Ney Leprevost abriu mão da candidatura a prefeito e voltou para a Secretaria de Justiça.| Foto: Jonathan Campos/Especial para a Gazeta do Povo
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Um dos principais fatos das eleições municipais de Curitiba, determinante para a tranquila reeleição do prefeito Rafael Greca (DEM) no primeiro turno, ocorreu antes mesmo dos registros das candidaturas: a desistência do deputado federal e secretário de Estado da Justiça, Ney Leprevost (PSD), de disputar a prefeitura. Segundo colocado em 2016, Leprevost era visto como o principal adversário de Greca no período pré-eleitoral. Mas seu partido, o mesmo do governador Carlos Massa Ratinho Junior, e por interferência direta do governador, decidiu apoiar Greca, tendo na chapa o candidato a vice-prefeito, Eduardo Pimentel, então recentemente filiado ao partido. Leprevost foi “convocado” por Ratinho Junior a voltar para a secretaria, da qual havia se desligado para disputar a eleição e anunciou, em nota oficial, a retirada da candidatura para atender à convocação do governador. Quase um mês depois da reeleição de Greca, em entrevista à Gazeta do Povo, o secretário avalia sua decisão, diz não ter arrependimento da decisão e afirma que sua candidatura não teria chances de vitória nas circunstâncias em que a eleição ocorreu. "Não teria como disputar sem dinheiro, sem campanha na rua e sem apoio do governador". Confira a entrevista:

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Um mês depois, como o senhor analisa o processo eleitoral que levou à reeleição de Rafael Greca (DEM) no primeiro turno, tendo, como um dos principais fatores para esta vitória tranquila, a ausência dos principais adversários que se apresentavam no período pré-eleitoral - entre eles, o senhor?

Em primeiro lugar, acho que foi uma pena nós termos eleição neste ano. Na época em que foi discutido pela Câmara Federal, houve uma pressão muito grande do presidente do TSE, Ministro Luiz Roberto Barroso, para que houvesse eleição neste ano, eu até fiquei em dúvida. Eu achava que poderia haver um risco para a democracia com o adiamento da eleição. Mas, agora, vendo tudo que aconteceu, vendo esse tsunami de Covid-19 que veio depois da eleição, eu penso que a eleição poderia ter sido adiada um pouco. Para o meio do ano que vem, ou, até mesmo ser feita a unificação com as eleições gerais, estendendo os mandatos dos atuais prefeitos por mais dois anos, mas os impedindo de serem candidatos à reeleição. Acho que todos erramos em fazer a eleição neste ano. Principalmente por questão de saúde pública, mas, também porque foram eleições menos democráticas. Foi uma eleição sem povo, com 30% de abstenção. Mas, pior do que essa abstenção, foi que não foi possível fazer uma campanha olho no olho. A campanha foi toda por redes sociais. E todos sabemos as armadilhas das redes sociais. Não foi bom, mas foi o que tivemos. Foi democrática, não foi, de qualquer forma, fraudada, ela só foi feita no momento errado. E os curitibanos que foram votar acabaram optando por reeleger o atual prefeito. Temos que respeitar esse resultado.

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Penso que fiz bem em não disputar a eleição. Confesso que, pelo meu estilo de fazer política, eu não saberia fazer campanha distante do povo como foi esta campanha. Eu sou muito de ir nas casas, visitar pessoas, fazer reuniões nos bairros, caminhar nas ruas, ir às feiras, às festas de igreja, grandes eventos, jantares de adesão. Então, eu acho que fiz certo de não me candidatar, porque não teria como fazer campanha só pela internet. Meu perfil não é de um candidato de internet. Respeito os que têm esse perfil, mas não é o meu. E tinha a questão da crise econômica também. Eu não tinha fundo partidário para enfrentar uma campanha, tinha pregado e mantive minha coerência de que o dinheiro do fundo eleitoral deveria ser repassado para a área de saúde. Portanto, eu teria que arrecadar com pessoas físicas, o que era inviável neste cenário de pandemia. Então, não era uma eleição que eu disputaria com chances. Hoje, passado o processo, eu vejo que fiz certo em ficar fora.

Se não tem o arrependimento de não ter disputado há eleição, tem preocupação com prejuízo perante o capital eleitoral que o senhor conquistou lá em 2016 e que até te levou a ser deputado federal pela primeira vez dois anos depois?

Não, porque eu vejo a eleição majoritária como muito diferente da eleição proporcional. O eleitor que votou em mim no segundo turno não votou em mim para deputado federal. Quem votou em mim para federal foi quem já votava para deputado estadual. É uma base muito sólida. Eu não me elejo através de campanhas feitas por prefeitos ou governador. Eu tenho uma relação direta com meu eleitor, diferente de um eleitor de segundo turno, que é o que vota em você porque não quer o outro candidato. Eu não tenho o voto da esquerda, mas, no segundo turno da eleição para prefeito, muita gente de esquerda acabou votando em mim. Então, não vejo desta forma e avalio, até, que fortaleceu, junto aos meus eleitores, essa questão de eu colocar de forma franca e transparente os motivos pelos quais eu não fui candidato. Meus eleitores entenderam os motivos e me apoiaram. Quem ficou bravo comigo foram os eleitores do Gustavo Fruet, porque achavam que se eu disputasse, o Gustavo teria uma chance de ir para o segundo turno.

E o senhor acha que realmente ficaram claros e transparentes os motivos que fizeram o senhor abrir mão da candidatura? A decisão foi anunciada através de uma convocação do governador Ratinho Junior para que o senhor voltasse à Secretaria de Justiça. Não ficou a impressão de que o senhor só não foi candidato por conta de uma ordem do governador, a principal liderança de seu partido?

Acho que foi uma soma de fatores. Você ser candidato sem recursos, sem alianças partidárias (hoje você vê muitos partidos reclamando que não houve uma candidatura para fazer frente ao Rafael Greca, mas ninguém quis fazer composições), sem condições de fazer uma campanha em meio à pandemia e sem o apoio do governador, que é a principal liderança de seu partido, todos esses fatores se somam. E acho que o governador até foi prudente de não lançar um candidato do partido dele neste momento, porque ele não queria, no meio da pandemia, que é uma tragédia mundial, levar para dentro do palácio do governo uma briga. A gente sabe que qualquer eleição que seja disputada com o Rafael Greca é guerra. Rafael Greca é um ser político, e um ser político que joga pesado, rodeado de pessoas experientes que não medem esforços para garantir a ele a vitória. Colocar o governo no meio de uma briga desses no meio da pandemia não seria inteligente por parte do governador. Então, eu tive a humildade para seguir a determinação do líder do partido, que é ele. No momento que eu não quiser mais seguir a liderança do governador eu tenho que trocar de partido, porque dentro do PSD do Paraná, estabeleceu-se que ele é o grande líder e temos que respeitar a hierarquia partidária.

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Quando o senhor disse que disputaria sem o apoio do governador, o senhor acha que se insistisse na candidatura o senhor não teria o apoio do governador que é de seu partido?

Acho que não. Acho que ele não faria campanha contra mim em hipótese alguma, porque nossa aliança é muito sólida e é anterior à política, de amizade de família mesmo, mas não creio que eu teria a ajuda dele. Tanto que ele me pediu para não disputar porque ele não queria levar para dentro do Palácio Iguaçu uma guerra política. E teria sido uma guerra mesmo, contra o Greca até por tudo que aconteceu na eleição anterior, pelos ataques infundados, pela injustiça. São circunstâncias da política e a política é feita de circunstância. O [Winston] Churchill dizia que o encantador da política é que você pode nascer e morrer várias vezes. Você tem uma morte política num momento e, depois, você ressurge, como aconteceu com o Rafael Greca, que chegou a não conseguir nem se reeleger deputado e depois ressurgiu candidato a prefeito com uma força avassaladora e hoje se consolida como uma das principais lideranças políticas do estado.

O movimento do governador para te convencer a não ser candidato, a fugir desta guerra, começou em abril, quando ele filiou o vice-prefeito, Eduardo Pimentel, ao PSD?

Sim. A filiação do Eduardo Pimentel foi o que acabou com a minha candidatura a prefeito neste ano. Eu tentei resistir, tentei lutar, me licenciei da secretaria para tentar viabilizar a campanha, mas, a partir do momento que o Eduardo se filiou ao PSD, o meio político deixou de ter uma expectativa de que eu poderia conseguir vencer a convenção e ser o candidato do PSD. Lutamos até o fim, mas quando vimos que isso inviabilizava alianças, que eu não teria apoio do governo, poucos recursos e o agravamento da pandemia, eu achei sensato abrir mão da candidatura. Foi prudente não disputar. Foi doloroso, foi sofrido, fiquei triste, mas foi prudente. E tenho a resiliência suficiente para suportar essa frustração.

E internamente, no partido, como foram as discussões e disputas mesmo nestes seis meses entre a filiação do Eduardo Pimentel e a retirada da sua candidatura?

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Mesmo com a filiação do Eduardo, o governador não expressou o seu desejo verbalmente. Mas o sinal estava claro. Todo o meio político compreendeu. Mas eu resolvi lutar e lutei até onde foi possível. No entanto, nunca houve uma tensão no clima. O governador é democrático, é um diplomata e sempre conversamos com franqueza. Fomos sempre muito sinceros um com o outro. Houve conversas duras, mas sem estremecimento, briga, ou risco de rompimento. Temos uma relação sólida que não se abala por uma situação específica de uma única eleição.

E depois, com o PSD oficialmente na coligação de Greca, com o candidato a vice-prefeito, e o senhor declarando publicamente apoio ao Dr. João Guilherme (Novo) e atuando na campanha de seu irmão, candidato pelo SD, que não apoiou Greca?

Não fiz campanha para o Dr. João Guilherme. Até quis me envolver mais na campanha dele no início, mas houve resistência do Partido Novo à minha presença na campanha. Depois, no final, apenas gravei um vídeo declarando voto nele. E fiz por acreditar que era o melhor candidato. Mas isso não gerou nenhum estresse dentro do governo, porque eu comuniquei ao governador Ratinho Junior que não iria apoiar o Greca, por questão de coerência. Além disso, ficaria ridículo para o Greca receber meu apoio, assim como ficaria ridículo para mim eu apoiá-lo. Então isso ficou bem claro. Conversei, inclusive, com o Eduardo Pimentel. Não participei da campanha, foquei na gestão da secretaria e estamos colhendo ótimos resultados aqui, principalmente na geração de empregos.

Não se arrepende de não ter sido candidato, não acha que perdeu capital político, mas e a “fila” dentro do partido. Qual é teu futuro político agora? Traçou, neste recuo deste ano algum plano para 2022? Tentará a prefeitura em 2024? Se tentar, terá um adversário interno que é o Eduardo Pimentel, que despontaria como sucessor natural do Greca depois de oito anos na vice, não?

Sempre disse que ser prefeito de Curitiba, para mim, não é uma obsessão. Disputei a eleição para servir a cidade. Se os curitibanos entenderem, daqui a quatro anos, que precisam de mim, se as pesquisas indicarem que aquele que estiver no exercício do mandato não está indo bem, estou à disposição. Mas se o Eduardo Pimentel estiver substituindo o Greca lá na frente e estiver fazendo uma ótima gestão, eu não terei o menor problema em apoiá-lo. Acho ele uma pessoa de bom caráter. É uma pessoa com quem eu tenho ótimo relacionamento. As circunstâncias do momento que determinarão quem será candidato. E isso vai depender do Eduardo. Há uma expectativa no mundo da política que ele venha a substituir o Greca, que, especula-se, pode ser candidato a senador ou a vice-governador em 2022. Se ele realmente vier a substituir e estiver indo bem, não há por que disputar contra ele. Agora, se ele entrar e não fizer um bom trabalho, faremos a nossa parte, estaremos à disposição. Quanto a 2022, sobre mim, eu já ouvi boatos de todas as espécies, de que seria candidato a senador, conselheiro do Tribunal de Contas, já ouvi de tudo. Não há nada disso, não houve negociação ou composição. Não estamos tratando disso no momento, não estou fazendo política eleitoral. Estou focado na gestão da Secretaria.

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Se Rafael Greca foi eleito praticamente sem adversários, o resultado das eleições municipais indicam um favoritismo muito evidente do governador Ratinho Junior em 2022 e, também a ausência de lideranças políticas no estado que, hoje, possam representar uma ameaça à sua reeleição. Permanecer com Ratinho Junior numa próxima gestão é um caminho?

Não há adversário para o Ratinho Junior no Paraná, mas também está havendo dificuldade para se apontar um adversário para o presidente Jair Bolsonaro. E o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, já citou ele como um dos nomes. O governador Ratinho, à princípio, declinou, mas eu jamais deixaria de incluí-lo nesta lista, porque a gestão moderna que ele vem fazendo no Paraná pode colocá-lo na vitrine nacional e o nome do pai dele, que tem uma penetração incrível nas populações mais humildes de todo o país pode torná-lo conhecido de uma maneira muito rápida. Então, eu jamais tiraria essa hipótese de uma análise política, senão na próxima eleição, numa outra.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]