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Do “não era o que eu queria e nem o que o Paraná precisava”, revelado à coluna antes da convenção, para o “a candidatura ao Senado traz unidade e força para a federação”, declarado em entrevista coletiva após o encontro, Cesar Silvestri Filho (PSDB) até afinou o discurso, mas não conseguiu esconder o desapontamento por ter sua candidatura ao governo descontinuada pelo próprio partido. O principal motivo externado para a desistência da candidatura foi o impasse dentro da Federação PSDB/Cidadania, uma vez que o Cidadania já havia firmado compromisso anterior com o governador Carlos Massa Ratinho Junior (PSD). Mas o ex-prefeito de Guarapuava sofreu resistência até mesmo dentro do PSDB.
O Cidadania está na base de apoio do governador Ratinho Junior, tem cargos no Governo do Estado e já declarou apoio à candidatura à reeleição do governador há um ano. Mas tudo isso aconteceu antes de se fechar a federação partidária, em que PSDB e Cidadania concorrerão juntos. A federação, imposta nacionalmente, também poderia impor os rumos dos partidos nos estados, e não seria surpresa se a direção nacional do Cidadania vetasse o apoio a Ratinho Junior, pelo fato de o governador caminhar para disputar a eleição ao lado do presidente Jair Bolsonaro (PL), enquanto PSDB e Cidadania integrarão a chapa de Simone Tebet (MDB), mas não houve esforço do PSDB neste sentido.
Ainda assim, pelas regras da federação, o PSDB teria direito a seis votos na convenção, ante cinco do Cidadania. Ou seja, se houvesse unanimidade, ao menos no partido, a candidatura de Silvestri poderia ser imposta dentro da federação. Também não aconteceu.
Silvestri deixou o Podemos, partido que presidia, porque não conseguiu viabilizar sua pré-candidatura ao governo. Foi convidado pelos principais nomes do PSDB para tocar o projeto de disputar o Palácio Iguaçu pela legenda. A intenção do partido era garantir um palanque para o então pré-candidato da legenda à presidência, João Doria. Com Doria fora da disputa, a candidatura de Silvestri passou a não ser considerada tão necessária pelo partido, que tende a investir na candidatura de Beto Richa à Câmara dos Deputados para tentar aumentar sua bancada.
Paralelamente, a pré-campanha do governador Ratinho Junior via, na retirada da candidatura de Silvestri, uma importante estratégia para aumentar as chances de vitória já no primeiro turno da eleição. Sabendo do impasse na Federação, emissários do governador exerceram, nos últimos dias, forte pressão sobre as principais lideranças tucanas.
Com os tucanos como potencial adversário, a propaganda partidária do PSD fez ataques às gestões anteriores do governo do estado (Beto Richa), postura que tende a não se repetir, na propaganda eleitoral, agora que o PSDB declarou neutralidade.
Outro personagem importante para o recuo de Silvestri foi o deputado federal licenciado Valdir Rossoni (PSDB). Mesmo tendo anunciado que deixará a vida pública ao final deste ano, Rossoni manteve o diálogo aberto com o grupo político de Ratinho Junior e poderia ser, inclusive, o voto divergente dentro do PSDB, caso a convenção chegasse ao impasse de ter que votar a candidatura de Silvestri. A proximidade de Rossoni com o grupo político que seria adversário nesta eleição ficou clara quando o parlamentar pediu licença de 120 dias da Câmara, alegando motivos pessoais, para abrir vaga a seu suplente, Marco Brasil, que é do PP, partido que deve coligar com Ratinho Junior.
E o esforço da ala governista deu resultado, em reunião interna do partido, na véspera da convenção, Silvestri foi comunicado que não teria o apoio da legenda para seguir com a candidatura. Partiu do ex-prefeito de Guarapuava, então, a proposta de que ele disputasse o Senado.
“A candidatura para o Senado acresceu apoio. A gente sai daqui unido. São partidos que foram unidos a partir de uma decisão nacional de Federação, que vale para todos os estados. Tanto o Cidadania quanto o PSDB tinham suas caminhadas ao longo desse tempo. Tinham suas peculiaridades e seus compromissos. O que nos une, neste momento, é a candidatura ao Senado”, disse Silvestri ao final da convenção.
“Nossa federação sai unida e fortalecida, com decisões tomadas por unanimidade, as chapas para deputados, a candidatura ao Senado e a decisão pela neutralidade na disputa para o governo foi consenso absoluto”, emendou Beto Richa, que “lavou as mãos” sobre o cenário deixado pelo PSDB para a disputa pelo governo. “Nós não vamos avaliar outras candidaturas ao governo agora. Fomos o primeiro partido a fazer a convenção e vamos aguardar se os demais partidos vão apresentar candidatos ou não. Não cabe a nós fazer essa avaliação”.