No dia seguinte à reeleição, o prefeito de Curitiba, Rafael Greca (DEM) comenta, em entrevista à Gazeta do Povo, seu desempenho (e de seus rivais) nas urnas, analisa a nova composição da Câmara Municipal e já adianta as prioridades para o terceiro mandato. O prefeito reafirma que a condução do enfrentamento da pandemia na cidade está sob responsabilidade do conselho técnico da prefeitura, compromete-se em não reajustar a tarifa do transporte coletivo no próximo e garante que haverá aumento salarial para os servidores públicos. Para a retomada econômica, Greca aposta na geração de empregos através das obras públicas, afirmando ter R$ 2 bilhões para investir na infraestrutura da cidade. Ele também avaliou o cenário nacional após as eleições, afirmando que o brasileiro escolheu o caminho do centro. Confira a íntegra da entrevista.
Como viu a reeleição já no primeiro turno, com praticamente 60% dos votos válidos?
Recebo como reconhecimento do meu trabalho de urbanismo e de requalificação da prefeitura de Curitiba. A cidade hoje está mais bonita, mais bela e mais justa do que eu a recebi do meu antecessor. A cidade está solvente, letra A do Tesouro Nacional, com R$ 600 milhões do fundo de emergência em caixa, com todos os pagamentos em dia, sem dever a nenhum fornecedor, com o almoxarifado da Secretaria de Saúde sobrando remédios e com estoque para enfrentarmos esses três meses que vêm e mais o próximo semestre inteiro. Estamos, agora, começando os mutirões de saúde, estamos com um imenso programa de obras, com 15 mil empregados nos canteiros de obras da prefeitura neste momento e previsão de até 85 mil empregados no primeiro semestre do ano que vem, quando tivermos começado as obras do Inter 2, as obras do bairro novo da Caximba, o grosso dos 200 km de asfalto no saibro e os novos 500 km de asfalto novo. A população entendeu, Curitiba é inteligente e 500 mil pessoas me confirmaram como seu prefeito.
Com essa votação, que indica a aprovação de sua administração, o próximo mandato será de manutenção das atuais políticas ou terá novidades e, até, mudanças?
Temos 250 propostas em nosso plano de governo que vão ter que ser aplicadas e que trarão novidades quase que semanais para a prefeitura. A minha equipe, a rigor, vai ser confirmada, com uma ou outra adequação pontual, por interesses pessoais de alguns secretários, mas vemos com grande entusiasmo a retomada econômica, que será feita a partir do Natal, que começa já no domingo, com a festa de Santa Cecília, padroeira dos músicos, com uma atividade no coreto digital do Passeio Público, ao cair da tarde.
Se optou por manter o prefeito, o curitibano mexeu bem com a composição da Câmara. Já parou para analisar como ficou o Legislativo, qual será sua base?
Vi com muito entusiasmo que a minha bancada, do partido Democratas, é a maior, que meu líder (Pier Petruzziello – PTB) foi reeleito e a maioria dos vereadores que nos apoiam foi reeleita. Houve uma renovação de 18 vereadores, mas que têm, também, quadros muito interessantes, como a primeira vereadora negra de Curitiba, uma professora doutora, historiadora, e eu não terei dificuldades em conversar com ela. Vejo também com entusiasmo a renovação, porque ela acrescenta novidade ao quadro do debate legislativo. Nós temos uma base sólida, com a bancada do governador Ratinho Junior (PSD), mais a minha, mais a de vereadores que tradicionalmente nos apoiaram e que apenas por questões partidárias não puderam estar comigo, mas seguem sendo meus amigos. Vereadores que tiveram sua reeleição nascidas do meu programa de obras feitos na sua base e que foram fieis a mim neste período que se encerra.
O senhor vai buscar apoio dos vereadores do PDT e do PSL, por exemplo?
Quem for a favor de Curitiba, que direito eu tenho de ser contra? Eu não sou um botucudo. É uma Câmara Municipal, não é uma rinha de galos.
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A estratégia de não debater se mostrou eficiente, mas, agora, depois de eleito, o senhor não acha que faltou consideração com os demais candidatos e, principalmente, com o eleitor curitibano?
Isso é só você que acha e algumas partes das viúvas dos meus opositores. Você eu sei que quer o debate pela dialética, mas o debate foi com a população e eu fui aprovado por 60% dos curitibanos, que entenderam a minha proposta. O debate é profícuo quando há argumento na parte opositora. Mas quando só há desaforo, que é a ausência de argumento, não tinha por que eu subir de escada para pessoas que falaram coisas completamente estapafúrdias, como, por exemplo, que hoje eu ia fechar a cidade, ou que eu dei R$ 200 milhões para as empresas de ônibus quando eu baixei o custo do transporte coletivo. Para não falar de coisas piores, que ficaram para baixo da cintura, e que morreram, estão arquivadas no lixo da história. Todo mundo que se meteu a me fazer desaforo perdeu, aliás, diminuiu, diminuiu, diminuiu, saíram muito menores do que entraram na eleição.
Para encerrar o assunto eleições e depois falarmos um pouco da cidade, como o senhor viu o cenário estadual, com o governador Ratinho Junior (PSD) se fortalecendo ainda mais e o cenário nacional, com o seu partido, o DEM, sendo o destaque nas capitais?
É a lição da virtude que existe no equilíbrio. Quando Buda começou a sua caminhada na Terra, ele viu um pai ensinar o filho a tocar cítara: “Se puxar demais, a corda arrebenta, se deixar frouxo, não toca”. E o Buda entendeu e formulou Maaiana, a doutrina do caminho do meio, que foi qualificada para o ocidente na grande sentença de Santo Agostinho “a virtude está no meio”. A virtude está no equilíbrio. Se o meu partido puder oferecer equilíbrio ao Brasil, bendita seja a democracia e a legenda democrata.
O senhor já explicou, na nossa entrevista anterior à eleição, os motivos que o levaram a enviar para a câmara o custeio emergencial do transporte coletivo. Mas até quando permanecerá a situação de emergência? Quanto será repassado às empresas no total?
Nós vamos avaliar na medida da evolução dos índices da pandemia. Por enquanto, estamos com 380 mil passageiros por dia, estamos com mil ônibus do total de 1500 da frota. Eu vou convocar uma reunião de governo, vou conversar com o presidente da Urbs, para avaliarmos até quando deve ser a emergência. A princípio, pelo acordo feito no BNDES e, também, em juízo, nos termos da lei nacional da pandemia, as empresas ficam sem lucro até dezembro. E isso não pesa na tarifa do ano que vem, para desespero dos nossos invejosos.
E o valor da tarifa. Em 2020, não houve reajuste no valor da passagem de ônibus. Terá em 2021?
Se não pesa na tarifa, não vai subir, não vai abaixar, não vai nada. Pelo contrário, nós vamos fazer 25 linhas com o transporte mais barato entre as 9h e as 17h.
E não vai ter tarifa acima de R$ 4,50?
A tarifa de R$ 4,50 é a tarifa que vai ser mantida no ano de 2021.
Domingo, no TRE, o senhor já anunciou reajuste ao funcionalismo. Vai sair mesmo? Quando e de quanto será?
Isso eu vou contar depois, uma boa notícia de cada vez. A boa notícia, agora, é que eu fui reeleito, a outra boa notícia vem depois. Anunciei ontem, mas nós vamos avaliar agora quando vamos detalhar isso. Nós vamos liquidar o 13º nesta sexta-feira. A prefeitura me ajudou muito na eleição. Houve uma ou outra voz dissonante, fizeram panfletos mentirosos, usaram a Kombi dos sindicatos, agrediram vereadores da minha base, mas se ferraram, agora vão ter que responder na Justiça, e a grande maioria dos servidores me apoiou.
O senhor fez essa promessa, ao se eleger em 2016, do plano de carreira para os servidores da educação e não conseguiu cumprir. Neste mandato sairá?
Eu encontrei uma terra arrasada na prefeitura e eu tenho a Lei de Responsabilidade Fiscal. Naturalmente, em 2022, quando passar o período de carência que a lei da pandemia nos obriga a cumprir, nós vamos tentar construir um plano de cargos e salários que pare em pé. Não adianta eu propor uma coisa que não pare em pé. As cidades de Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro ficaram insolventes, ou inviáveis, até 2030 por leviandade na aplicação de planos de cargos e salários. Antes de agradar o funcionalismo, a prefeitura pertence a todos os cidadãos de Curitiba, que são os nossos patrões.
O auxílio emergencial do governo federal termina em dezembro, muitos curitibanos diretamente prejudicados pela pandemia podem ficar desamparados e uma boa quantidade de dinheiro deixará de circular na cidade. Como o senhor vê essa questão da retomada pós pandemia, tanto do ponto de vista econômico, quanto do ponto de vista social?
A retomada econômica está acontecendo, está tudo aberto em Curitiba, tem R$ 100 milhões à disposição do empresariado nas Ruas da Cidadania, nos Espaços do Empreendedor, (empréstimos) que podem ser feitos através dos orientadores do Sebrae, também pelo site do Sebrae. E tem, também, o Natal, que começa essa semana, com o uso de um canal streaming, que vai empregar 2 mil artistas entre músicos, bailarinos, figurinistas, maquiadores, iluminadores, além de pessoal de turismo receptivo. Nós vamos convidar a população a percorrer os cenários do natal em “drive tour”. As pessoas, dentro do automóvel, vão percorrer o Parque Náutico e o Parque Barigui. E vamos ter, também, eventos presenciais no Jardim Botânico, no Passeio Público e no Parque Tanguá. Além disso, estamos em execução com 15 mil empregos no programa de obras da cidade. Hoje eu recebi uma planilha, com a licitação que foi lançada na sexta-feira, de 75 ruas que vão ganhar asfalto novo. E, para o ano que vai nascer, vão ser 85 mil novos empregos dos R$ 2 bilhões que eu tenho já contratados para gastar para fazer essa grande cidade funcionar.
Teve candidato que prometeu auxílio emergencial municipal. Isso é necessário?
Prometeram com o meu bolso, com o fundo de emergência que eu fiz. Por isso que perderam, porque a população sabe que o fundo de emergência da cidade é para proteger a cidade de catástrofe. E a população nos protegeu da burrice de prometerem isso.
Das 250 propostas de seu plano, a Gazeta do Povo separou 60 que são possíveis de acompanhar e mensurar o cumprimento ou não, e que iremos cobrar o senhor no fim do mandato. Entre elas está a conclusão da Linha Verde. Por que essa obra se arrasta por tanto tempo? Por que não foi possível concluí-la no atual mandato?
A linha Verde vai ficar pronta entre dezembro de 2021 e março de 2022. Ela é uma obra de 12 pistas, com duas delas de cimento armado. Ela tem obras colossais de macrodrenagem, tem vários viadutos e várias trincheiras e só uma pessoa muito ignorante em engenharia poderia achar que ela poderia ficar pronto do meio-dia para a tarde.
E dessas propostas, quais são prioritárias para o começo do novo mandato, ou, até para começar antes mesmo da virada do ano?
Nós estamos com os projetos sendo feitos, de todas as travessias da BR, da Pirâmide Solar da Caximba, da rotatória aérea do Orleans, mas projetos de engenharia são complexos e levam entre sete e 12 meses. Ninguém calcula uma mega obra de engenharia com a velocidade de quem faz um desenho. Também temos o grande anel do Inter 2, que é um projeto fabuloso, já foi contratado, estou pagando pela prefeitura e logo vou assinar o convênio com o BID (Banco Interamericano do Desenvolvimento).
O senhor citou, mais cedo, que adversários tentaram politizar o enfrentamento da pandemia, afirmando que a cidade entraria em lockdown após a eleição, o que o senhor negou. O número de novos casos de Covid-19 em Curitiba na última semana foram assustadores, iguais aos de agosto, quando a cidade enfrentava o pico da doença. Desta vez, não se aumentaram as medida restritivas. A bandeira seguiu amarela. Uma revisão da bandeira agora dará razão para esses seus adversários. Como a questão será tratada, de forma técnica ou política?
A média ponderada de casos ativos não é assustadora. Nós aprendemos com o decorrer da pandemia. Eu confio cegamente no comitê de técnica e ética médica, confio cegamente no Dr. Clóvis Arns da Cunha, que é meu orientador neste problema, e foi que me curou. E confio nas boas notícias, como a da que a vacina da Pfizer já vai ficar pronta e que tem 95% de eficácia. Ontem, conversando com o João Dória (governador de São Paulo) ao telefone, ele me ofereceu a vacina do Butantan. Mas eu também quero a vacina russa, a vacina alemã, a vacina inglesa. De onde vier uma vacina, desde que aprovada pela Anvisa, nós vamos aceitar, porque vírus não carimba passaporte. Temos a obrigação de imunizar a população e faremos uma grande campanha para isso. As escolas só voltam quando houver segurança para as crianças. Por enquanto, lavem a mão, usem máscara, passem álcool gel, mantenham a distância uns dos outros e, quando se encontrarem, não se aglomerem e não enfiem o pé na jaca.
Como o senhor citou a questão das escolas, como fica o ano letivo de 2021? O que precisará ser feito para recuperar esse 2020 totalmente atípico, sem aulas presenciais desde março?
O ano letivo de 2020 teve 800 horas de aula, não foi um ano perdido. As crianças apreciaram poder dar um pause e ouvir de novo a lição do professor. As famílias acompanharam o aprendizado de seus filhos. Nós entregamos os exercícios pedagógicos e a merenda escolar em casa. Para 2021, vamos fazer como o Deus Jano, com uma cara olhando para a frente e uma para trás. Será um modelo bianual: a professora recapitulará o ano da pandemia, bem como ministrará o conteúdo do ano seguinte, de maneira que o curitibinha será exortado a se lembrar daquilo que aprendeu ou deveria ter aprendido na frente da televisão e aprender o novo conteúdo do ano que vai nascer.
Para encerarmos, prefeito, todo novo administrador pede 100 dias para analisar a situação da gestão que está pegando e não poupa críticas à situação que herdou de seu antecessor, como o senhor mesmo já fez nesta entrevista. E como o Rafael Greca de 2021 vai receber Curitiba do atual prefeito Rafael Greca?
Vou receber uma cidade melhor, mais bonita e mais justa, com o orçamento equilibrado, sem dever nada para ninguém, com R$ 600 milhões em caixa e podendo dizer que vou dar o aumento para o funcionalismo, com reposição de perdas salariais. Só não sei ainda quanto porque estamos calculando, vou anunciar ainda antes do Natal. E com a alegria de ser prefeito pela terceira vez, e prefeito eleito pela terceira vez.
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