Filipe Barros quer ser o candidato de Bolsonaro ao Governo do Paraná.| Foto: Dilvugação

O último dos nomes a se colocar (até o momento) como pré-candidato ao Governo do Paraná foi o deputado federal Filipe Barros (União Brasil). Um dos principais apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) no estado, o deputado, que deve se filiar ao partido do presidente no próximo mês, diz ter atendido a um convite do senador Flávio Bolsonaro (PL) para montar o palanque bolsonarista no estado nas eleições de outubro.

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Para Barros, a hesitação do governador Carlos Massa Ratinho Junior (PSD) em posicionar-se em relação à eleição presidencial e as recentes vaias de apoiadores do presidente ao governador em agendas de Bolsonaro no Paraná levaram o grupo político a optar pela candidatura própria. Cenário que, admite, pode mudar até as convenções partidárias de junho, se houver uma composição entre o presidente e o governador, que passaria, obrigatoriamente, pela presença de um bolsonarista na vaga de candidato ao Senado pela chapa do governador. “Faremos o que o presidente Bolsonaro quiser”, disse o deputado federal, em entrevista à Gazeta do Povo.

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Em que momento a base bolsonarista viu a necessidade de ter seu próprio candidato ao governo do Paraná?

As últimas vezes em que o presidente Bolsonaro esteve no Paraná e o governador Ratinho Junior o acompanhou em suas agendas oficiais, ficou visível que o eleitor de Bolsonaro, o eleitor de direita do estado do Paraná, tem dificuldade em votar numa reeleição do Ratinho Junior. E isso se comprovou pelas vaias estrondosas e vexatórias que o governador recebeu nos eventos em Maringá e em Cascavel. Tanto que, nas últimas visitas do presidente, como em Ponta Grossa, o governador não esteve presente. Nesse momento, começamos a identificar que existe um desconforto do eleitor bolsonarista em relação à gestão do governador Ratinho Junior.

No início deste ano, recebi uma ligação do senador Flávio Bolsonaro, que coordena a pré-campanha de reeleição do presidente, questionando se eu toparia me candidatar a governador, tendo em vista, em primeiro lugar, esse desconforto e, em segundo lugar, uma falta de posição do governador, que quer estar em todos os palanques ao mesmo tempo: quer apoiar o Moro (Sergio – Podemos), quer apoiar o Lula (PT), quer o apoiar o Bolsonaro. Não abre a cadeira de Senado para absolutamente ninguém, pelo contrário, quer apoiar todos os candidatos ao Senado que estão se lançando. Então, essa indefinição fez com que aquilo que era só um desconforto nosso virasse a chave e se concretizasse num plano eleitoral: percebemos que precisamos de uma candidatura do Bolsonaro no estado do Paraná para que haja uma chapa completa com um palanque confiável.

Na atual gestão, no entanto, Ratinho Junior tem sido um dos governadores mais próximos ao presidente. Evitou os atritos entre os governos estaduais e o governo federal e fechou importantes parcerias com a União. Não seria mais seguro caminhar com o governador nesta eleição?

Acreditamos que essa pergunta teria que ser inversa: se não seria mais seguro para o governador já ter declarado apoio ao presidente Bolsonaro. Porque, se existe esse desconforto do eleitor bolsonarista com o governador, para nós é mais interessante, politicamente, lançar uma candidatura própria do que apoiar um governador que tem uma rejeição muito alta com o eleitor bolsonarista. De fato, o governo federal tem ajudado muito o estado do Paraná. O Paraná foi um dos estados mais atendidos pelo governo Bolsonaro. Não só através de Itaipu, que tem investido milhões de reais no Oeste do estado, mas toda a estrutura do governo federal tem contribuído muito. Como na questão do pedágio, em que o governador, propositadamente, perde o prazo legal para fazer as concessões e joga esse pepino no colo do ministro Tarcísio [Freitas, ministro da Infraestrutura]. Então, no nosso entendimento, diante de todas essas ajudas que o governo federal prestou ao Paraná, não deveria haver qualquer tipo de dúvida do governador em relação a seu apoio ao presidente. De fato, ele foi um governador que, perto de outros governadores, não fez oposição ao presidente Bolsonaro, mas, também, fez um apoio muito tímido em relação às pautas do nosso presidente da República. Tenho o entendimento de que não nos interessa apoiar o governador Ratinho Junior.

E isso levará a uma ruptura entre o presidente e o governador? Em que momento?

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Se a decisão final, que só se dará no período de convenções, em junho, for pela candidatura própria mesmo, sim. Certamente haverá essa posição muito clara do presidente sobre a nossa candidatura, não só ao governo como ao Senado. Essa é nossa ideia: fornecer ao presidente um palanque para que ele possa vir ao Paraná, lembrar o paranaense de tudo o que ele fez pelo estado, ajudar nossa chapa de deputados federais e deputados estaduais e nosso candidato a senador.

Diante de certo favoritismo do governador, o senhor estaria sacrificando seu plano de reeleição à Câmara para dar esse palanque a Bolsonaro?

Eu confesso que tenho me surpreendido com a rejeição que o governador tem. Inúmeros segmentos, prefeitos e, até, deputados da base têm me procurado para relatar a rejeição que o governador tem devido a sua falta de diálogo, falta de carisma e, até, de humanidade com a população de nosso estado. Apesar desse favoritismo inicial do governador Ratinho Junior, creio que falta a ele circular pelo estado e ouvir a população. E a população, pelo que estou sentindo, não gostaria de ter uma reeleição do governador Ratinho Junior. Assim como a campanha do presidente, há quatro anos, era de uma eleição improvável, o mesmo pode acontecer no estado do Paraná. A soberba é o primeiro passo para a queda e a destruição.

Seu partido acaba de mudar, com a fusão de PSL e DEM. O senhor seguirá no União Brasil? Por qual partido disputaria o governo do Paraná?

Tenho conversado com o presidente sobre isso. Tenho convite do PL, o presidente tem relatado a vontade de me ter no PL, mesmo porque eu sempre estive com o deputado Bolsonaro, desde quando fui candidato a vereador aqui em Londrina. Tenho mantido conversas com o PP, também, e até com o próprio União Brasil. A tendência é que eu vá para o PL, acompanhando o presidente, independentemente da decisão dele sobre ter ou não candidatura própria ao governo.

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Entre as prioridades do grupo bolsonarista para a próxima eleição está a construção de uma bancada mais forte de senadores. Que nomes o grupo teria para essa disputa no Paraná?

Não tem um nome específico hoje. Existem alguns nomes pleiteando essa cadeira. Temos o deputado Paulo Martins (PSC), a deputada Aline Sleutjes (União Brasil), o próprio presidente estadual do PL, deputado Giacobo. Outros nomes podem surgir e essa cadeira do Senado, pelo objetivo do presidente de ter uma base forte de senadores. Essa é uma das questões mais importantes dentro dessa construção que estamos fazendo dentro dos partidos, na tentativa de conciliação desses grupos que hoje estão separados. Se houver qualquer tentativa de composição, passa, necessariamente, pela cadeira do Senado.

A população, pelo que estou sentindo, não gostaria de ter uma reeleição do governador Ratinho Junior. Assim como a campanha do presidente, há quatro anos, era de uma eleição improvável, o mesmo pode acontecer no estado do Paraná. A soberba é o primeiro passo para a queda e a destruição

Filipe Barros, pré-candidato bolsonarista ao governo do Paraná

Dentro desta construção, muitos partidos da base do presidente já declararam apoio à reeleição de Ratinho Junior. Quem o senhor acha que ainda consegue trazer para sua campanha?

Existe uma conversa dos partidos que estão junto com o presidente Bolsonaro estarem, na medida do possível, juntos também nos estados. Mas sabemos que isso, na prática, é muito difícil. O Republicanos, que compõe hoje a base de Bolsonaro, também está na base do governador. O PP, cujo presidente estadual é o Ricardo Barros, líder do governo Bolsonaro, já se aproximou do governador. Então, a certeza que nós temos é que o PL do Paraná, que é o partido do presidente da República, vai fazer o que o presidente quiser. Mas é claro que outros partidos têm nos procurado. Tenho ótima relação com o PTB, outros partidos menores de tamanho também. Tudo isso ainda está sendo gestacionado.

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Foram três anos de aliança com o governo Ratinho Junior. Que avaliação o senhor faz do atual governo?

Inoperante. Só tem essa palavra para resumir essa gestão. É um governo que nada fez, que tem inaugurado as obras oriundas do governo passado; que deixou de fazer aquilo que deveria ter feito, como na questão do pedágio, em que por uma questão meramente eleitoreira e populista perdeu o prazo para que as cancelas fossem levantadas, deixando nossas rodovias no caos que estão hoje, simplesmente para tentar obter uma vantagem política em relação a isso e jogando o pepino para o governo federal. É um governo que não deixa nenhum legado para o povo do Paraná. Nós vemos, por exemplo, a questão do ferry boat de Guaratuba que, se houvesse um compromisso do governo com a população, jamais teria acontecido. A marca do governo é a inoperância e a incompetência.

E a qual seria a sua marca como governador?

Sem sombra de dúvidas, o povo em primeiro lugar. A população tem que ser prioridade. O governador tem que sair do Palácio Iguaçu, tem que andar pelo estado, ouvir a demanda dos prefeitos, dos deputados e conversar com o povo. O governador não pode, simplesmente, se encastelar, trabalhar de terça-feira a quinta-feira e, na quinta-feira à noite ir para Jandaia do Sul e ficar o final de semana inteiro lá, retornando para Curitiba na terça-feira. O governador tem que atender os prefeitos, atender os deputados. Então, o maior legado que nós vamos deixar é o diálogo e, com o diálogo, o atendimento das inúmeras necessidades dos municípios e, portanto, da população.

Apesar de ser um dos estados mais ricos do país, o Paraná ainda possui regiões bastante vulneráveis: verdadeiros bolsões de pobreza. Qual sua proposta para reduzir as desigualdades do estado?

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O governador tem que dialogar com as principais lideranças empresariais do estado e identificar as potencialidades regionais. Quem alavanca nosso estado é o agro, temos várias matrizes econômicas que podem ser incentivadas. E, muitas vezes, o papel do governante é não atrapalhar a iniciativa privada. É incentivar o desenvolvimento econômico a partir da iniciativa privada. Mas, nos últimos anos, essas lideranças sequer conseguem contato com o governador. Esperam agendas por meses. Não é possível se falar em desenvolvimento econômico se o governador sequer reconhece as lideranças empresariais do estado.

A gestão Ratinho Junior conseguiu privatizar a Copel Telecom e encaminhar as privatizações da Ferroeste e da Compagás. Qual a sua opinião sobre empresas públicas e privatizações? Como administraria a Copel e a Sanepar em seu governo?

Depende da empresa pública. Sempre tive essa discussão com os meus amigos liberais. Eu me considero uma pessoa que defende os princípios liberais, de um estado mais enxuto, focando naquilo que a população de fato precisa. Mas a gente não pode tomar isso como uma regra. Existem empresas que, por exercerem uma influência grande no estado, não precisam estar 100% privatizadas. Eu cito o exemplo da Copel. Hoje a Copel deve ao usuário paranaense R$ 5 bilhões. Há cerca de seis meses, o STF tomou uma decisão, que já transitou em julgado, dizendo que a cobrança do PIS/Cofins dentro do ICMS é uma cobrança ilegal e quem fez esse tipo de cobrança precisa restituir o usuário. Notifiquei a Copel que ela precisa restituir e, até hoje, essa compensação não foi feita. É o exemplo de uma empresa que foi privatizada (é de economia mista com o Estado como maior acionista) e deixou de atender o interesse público do paranaense. É decisão do STF, precisa ser cumprida, mas a diretoria enrola, buscando a prescrição da dívida. Então, cada caso é um caso, não gosto de generalizar. Defendo um estado enxuto que invista naquilo que o cidadão necessite. E que as empresas públicas tenham foco no interesse público.

Além da sua pré-candidatura, temos o governador, que disputará a reeleição e as pré-candidaturas do ex-governador Roberto Requião (sem partido) e de Cesar Silvestri Filho (PSDB). O que te difere dos prováveis adversários?

Nosso estado é um estado pujante, portanto, precisa de uma liderança que seja jovem e que tenha independência e coragem para fazer as mudanças que o estado precisa. E, com todo o respeito, não vejo nos outros concorrentes essas características. Precisamos de uma pessoa que não tenha feito os compromissos políticos que fez no passado, como o atual governador, que já fez compromisso com o Lula, já fez compromisso com a Dilma e, agora, não quer fazer compromisso com o presidente Bolsonaro. Portanto, tem um histórico na política que desagrada uma parcela considerável da população. Precisamos de alguém que tenha coragem de enfrentar alguns temas delicados no nosso estado. E, uma pessoa que tenha feito muitos compromissos políticos no passado, dificilmente terá coragem para isso. Resumidamente, são essas características que eu vejo necessárias na principal liderança do Paraná. O Paraná precisa pensar para a frente, é uma das principais economias do Brasil e não pode ficar preso dentro de palácios, deixando que o estado corra solta.

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Para que sua pré-candidatura vingue e, nas convenções, converta-se em candidatura, depende exclusivamente da decisão do presidente Bolsonaro?

Sem sombra de dúvidas. Eu faço parte do projeto do presidente Jair Bolsonaro. Quando fui me candidatar a vereador em Londrina, em 2016, eu já acompanhava e tinha amizade com o deputado Jair Bolsonaro, fui a Brasília e ele me ajudou na campanha a vereador. Então, eu sou um soldado do Bolsonaro e estou com ele, apoiando a decisão que ele tomar. Hoje, a decisão do grupo é termos a candidatura própria. Isso pode acontecer, como pode não acontecer. E a decisão se dará no período das convenções. Na semana passada, o governador esteve em Brasília, buscando uma conversa com o presidente, mas com uma proposta que não nos interessa; uma proposta que ele pode fazer para outros candidatos, mas não para o presidente da República. O governador acha que vai nos enganar com propostas que não nos interessam. O cenário pode mudar, mas, hoje, a postura do grupo é de que temos que ter candidatura própria.

Se o governador abrir para que o candidato ao Senado na chapa dele seja do grupo de vocês a composição está garantida?

Não sei, objetivamente, se isso resolveria. Essa composição passa por alguns fatores. Esse é, sem sombra de dúvidas algo importantíssimo para a gente. Mas essa composição passará por outros fatores: qual será a posição do governador na própria campanha presidencial? Temos informação que, em determinada região do estado, o governador pretende fazer um palanque para o Lula e para ele. Certamente, a posição que o governador tomará na eleição presidencial será determinante para eventual composição.

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Como o senhor avalia o cenário nacional? A disputa ficará mesmo entre Bolsonaro e Lula?

Sim. O Moro, eu tenho a impressão de que como ele já está desidratando e, toda vez que abre a boca acaba perdendo possíveis apoiadores, acho que ele deverá ser candidato ao Congresso Nacional, seja aqui no Paraná, ou em São Paulo. Então, o Moro não é uma preocupação para a gente. O Lula tem, gostemos ou não, um público cativo e fiel que, de fato vota nele em qualquer circunstância. Mas não acredito que esse eleitor cativo seja aquilo que algumas pesquisas têm apontado, colocando ele como vencedor até no primeiro turno. Não consigo identificar isso. O presidente Bolsonaro vem crescendo em sua aprovação, a economia tende a melhorar de maneira muito rápida nesse pós-pandemia, o Auxílio Brasil vem ajudando bastante a aumentar a popularidade dele no Norte e Nordeste e, estamos confiantes que o presidente vença essa eleição no segundo turno.

Como seria a sua relação, como governador, com o presidente da República em caso de vitória de Lula?

Oposição ao presidente Lula, mas com a responsabilidade de ter um estado para governar. Oposição política, mas respeitando e priorizando o povo paranaense.