previu que o Paraná aplicaria a primeira dose em toda a população adulta até outubro. O que mudou para o estado antecipar essa previsão e divulgar seu próprio calendário?
O que fizemos é um cronograma bem amplo, que não fala em idades à miúde, fala de grupos etários maiores. E fizemos uma conta econômica, dentro das cargas que chegam, do cronograma de entregas. Dentro do que estamos recebendo, a tendência é que até setembro a gente consiga fechar. Ao mesmo tempo, fizemos alguns exercícios. Chegando mais doses, podemos adiantar. Chegando menos doses, podemos manter a previsão com alguns ajustes. Mas, vale lembrar, que esse calendário é uma proposta. Ele não é obrigatório. É um olhar de esperança. Mas, infelizmente, essa dúvida colocada cria uma celeuma. É uma bravata, uma fanfarronice que fere frontalmente aquilo que temos trabalhado desde o início. Todos estamos com nervos a flor da pelo neste momento. Temos que manter a calma a serenidade e manter a responsabilidade para passar por isso com respeito ao cidadão.
A principal crítica aos governos estaduais que divulgaram esses cronogramas é que é uma calendário baseado na promessa de distribuição de doses pelo Ministério da Saúde. O Ministério vem, sucessivamente, alterando suas projeções e reduzindo os repasses mensais. O que faz crer que, agora, as previsões do Ministério serão cumpridas?
Os grandes contratos começam a ser entregues. Entram novos imunizantes, como a Janssen, amplia a participação da Pfizer e reforça a produção da Astrazeneca. Existe a possibilidade de compra, já no radar do Ministério de mais dois imunizantes. Então, vamos ter um quantitativo maior de doses aqui. Vacinar, no Brasil, não é problema. Temos capacidade instalada para isso. Estamos aplicando, hoje, cerca de 40 mil doses por dia no Paraná e podemos chegar, com planejamento e organização, a 150 mil doses por dia. Tenho muita confiança que vamos ter mais doses e, mesmo que não tenhamos, só seguir na mesma toada que chegaremos lá.
A vacina da Janssen, que o senhor citou, é um exemplo deste atraso de cronograma do Ministério. A previsão inicial era de chegada ao Brasil no dia 11 de junho, o que não aconteceu. Há uma nova previsão?
O Ministério, assim que receber, já vai fazer a descentralização. São 3 milhões de doses antecipadas, nós vamos receber cerca de 150 mil doses. Se houver a concordância dos secretários municipais, usaremos para os trabalhadores no transporte, tanto de carga, quanto de passageiros, rodoviários, ferroviários e aquaviários. São profissionais que, por estarem sempre em deslocamento, uma vacina de uma dose só cairá como uma luva. Também será reservado doses para moradores de rua. Em algum momento, essa vacina vai chegar: falou-se em terça-feira, depois na quarta-feira, hoje já é sexta, mas acreditamos que está para chegar.
Sobre os novos imunizantes, há ainda a questão da Sputnik V. Os estados do Nordeste já estão importando a vacina russa em caráter emergencial e o Paraná, que foi o primeiro estado a buscar um convênio com os russos, ainda não fez nenhuma compra, apesar de ter um contrato para o fornecimento de 10 milhões de doses. Em que pé está essa negociação?
Continuamos com a negociação aberta. Os estados do Nordeste estão importando uma pequena quantidade, para uso muito restrito e que tem uma licença específica para esse lote. Os estudos no Brasil não foram finalizados e não há aval final da Anvisa. Não podemos ultrapassar essas etapas oficiais. Temos aberto o contrato com a possibilidade de compra, mas, pensando com os olhos do negócio, o governo federal, agora, está fazendo sua parte na compra de doses. E, se acena com 140 milhões de doses até setembro, estaremos com o fornecimento resguardado. Talvez, essa conversa, com segurança jurídica e biossanitária será para a vacinação no ano que vem.
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Enquanto não temos a maioria da população vacinada, seguimos enfrentando a pandemia com hospitais lotados filas por leitos. Qual a situação atual da rede de atendimento? Há projeção de piora do quadro como efeito do dia dos namorados, como observado após o dia das mães?
O dia dos namorados foi dentro de um calendário de sábado e não detectamos grande aumento na circulação. Seguimos com os mesmo números de dias atrás, em que 40% dos testes realizados são positivos. Ainda estamos ajustando os números por conta de municípios com defasagem, Curitiba, por exemplo, mais uma vez, então estamos registrando óbitos retroativos, o que faz com que nossos números não reduzam. Mas estamos vendo a diminuição de 35% a 40% nas filas por leitos. É um momento de mais foco, mais determinação e mais atenção. Vamos vacinar as pessoas para vencer esse momento, mas enquanto isso, precisamos de todos os cuidados e das nossas medidas restritivas.
Estamos a dois dias do inverno. A Secretaria de Saúde trabalha com a possibilidade de aumento dos casos apenas por conta do clima?
Totalmente. Covid-19 é uma síndrome respiratória, coronavirus é um vírus respiratório. E a chegada do inverno facilita a disseminação porque as pessoas, geralmente, se acomodam em ambientes mais fechados. É um perigo, mas, ao mesmo tempo que é uma preocupação, não é uma novidade, porque estamos passando por isso há um ano e três meses e sabemos como lidar. Destaco, nisso, a importância da vacinação contra a gripe. Estamos distribuindo mais 800 mil doses, muitos municípios estão abrindo para a vacinação geral. E é fundamental para reduzirmos os casos de gripe e facilitar o diagnóstico da Covid-19. Se puder descartar os vírus respiratórios para os quais a população está vacinada, o diagnóstico de exclusão é muito importante.
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