Nenhum dos três senadores paranaenses subscreveram o requerimento de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Ministério da Educação (MEC) protocolado, na tarde desta terça-feira (28) no Senado Federal. Alvaro Dias (Podemos), Flávio Arns (Podemos) e Oriovisto Guimarães (Podemos) argumentaram que, apesar de defenderem as investigações sobre as suspeitas de corrupção e tráfico de influência no MEC, desconfiam da imparcialidade e objetividade de uma CPI que, se instalada, será conduzida durante o período eleitoral. Mas a decisão, em bloco, tem relação direta com as eleições de outubro.
Líder do Podemos no Senado, Alvaro Dias também é um líder informal da bancada paranaense, orientando muitas das votações em conjunto dos três senadores do estado – todos filiados ao mesmo partido. Pré-candidato à reeleição, o senador ainda busca aliança com o governador Carlos Massa Ratinho Junior (PSD) para dividir palanque no estado e neutralizar possíveis adversários, como Paulo Martins (PL), Guto Silva (PP) e, agora, Sergio Moro (União). Com Ratinho Junior cada vez mais próximo de confirmar aliança com o presidente Jair Bolsonaro (PL), Alvaro corre em busca da aprovação do presidente, que já indicou Paulo Martins como seu nome para o Senado.
A ausência das três assinaturas dos senadores do Podemos do Paraná (bancada que explora constantemente a pauta do combate à corrupção) é uma clara sinalização de Alvaro a Bolsonaro na busca por esse apoio. Se, antes, parecia impossível que Bolsonaro aceitasse Alvaro Dias numa chapa em outubro, essa construção ficou menos distante com o “fator Sergio Moro”. Com a possibilidade de o ex-juiz federal concorrer ao Senado e sua pontuação na última pesquisa de intenção de votos*, aliados de Bolsonaro viram diminuir o espaço para crescimento da candidatura de Paulo Martins e enxergaram em Alvaro a alternativa para tentar evitar a eleição de Moro, rompido com o presidente desde que deixou o Ministério da Justiça.
Alvaro também dá sinal, com essa postura, de que uma eventual pré-candidatura presidencial, que vinha sendo cogitada pelo Podemos, está longe dos planos. Um pré-candidato a presidente, nesta altura da polarização entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Bolsonaro, precisa de um fato novo que impacte na popularidade de um dos adversários para ter chance de chegar ao segundo turno. E uma CPI pode ser a melhor arma que a chamada terceira via tem neste momento. Tanto que o requerimento é assinado pela pré-candidata a presidente Simone Tebet (MDB), por Tasso Jereissati (PSDB) cotado para a vice de Tebet e por Cid Gomes (PDT) irmão do presidenciável Ciro Gomes.
“CPI será uma grande pizza para servir aos interessados”
À coluna, os senadores explicaram por que não assinaram a CPI. “Não assino nenhum requerimento para instalar um palanque eleitoral a favor ou contra quem quer que seja. A Polícia Federal está investigando, já investigou o suficiente até para prender pessoas e, agora, chegam os políticos querendo explorar o resultado do trabalho da Polícia Federal, que é especialista neste tipo de investigação, com objetivos eleitoreiros. Se a investigação não tivesse sido iniciada, aí sim valeria a CPI, para provocar o Ministério Público. Mas já há investigação, por instituição independente e especializada”, disse Alvaro Dias. “Temos que respeitar a população. Em ano eleitoral, uma CPI será um grande fracasso, uma grande pizza para servir aos interessados, mas, de forma nenhuma, respeitará quem paga impostos e espera seriedade no Congresso. Eu, que assinei todas as CPIs na minha trajetória política, me recuso a assinar esta em ano eleitoral”, acrescentou.
Para Oriovisto Guimarães uma CPI, agora, não tem como avançar mais que as investigações policiais. "É um caso de corrupção claro, que ficamos sabendo graças ao trabalho da imprensa, que levou à instauração de processo pelo Tribunal de Contas da União e gerou a queda do ministro. Agora, com a Polícia Federal, houve as prisões. O Ministério Público e a Justiça estão nos dando as respostas. As instituições estão funcionando. Uma CPI, agora, estará muito atrasada a tudo o que já foi feito e vai ser repetitiva", disse o senador, que chegou a assinar o requerimento de CPI em abril, mas retirou o nome em seguida. "Não quero, jamais, esconder corrupção, abomino corrupção. Mas essa CPI vai ser um enorme palanque eleitoral para a oposição. Por isso que não assinei e não vou assinar. CPI em período eleitoral não tem a imparcialidade necessária, por isso, sou contra", afirmou.
Flávio Arns não se manifestou sobre a CPI.
*Levantamento do Instituto Real Time Big Data, divulgado em 27 de junho, entrevistou, pessoalmente, 1.500 eleitores do Paraná entre os dias 24 e 25 de junho. O levantamento foi contratado pelo Grupo RIC e está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o protocolo PR-06518/2022. A margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.
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