O vice-governador do Paraná, Darci Piana, completa 80 anos de idade em dezembro e só aos 76 decidiu entrar para a política - ao aceitar o convite para compor a chapa de Carlos Massa Ratinho Junior (PSD). Eleito vice-governador, vem desempenhando papel estratégico de interlocução com o setor produtivo, numa administração que não esconde governar próxima à iniciativa privada.
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Apesar de nunca ter se candidatado antes das eleições de 2018, Piana, que fez carreira na presidência da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Paraná (Fecomércio), diz que sempre esteve envolvido na política. “Eu sempre fui um defensor de que o empresariado deveria e deve se envolver com política, para que ele possa entender um pouco sobre como funcionam os governos, o porquê dessa morosidade que vemos no Poder Público e assim por diante. Fazer a crítica sem conhecer o intrínseco do processo de governo é muito fácil, por isso sempre fui defensor do empresariado se envolver em política”.
Em entrevista à Gazeta do Povo, Piana explica sua atuação na administração estadual, compara a gestão pública com seu trabalho no mundo empresarial, nega qualquer conflito de interesses com o fato de manter-se presidente da Fecomércio e se coloca à disposição para mais um mandato, “se os políticos quiserem”.
Nestes dois anos e meio como vice-governador, que comparação o senhor faz com suas atuações anteriores? As amarras do setor público são maiores do que vistas de fora ou é possível colocar em prática a maior objetividade, o pragmatismo do setor privado?
É uma experiência nova e um aprendizado muito grande que a gente acaba tendo, sobre algo que a gente nunca foi. Eu sempre fui frequentador do Palácio Iguaçu, como presidente da Federação do Comércio, do Conselho do Sesc e do Senac, do Sebrae, do G7, mas sempre vindo para conversar com o governador, com os secretários, fazer reivindicações, dar sugestões, mas a gente não tem noção do que acontece internamente, no sistema de governo. É completamente diferente. Lá fora você toma decisões, consulta tua diretoria, aprova e coloca em prática de forma imediata. Aqui tem uma burocracia que é normal do sistema de governo. Tem critérios que são necessários, normas legais, órgãos de controle e temos que seguir. Muitas vezes, fazemos críticas ao governo quando não é culpa dele a morosidade nas decisões. Mas nossa presença aqui tem tentado colaborar com o governador para colocar em prática métodos que adotamos em nossas empresas. Embora tenha uma carreira política, o governador Ratinho Junior também vem da iniciativa privada. Somados, estamos procurando dar uma dinâmica de acelerar e simplificar as decisões. O Estado tem que ajudar o empresariado e não atrapalhar. É fundamental a gente não perder esse ritmo que tínhamos lá fora. Então, dentro das regras e trâmites legais, estamos trazendo os mesmos critérios que adotávamos lá fora. Minha função é ajudar o empresariado a ver oportunidades e ter condições de investir para ajudar a economia do estado e gerar demanda de mão de obra para o trabalhador paranaense.
Neste período, o que o senhor destacaria como exemplo de uma questão que conseguiu dar agilidade e onde o Estado ainda esbarra para conseguir avançar?
É um exemplo simples, mas de grande relevância para a economia do Paraná. Quando assumimos, havia mais de dois mil pedidos para abertura de aviários para criação de frangos para abate no Paraná. Alguns com dois anos de espera. Liberamos todos. Hoje essa questão virou quase que automática. Você faz o pedido pela internet, o governo tem um prazo exíguo para dar o retorno e, se não der, ele está autorizado a iniciar a implantação, com o governo indo fiscalizar depois de pronto. Temos todo um plano de desburocratização. Simplificação de poder para fazer mais e mais rápido. Isso foi uma decisão de governo. Isso está sendo aplicado não só na agropecuária, como na Junta Comercial, uma vez que, hoje, podemos abrir empresas em minutos. Estamos fazendo de tudo para digitar e tornar bem mais fácil a obtenção de respostas do governo.
Dificuldades ainda são muitas. Tem muita coisa que a gente não consegue agilizar da forma como seria necessário, mas não podemos desistir. O governo é muito grande. A gente começa, agora, a entender que tem uma máquina muito grande, que vem de anos com sistemas arcaicos que precisam aos poucos ser agilizados. Não tem como fazer tudo de uma vez só, vamos fazendo por setores. A maior diferença de uma estrutura pública do porte de um governo de estado para a gestão de uma empresa é a quantidade de pessoas às quais uma decisão precisa ser submetida. E nós estamos atacando isso. Primeiro, com o enxugamento da máquina, com a redução de 29 para 15 secretarias. Já reduzimos um volume de decisões que, antes, tinha que passar por vários segmentos. Também reduzimos as autarquias, diminuindo a quantidade de entidades que representavam segmentos semelhantes juntando em uma só, o que torna as decisões mais simples. Hoje o Estado não está como gostaríamos que estivesse, mas está muito mais ágil, muito mais digitalizado. A experiência valeu, a gente tem procurado, todos os dias, dentro da estrutura do governo, agilizar as decisões.
A discussão do pedágio talvez seja o melhor exemplo da participação do setor produtivo neste governo. O G7 sentou à mesa com o Estado, discutiu a proposta e fez o governador mudar de opinião. Ser esse elo entre governo e setor produtivo é tua principal função no governo?
Sem dúvida. Eu me sinto responsável por essa ponte que está acontecendo. Estou ajudando a trazer a iniciativa privada junto com o governo para que o governo possa tomar suas decisões e para atender esse setor, que nada mais é que atender aos interesses do estado. Porque se a iniciativa privada é aquela que investe, aquela que dá emprego, aquela que arrecada, aquela que traz a renda, ela tem que ser bem tratada. Então, a gente está fazendo essa intermediação entre o setor privado e o governo e você tem razão em destacar como um dos principais exemplos a negociação sobre o pedágio. O setor produtivo é o setor mais preocupado com os custos do pedágio e, ao mesmo tempo, com a estrutura das rodovias para transportar sua produção. Por isso, se debruçou, colocou toda sua estrutura para estudar um modelo de pedágio mais justo, que foi apresentado ao governador e encampado pelo governo do estado. E essa licitação vai transformar nosso estado, com mais 3,5 mil km de rodovias duplicadas. Vamos investir no Porto de Paranaguá também, R$ 1,2 bilhão de investimentos, para quadruplicar a capacidade de carga. Há os investimentos na infraestrutura do Litoral para tudo isso, sempre com o apoio e os estudos da iniciativa privada.
Essa questão da infraestrutura, certamente, é o exemplo mais claro de como governo e setor privado precisam andar juntos, mas há muito mais coisa acontecendo. Pela Fecomérico, colocamos a estrutura do Sesc e do Senac para qualificar os trabalhadores paranaenses. São quase 100 unidades dando suporte de qualificação de mão de obra. Todo o sistema S entrou nessa, o Sebrae coordena tudo. Isso já é o processo de entrada da iniciativa privada no governo, muito antes da nossa gestão. Mas, agora, eu estou como intermediário disso. As conversas com os prefeitos, as conversas com as associações comerciais locais, com o empresariado em geral. Isso tudo tem ajudado a encontrar soluções práticas efetivas e que não são de grandes investimentos para ajudar o governo do estado. O governo não consegue chegar a todos os lugares com a agilidade necessária e nós (setor privado) já temos estrutura pra isso.
E não há conflito de interesse nesta tua atuação em prol do setor que representa?
Não sei por que raciocinar desta forma. Eu não tenho interesse nenhum. Primeiro, porque não sou político de carreira; segundo, porque não tenho mais, hoje, empresas para defender, uma vez que só posso estar aqui porque vendi meus negócios. As empresas precisavam crescer, eu não tenho mais idade para fazer esses investimentos, minha família não é grande, então vendi. Não estou misturando uma coisa com a outra, nunca fiz isso na minha vida. Sou um homem com recursos financeiros suficientes para manter meu padrão de vida, não preciso estar me envolvendo com coisas que não são corretas. Procuro fazer o meu papel, dentro de critérios éticos, que é o que norteia todo esse governo.
O senhor sentiu que se transformou de pedra em vidraça? Do representante que ia ao palácio cobrar o governo para pessoa que hoje é procurada com cobranças por seus pares? Como foi lidar com as críticas do comércio durante as medidas de restrição por conta da pandemia, por exemplo?
Neste período de pandemia, se eu falar que no setor que eu próprio represento, que é o comércio, que viveu aquele período de fecha e abre, não tem alguém criticando, estaria mentindo para mim mesmo. Todos os dias eu recebi representantes de alguma área reclamando. Minha federação é Comércio Serviços e Turismo, exatamente as áreas mais afetadas. Como conciliar isso? Com decisões sábias e coerentes. Não podíamos deixar morrer gente sem atendimento médico, em casa, ou mesmo na rua. Assim, as decisões foram técnicas, com base nos indicadores da saúde, sem politizar o problema ou ceder a pressões. Procuramos, sempre, respeitar o momento do vírus, as curvas, a disponibilidade de leitos e equilibrar a economia, respeitando, também, quem precisa trabalhar para sobreviver. Sem dúvidas, a pandemia foi o que mais atrapalhou. Porque o Estado está muito bem, vendo pelos dois lados. Planejamos R$ 40 bilhões em investimentos privados em quatro anos e estamos chegando a R$ 55 bilhões em dois anos e meio. Nenhum local do estado está sem investimento.
E para o ano que vem? O senhor é do PSD, o mesmo partido do governador. Mas ele já está construindo uma aliança que tende a ser muito grande. DEM, PP e Cidadania já declararam apoio e vão reivindicar vaga na chapa. O senhor acha que ainda tem espaço para buscar a reeleição?
Isso é problema dos políticos e não meu. Se acharem que estou fazendo um papel de conciliação, de representante do setor privado dentro do governo e, dentro do governo, esteja conseguindo fazer o equilíbrio desse atendimento com as pessoas, os prefeitos e os empresários, vão me convidar e eu não teria razão para recusar. Agora, não cabe a mim decidir isso. Cabe ao governador e às lideranças políticas que fazem parte desta articulação.
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