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Fora dos holofotes desde que perdeu a eleição para o Senado, em 2018, quando, durante a campanha que liderava, foi preso a pedido do Ministério Público do Estado e da força-tarefa da Operação Lava Jato, o ex-governador Beto Richa (PSDB) está de volta. Pré-candidato a deputado federal e liderando o PSDB do estado na construção de um palanque para o presidenciável tucano João Doria.
A volta ao cenário politico faz, também, o ex-governador voltar a conceder entrevistas. Depois de alguns meses de insistência, Beto Richa recebeu a Gazeta do Povo na sede do PSDB, na última sexta-feira (25), para falar sobre tudo. Respondendo a oito processos em quatro grandes casos de corrupção investigados no estado (operações Integração e Piloto – desdobramentos da Lava Jato e operações Quadro Negro, Publicano e Rádio Patrulha, que investigam, respectivamente, desvios em construções e reformas de escola, fraudes na Receita Estadual e direcionamento de licitações na contratação de manutenção de estradas rurais), Beto Richa teve todos os seu processos remetidos à Justiça Eleitoral pelo Supremo Tribunal Federal.
Na entrevista, o ex-governador comenta a situação de cada caso, rebate as delações que o colocam como ponto central das investigações e faz duras críticas à força-tarefa da Lava Jato e ao Ministério Público do Paraná. Beto Richa também fala sobre o futuro, explica por que decidiu voltar para a política e diz que quer ser eleito deputado federal para exercer mais um mandato para “salvar a reputação”. Confira a íntegra da entrevista.
Desde 1994, quando foi eleito deputado, o senhor esteve sempre exercendo cargo público: deputado estadual, prefeito de Curitiba, governador do Paraná e, em 2018, depois de tudo o que aconteceu, o senhor se recolhe. O que Beto Richa fez nos últimos três anos?
Bem, em 2019, 2020 e 2021 eu fui cuidar da vida. Eu me recolhi, adotei o silêncio para ter paz. Foi uma pancadaria enorme. Eu e minha família fomos vítimas de um grande equívoco. Não há nenhum elemento que justifique o que fizeram conosco na véspera da eleição, a 20 dias da eleição. Não preencho nenhum pré-requisito para ter minha casa invadida, eu e minha mulher sermos sequestrados de casa. Tanto que o habeas corpus do Supremo deixa claro. Primeiro que o que estavam levantando como acusação não tinha nem contemporaneidade, pois levantavam fatos de 2014, de um programa que eu interrompi em 2014 porque o estado não tinha mais dinheiro, por conta da grande crise. Mesmo assim, meu governo foi, com apenas 18 meses do programa, o que mais readequou estradas rurais na história. Cancelamos o programa em 2014 e a investigação era essa. Prenderam para investigar, no meio de uma eleição, sem respeito à democracia. Eu estava muito bem posicionado e minha candidatura derreteu, foi praticamente cassada. Foi um sofrimento enorme, não desejo para ninguém o que minha família sofreu. A pancadaria veio de todos os lados, a grande mídia deu ampla repercussão, mas é até compreensível. Mas destruíram uma reputação que passamos uma vida construindo. Fui o melhor prefeito do Brasil em todas as pesquisas, o que se confirmou nas urnas na reeleição com 77% dos votos, o que me fez ser convocado a ser candidato a governador. As coisas da minha vida acontecerem de forma muito natural em função dos mandatos exercidos, retribuindo a confiança do eleitor. E, aí, governador, peguei o estado numa situação financeira delicada. Tive a coragem de fazer os ajustes fiscais. Coloquei até minha popularidade em risco, o meu capital político, para fazer o que era certo pelo estado, porque as medidas eram duras. E depois, atrás de mim, vários estados fizeram, inclusive, a reforma da Previdência, que, lamentavelmente, houve episódios na praça. Mas vários estados fizeram. Eu fui o primeiro a fazer, sofri com a incompreensão, e a grande mídia também não ajudou naquele momento que eu estava fazendo o melhor pelo meu estado, em prejuízo da minha popularidade. Mas eu apostava naquilo e dizia reiteradas vezes: todos compreenderão melhor quando comparar o Paraná que fez a lição de casa com os demais estados que não fizeram. E ficou claro. Deixei o governo e tenho o extrato do Banco do Brasil que mostra: dia 6 de abril de 2018, deixei em caixa R$ 6,7 bilhões e um canteiro de obras por todos os municípios. Hoje, todos os prefeitos e ex-prefeitos reconhecem os investimentos históricos que nós fizemos na suas cidades e nunca perseguimos um só prefeito. Isso acontece muito na política: o governo não manda recursos se o prefeito não for aliado político dele, se não estiver no partido dele, se não o apoiou na última eleição, se firmar compromisso político partidário, isso eu nunca fiz. Pode perguntar para todos, de PT à extrema-direita, todos foram igualmente atendidos no meu governo. Então, fui responsável e fui justo também no exercício do mandato. Se quiser falar de algumas áreas, especificamente, a saúde, por exemplo, o que nós fizemos aqui no Paraná, posso te assegurar, deixando a modéstia de lado, que não tem no Brasil o que nós fizemos na área de saúde.
O senhor foi alvo das ações da força-tarefa da Lava Jato, que, até 2018, era incontestável no país. Depois, alguns procedimentos, processos e ações deles começaram a ser questionados e revistos, como os do ex-presidente Lula e os seus, por exemplo. Como o senhor vê a atuação força-tarefa da Lava Jato?
Primeiro tem que deixar claro que a minha situação é muito diferente de algumas personalidades que foram vítimas da Lava Jato. E eu não tenho nenhuma condenação, nem em primeiro grau. E, certamente não terei, porque contra mim não existe meia prova, não existe um elemento que corrobore as acusações falsas que fizeram. Só para te dar um exemplo: quando, lá atrás eu fui perguntado pela imprensa: e agora, governador, o senhor está na Lava Jato, eu dizia a época: “a Lava Jato foi uma operação criada para investigar exclusivamente desvio de dinheiro da Petrobrás. O que eu tenho a ver com a Petrobrás? Nada”. Só que na época eu pregava no deserto. Porque o que a Lava Jato falava era lei. Muitos até viam os erros, os equívocos, os excessos da Lava Jato, mas não tinham coragem de contestá-la, porque eles estavam no auge do poder e a população batendo palmas para eles. E hoje essas condenações estão sendo revistas. Mas o meu caso não é o mesmo, eu não tenho nenhuma condenação. O que houve é que eu virei alvo pessoal. O pessoal tinha tanto poder que eles escolhiam os alvos. E mais, eles escolhiam quem vive e quem morre. E o que ajudou muito a desmistificar a Lava Jato foi o hacker. Ele deixou tudo explícito: o conluio, a relação promíscua do juiz com os procuradores. Imagina você sentar no banco dos réus e o juiz estar em conluio com seu acusador. Você está condenado. Você só vai esperar quantos anos de condenação. Isso não pode acontecer num país democrático como o Brasil. Como dizia Ruy Barbosa, a pior ditadura é a do Judiciário, você não tem a quem recorrer. E eu peguei o ápice do ativismo judicial. E o que me conforta é que três juristas conceituados, renomados (Lenio Streck, Alberto Toron e João Otávio Noronha), me citaram como exemplo símbolo da perseguição à classe política no Brasil. Mais um exemplo: a minha mulher foi detida também. Você sabe que, até hoje, não tem nenhuma acusação contra ela nesse processo? Não foi aberto denúncia contra ela, nenhum processo. Puxa vida, se você não tem nenhuma prova, o mínimo elemento que corrobora a acusação, para que submeter uma pessoa, ainda mais uma mulher, a um trauma como esse? Uma humilhação pública, um linchamento moral, trauma que, possivelmente, a pessoa carrega até o final da vida. Então, é um absurdo, eu não posso deixar de admitir que eu tenho profunda indignação em tudo o que aconteceu.
Todos os seus processos, governador, foram remetidos à Justiça Eleitoral. O senhor cometeu crime eleitoral?
Não, nem crime eleitoral. Mas se tem algum elemento nas acusações das pessoas, se tem alguma coisa que eles próprios admitem, “eu peguei para campanha dele”. A lei é clara, o crime eleitoral tem precedência sobre todos os demais. Mas, lá sim, no âmbito adequado, vou poder me defender e dizer que, também no âmbito eleitoral, não tem nada. Todas as minhas contas aprovadas na Justiça Eleitoral, sempre fui muito zeloso com isso. A minha equipe, que fazia campanha para mim - porque eu nunca trabalhei com captação, prestação de contas - a minha equipe, competente, sempre fez e sempre mereceu a aprovação com elogios às minhas campanhas. Lembro que uma campanha para prefeito eram 20 mil páginas de prestação de contas. E os meus adversários não chegavam a uma centena de páginas. Então, cada item da nossa campanha eleitoral estava ali, na prestação de contas.
Jorge Atherino, que foi seu sócio, chegou a prestar depoimento, no âmbito da Operação Piloto, admitindo Caixa 2. Ele não arrecadou para sua campanha? Ele não era de sua equipe?
Aí é problema dele. Eu não pedi para ele ir lá, não pedi para ele captar recursos para mim. Não sei quem foi, isso tem que ser visto melhor. O Jorge tinha loteamento com a nossa família, as empresas da minha mulher, um loteamento. E ele ficou, depois de feita a infraestrutura, com um percentual, e a nossa família com o outro. Não tem nada que já não foi investigado mil vezes. Não tem nada de errado. E o patrimônio da minha mulher todo foi feito uma perícia, um pente fino, na Receita Federal e está tudo em ordem. Já tem o laudo mostrando que está tudo rigorosamente em ordem. Aliás, todos sabem da onde vem o patrimônio dela. O que os advogados me contaram foi que o juiz, para bloquear os bens dela, escreve o seguinte: “embora seja notório que o patrimônio da senhora Fernanda Bernardi Vieira Richa seja de herança familiar, bloqueasse tudo”. E agora, no final do ano passado, o Supremo Tribunal Federal já oficiou pelo desbloqueio dos bens da Fernanda, inclusive atestando: “é patrimônio que tem raiz, ou seja, tem origem ou destino”.
O Jorge Atherino não atuou como arrecadador em suas campanhas eleitorais?
Não.
Mas na delação da J. Malucelli, que também chegou a se tornar elemento de uma ação penal na Operação Rádio Patrulha, antes de ir para a Justiça Eleitoral, tem aquela admissão de que encheram uma mochila de dinheiro e entregaram para o Jorge Atherino e que o destino seria a sua campanha...
Isso é palavra do delator. E a lei é clara, isso é outra contestação que eu faço. Não dá para sustentar denúncia com palavra de delator. Como ouvi dizer, tem que se apresentar provas. Eu não acredito que houve esse episódio. Porque quando a pessoa está ali, e isso aconteceu muito aqui: pessoas que são detidas, e eu tenho até vídeos no celular, porque os depoimentos na frente do juiz são gravados, a frase mais falada para eles era “entrega o gov. (governador)”. Diziam: “Não adianta entregar empreiteiro, diretor de governo, secretário ou quem quer que seja, queremos o governador. Entrega o gov. que você está livre. Entrega o gov. que você vai para casa”. Não pode fazer isso. Isso é tortura psicológica, isso é crime. E a Constituição é clara: a delação só pode ser homologada se for acompanhada de provas. E eu quero saber onde estão as provas. Obviamente, isso não existe. Era para se livrar da Justiça.
Na Operação Publicano, seu primo Luiz Abi foi um dos principais alvos. Qual o papel que ele teve nas suas gestões?
Ele não teve um papel. Era um colaborador, estava aqui, como muitas pessoas que chegam na campanha para colaborar de uma forma ou de outra, pedir votos. Tanto é que está praticamente tudo foi anulado lá na Operação Publicano, em Londrina. E lá aconteceu muito o “entrega o gov. que vocês vão para casa”. Prenderam 60 auditores fiscais, alguns até aposentados já. E eu não quero entrar em detalhes de alguns crimes gravíssimos que foram cometidos na Operação Publicano da parte dos meus acusadores. Isso a Justiça já está anulando tudo o que aconteceu lá, pela gravidade na condução daquela operação. Em nenhuma das acusações contra mim há provas, apenas palavras de delatores. E eu estou absolutamente tranquilo por isso: está tudo caindo pari passu.
Outro delator que apareceu foi o Mauríco Fanini, que também é uma pessoa próxima do senhor. Estudou com o senhor na faculdade e foi nomeado no seu governo. Ele afirmou que Beto Richa era o beneficiado dos desvios nas obras de escolas investigados na Operação Quadro Negro.
Ele é um pilantra. Eu o acusei no meu governo. Ele é um réu confesso e, para se livrar da Justiça, jogou no meu colo, porque só jogando no meu colo que poderia ter o benefício da delação. Mas, volto a insistir: cadê a prova? O que ele tem contra mim? Ele é um pilantra. Passou o pai pra trás. Não merece a menor confiança. Foi um equívoco ter colocado no governo, mas não imaginava que ele faria o que fez. É um escândalo. O que me deixa chateado é que o seu veículo, por exemplo, sempre que tem qualquer movimentação na Quadro Negro, como agora que inauguraram duas escolas, lembra tudo de novo que aconteceu ao longo da Operação Quadro Negro. Só esquece de colocar que quem denunciou para o Ministério Público fui eu. Quando nós recebemos, no gabinete, uma denúncia de superfaturamento na construção de um muro na Escola Amâncio Moro, no Jardim Social, em Curitiba, nós mandamos investigar na Secretaria de Educação e lá se levantou que os prejuízos eram maiores, que envolviam irregularidades em outras construções de escolas. E nós não tivemos dúvida, não titubeamos. Nós mandamos para a delegacia especializada da Polícia Civil. O Fanini foi preso no meu governo. Na hora que vimos o volume grande de irregularidades, nós encaminhamos para o Tribunal de Contas do Estado, para a Controladoria do Estado e para o Ministério Público. Aí viraram o canhão para mim. Aí ele falou que era para minha campanha e depois mudou, na hora que ele contratou outro advogado de delação, que era para o enriquecimento do Beto. Tudo bem. Vamos respeitar a Constituição. Cadê a prova? Quando? Que horas? Quanto em que conta? Não existe. Isso que é um absurdo, não existe. Então, quando forem contar tudo, não esqueçam da primeira parte, quem mandou para o Ministério Público fui eu, foi o meu governo.
Também na Rádio Patrulha, temos mais um delator envolvendo seu nome nas irregularidades ocorridos: o Tony Garcia. Que função ele teve na contratação das patrulhas rurais? O que era o tico-tico?
Nada. Nenhuma participação no meu governo. Não tenho nada com o Tony Garcia. Exatamente nada. Estás nos autos: na delação do empresário Celso Frare, ele diz claramente que ele chamou o Tony Garcia para assessorá-lo, que ele queria participar desse programa, que ele viu que a readequação de estradas rurais estava entre os pilares do meu governo e pensou, dito por ele, que o governo não ia ter condições de comprar tanto maquinário, ia ter que fazer uma terceirização e isso lhe interessava. Como ele não tinha relação comigo, conclui que precisava achar alguém. Ele foi atrás do Tony. Eu não tenho nada com o Tony, exatamente nada. Ficou muito claro isso tudo.
Se você ler os autos, você vai ver: “tico-tico” quem fala é um empresário a quem o Estado estava devendo. Nós tivemos que acabar com o programa, que era muito bom, porque nós estávamos em uma gravíssima crise financeira nacional que acometeu todas as administrações públicas. E nós cancelamos as patrulhas rurais. Aí nós atrasamos os pagamentos, as empresas que participaram dessa readequação - e foram todas feitas, com altíssimos índices de satisfação das pessoas - estavam nos cobrando. Aí encontrei empresários. Estivemos em um almoço e o Celso Frare estava lá. Aí, num bate-papo, perguntei como estavam os atrasados do governo e ele virou para mim e disse “Olha, recebemos um tico-tico”. Não tem nada com propina, foi distorcido, foi uma sacanagem. Está lá, é só ver os autos: “recebermos um tico-tico só. O estado ainda está nos devendo”. Ponto, foi isso aí. Aí foi deturpado, distorcido.
Como o senhor já disse, nenhum desses processos gerou condenação sequer em primeira instância. Mas a sua candidatura em 2018 chegou a ser impugnada pelo Ministério Público por causa daquela condenação da viagem a Paris. O senhor teme que, numa candidatura agora, em 2022, surja esse problema de novo?
Não. Todos os advogados já me falaram que não cabe inelegibilidade por essa situação. Aliás, foi outra sacanagem que fizeram comigo. Quem sabe um dia conte a história, que não posso contar agora. Eu perdi de 3 a 2 numa câmara. Foi uma parada técnica, porque a minha volta era por Paris. Eu tenho provas. Eu parei na empresa Translor para ver VLP, veículos leves sobre pneus, porque tinha um projeto aqui. E eu ia parar lá. Então ficava mais barato a passagem ponto a ponto, ir por Paris, porque depois voltava para lá. E sempre convidei as entidades que indicassem representantes para me acompanhar nas viagens. E isso aconteceu de novo. Pergunte aos empresários que me acompanharam se a agenda foi fácil, se tinha dia para passeio. Eu ia para a China e tinha que ficar em Paris uma noite. Meu Deus, se eu ia precisar de dinheiro público para ir para Paris? Modéstia à parte, estive lá várias vezes. Eu recusei muitas viagens ao exterior porque eu vou lá para trabalhar mesmo, não vou a passeio. Foi uma grande sacanagem contra mim. Eu não posso falar agora, mas um dia eu conto por que é que eu fui condenado. Mas não cabe inelegibilidade.
Esta sua volta à política, nos primeiros eventos que o senhor participou, o senhor disse que se sentia traído, falando em pessoas que estavam próximas até 2018 e que viraram as costas depois. Mas nunca citou nome. Quem são esses traidores? Seu ex-secretário de Desenvolvimento Urbano Ratinho Junior, sua ex-vice-governadora Cida Borghetti?
Eu nem lembrava mais disso. Muitas pessoas dizem que a minha raiva dura cinco minutos. Mas, lamentavelmente, a política é assim. E na vida pessoal também é muito parecido. Quando você tem poder é uma coisa. Quando você está sem o poder, você está por baixo, muitos se afastam. Isso fatalmente aconteceu comigo. Mas agora que eu decidi retornar para a vida pública, muitos aparecem de volta. Mas isso não me faz falta porque eu nunca gostei de bajulação, de confete, badalação. Eu prefiro ter minha vida pessoal com a minha família, com os poucos, mas leais, amigos. Sei que na política temos muitos amigos do poder, que quando você não está mais no poder, os falsos amigos desaparecem. Eu convivo com o poder desde que nasci, talvez, por isso, não fique deslumbrado e isso também não me atinge. Acompanhei isso desde que comecei a seguir meu pai.
Mas ficou algum ressentimento com o governo de Ratinho Júnior? A participação dele na Secretaria de Desenvolvimento Urbano do seu governo foi um passo importante para construir a candidatura dele ao governo do Estado. Mas, na campanha, ele declarava que “a candidata do Beto é a Cida”.
Falou isso depois do que ocorreu comigo, né?
Então tem alguma mágoa.
Não, mágoa nenhuma. É o projeto dele, está tocando seu governo, vai poder ser avaliado nas eleições? Não faço parte, o PSDB não faz parte do governo do Estado, hoje, por opção dele. Nem conversamos internamente no partido, se havia algum interesse, então foi um afastamento que aconteceu e está aí. O governo já está acabando, também.
Também nesses eventos, das prévias presidenciais do PSDB, o senhor foi homenageado por correligionários que disseram que o seguiriam para onde o senhor direcionasse o PSDB. Mas hoje, eles trocaram de partido depois que o PSDB decidiu pela candidatura própria ao governo. Casos dos deputados Ademar Traiano e Paulo Litro. Como avalia esse racha no PSDB?
Não teve racha. Quantos partidos nesse momento de abertura da janela para mudança partidária de quem tem mandato estão realizando mudanças? Isso aconteceu muito. E tanto o Traiano quanto o Paulo Litro, e tenho profundo respeito por eles e a recíproca é verdadeira, fizeram pelo projeto pessoal. É a estratégia deles: acharam mais conveniente, até por terem muitos municípios que representam, estarem ao lado do governo nessa eleição. Mas, por outro lado, também tivemos grandes filiações de políticos e grandes quadros de lideranças do Estado do Paraná. Ontem mesmo, em Ponta Grossa, filiados duas grandes lideranças desse importante município do Paraná, o Jocelito Canto e a sua filha, que é uma deputada muito atuante na Assembleia Legislativa, Mabel. E temos outras acontecendo ainda. Mas os que têm mandato, naturalmente, preferem estar ao lado do governo.
Mas a Mabel é uma deputada que tem se posicionado bastante crítica ao governo. Assim como fica no PSDB também o deputado Michelle Caputo, que também tem sido um deputado com posições contundentes na Assembleia, mesmo quando vai ao encontro de proposições do governo. O PSDB escolheu esse caminho? É um caminho de oposição?
Não. Se você for observar o mandato dos dois, eles são pessoas que têm personalidade. Pessoas que cumprem seu mandato com independência. Não quero dizer com isso que tenha um desrespeito ao partido. Então, como o partido está independente em relação a este governo, eles ficam à vontade para votar de acordo como melhor entenderem e para apontar os erros que eles imaginam que estão acontecendo até com um intuito. Não é critica por si só, não somos adeptos do “quanto pior, melhor”, até para corrigir, de repente, uma determinada rota e um programa que possa ser aperfeiçoado.
E por que a decisão de trazer o deputado Cesar Silvestri Filho, lançado pré-candidato a governador. Por que a candidatura própria e por que não um quadro interno do PSDB?
Porque dentro do PSDB ninguém tinha essa disposição de disputar uma candidatura ao governo do Estado. E o Cesar se mostrou interessado em apresentar um novo projeto para o estado do Paraná, uma alternativa ao que está aí. E conversando no PSDB, os deputados se convenceram de que seria um bom nome para ingressar no PSDB e defender esse novo projeto. Tenho visto as suas manifestações e ele tem demonstrado profundo conhecimento da realidade do Paraná e apresentado boas propostas. Ele vem surgindo aí de forma consolidada, como uma terceira via, e vem crescendo. E tem o que dizer: ele foi prefeito de Guarapuava, eleito e reeleito, saiu da gestão com uma altíssima aprovação popular, fez o seu sucessor. Então posso assegurar que é um excelente nome. Seu pai foi o chefe da Casa Civil durante um bom período. A sua mãe, deputada, também tem tradição da boa política de família. Então, acredito que é um nome que tem tudo para crescer e já está crescendo com o andar desta pré-campanha que nem começou ainda. Muita coisa pode acontecer.
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E a sua pré-candidatura a deputado federal está colocada? E por que a Câmara?
Muitas pessoas e lideranças do Paraná, em especial os prefeitos, me pediram para ir para governador. A palavra que eu mais escuto deles é saudades. Eu chegava nos municípios com um volume enorme de recursos, porque o ajuste fiscal, que eu dizia no começo da entrevista, foi bem sucedido. E outros entendem as minhas razões. Olha, eu não sei se é o momento. A pancada foi muito forte, embora todos reconheçam que foi uma grande injustiça que eu e minha família fomos vítimas. Mas os processos ainda não acabaram. Eu estou cuidando também dessa outra área e participar de uma campanha majoritária... Penso até que eu posso passar a campanha me defendendo dos ataques. Então não estaria muito disposto a isso. Não tenho medo de perder, de ganhar. Acho que existiria até uma boa chance de vitória. Mas eu acho que a gente tem que saber dar um passo atrás. Estou voltando mais também por causa da minha honra. Eu não aceito ir para casa humilhado, injustiçado, do jeito que aconteceu. A minha família tem uma história na política do Paraná e do Brasil. Uma história que começou a ser escrita pelo meu pai. Uma biografia belíssima. Eu não posso deixar que a biografia da minha família seja interrompida da maneira dramática e injusta como foi. Então, eu penso em pelo menos um mandato que seja. Depois, posso ir embora para casa. Mas se alguém tem minimamente dúvida da minha conduta, da minha família, vai deixar de ter. Estou voltando pela honra, mas até por isso vou trabalhar dobrado, participar das comissões, atuar, corresponder às expectativas daqueles que confiaram em mim, como sempre correspondi. Então, estou inclinado, resumindo, a participar das eleições como pré-candidato a deputado federal.
O PSDB, nacionalmente, está fechando essa federação com o Cidadania. Aqui no Paraná, o deputado Rubens Bueno já tem uma sinalização de apoio ao Ratinho Júnior. Tem como reverter isso internamente aqui?
Eu não posso falar pelo Cidadania, mas essa federação foi uma decisão nacional. Eu não fui consultado, não sei se ele foi. Só coloquei para a direção nacional do PSDB que eu não seria empecilho. Porque o mais difícil na coligação ou numa federação é conciliar todos os Estados. É humanamente impossível ter unanimidade. Não conversei com ninguém no Cidadania a respeito disso. Eu sei que eles resistiram a isso, porque querem estar junto com o governador do Paraná, o que não é o nosso caso. Então, agora aqui no estado tem esse obstáculo a ser vencido. Mas em política é possível. Eu me dou muito bem com o Rubens, não teria problema de chegar a um entendimento local com o Rubens, que é o principal líder do Cidadania no Paraná. E quanto às coligações, estamos acompanhando, também de longe, está bem encaminhada, uma coligação entre MDB, União Brasil e PSDB. E o trato é que até 1.º de junho vamos fazer pesquisas ou prévias para identificar dentro desses partidos quem reúne as melhores condições para representar os três partidos coligados à presidência da República, o que também poderíamos repetir no estado.
E que avaliação o senhor faz do cenário nacional e das possibilidades do pré-candidato do PSDB, João Doria?
Temos que admitir que a situação, no momento, não está sendo fácil para o candidato do PSDB. Temos visto seguidas pesquisas em que não está acontecendo o crescimento desejado. Embora o próprio João Doria sempre coloca como exemplo a sua candidatura a prefeito de São Paulo, quando ele saiu do zero, e ninguém acreditava na viabilidade da sua candidatura, que acabou vitoriosa no primeiro turno. Então tudo é possível, a campanha nem começou.
Desta conversa com União Brasil, com o MDB. O caminho dessa terceira via é uma candidatura única, somando, ali, as intenções de voto de todos os candidatos que se apresentam como alternativa?
O duro é somar. Eu acho impossível isso, falando de política. Quem vai abrir mão? Ninguém quer abrir mão. Agora que houve entendimento de partidos fortes, com grandes estruturas nos estados brasileiros. Vingando de fato, isso aí, chegando a um termo comum ao entendimento, pode ser uma terceira via que represente uma força considerável, embora devemos reconhecer que cada dia está mais consolidada essa polarização entre dois extremos.
E no Estado, a pré-candidatura de Roberto Requião pelo PT parece querer repetir o cenário de polarização no Paraná. Acha que é mais fácil o Cesar Silvestri furar essa situação?
No estado é mais fácil. Tenho andado por aí e sinto nas ruas, em todas as cidades, por onde passo. Nos últimos seis meses já visitei 80 cidades e recebo aqui na sede do PSDB muitas lideranças, prefeitos, vereadores e sinto na conversa com eles que tem um grande espaço para uma terceira via, sim.
Por que? Qual o descontentamento com o governo Ratinho Junior. Onde ele falhou?
Não quero fazer avaliações do governo e permita isso. Não quero fazer, tenho minhas razões, mas sinto que tem espaço, sim. Estou sendo muito sincero. E Requião vem com força grande, também apoiado pelo Lula, que está nessa polarização muito forte também. Então a eleição está aberta.
O senhor citou a pré-candidatura a deputado federal como talvez um passo atrás. E depois? Vai querer voltar a dar passos à frente? O sonho de ser senador da República permanece?
Eu não tenho um sonho, não tenho sonhos assim. Eu estou na política para servir. Talvez seja um papo difícil de acreditar. Mas acabei de dizer no começo da entrevista, que coisas da minha vida aconteceram de forma natural, em função dos mandatos que exercia. Você pode não acreditar em mim, mas com tudo o que aconteceu comigo, a armação, o sequestro que eu tive às vésperas da eleição, fraudando a vontade do eleitor, induzindo ao erro, eu não perdi um minuto sequer de sono por terem tirado oito anos do mandato de senador. Não perdi. Eu fiquei transtornado por causa da minha imagem, da minha honra. Eu fui submetido a uma humilhação pública, um linchamento moral. Isso me incomodou muito e hoje ainda incomoda. Mas, nós temos fé em Deus, me apeguei muito a Deus. Eu rezava o dia inteiro. Nós temos muita fé, mas, na hora do desespero, isso é natural do ser humano, você se apega mais ainda à religião. Eu entreguei literalmente nas mãos de Deus, quando me vi impotente para me defender. Ninguém queria me ouvir. Tentaram assassinar minha reputação, então isso foi muito ruim e me tiraram o Senado. Não penso em voltar. Pode ser um mandato só, mesmo. Se, lá na frente, as coisas aconteceram de forma natural, de novo, vamos avaliar na época certa. Mas, para mim, estaria satisfeito com esse mandato. Já podia ir para casa.