A confirmação de que a nova cepa P1, variante brasileira do novo coronavírus, está circulando de forma significativa no Paraná indica que, em pouco tempo, ela deverá ser a cepa dominante no estado. Segundo o vice-presidente de Produção e Inovação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Marco Aurelio Krieger, a variante já se revelou mais transmissível e com maior carga viral do que a primeira cepa a circular no país. “E, assim ela, rapidamente ocupa o território, acaba se tornando a variante prevalente em uma ‘competição’, entre os tipos de vírus. Pela velocidade com que ela é transmitida, ela “toma conta” do espaço onde ela está circulando”, observa.
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Krieger detalhou à coluna a triagem feita pela Fiocruz que detectou a contaminação pela nova cepa de 70% das 216 amostras positivas para o coronavírus coletadas no Paraná no último sábado (27). “A gente fez um recorte de um estudo preliminar que tinha um desenho mais adequado para a gente identificar se existia ou não mutação. E, para a nossa surpresa, o número da presença desta variante, identificada por essa amostragem, que não é uma reação de sequenciamento, mas uma reação de triagem, foi muito alto”, disse.
O biólogo explicou que o trabalho feito não foi o sequenciamento genético do vírus, por ser um processo caro e demorado, que vinha apontando resultados pontuais, mas não abrangia uma amostragem maior. “Com o resultado do sequenciamento, descobrimos que as novas variantes têm, em comum, uma deleção de nove nucleotídeos no genoma do vírus. Essa triagem foi desenhada para termos uma reação capaz de reconhecer essa delação. Assim, detectamos se a amostra tem ou não a variante. Conseguindo detectar essa mutação, temos uma ferramenta de triagem muito boa, rápida e barata para aplicarmos em quantidade”, disse, citando que o próximo passo do instituto será ampliar o estudo atentando para a observância detalhada de eventual prevalência regional.
O vice-presidente da Fiocruz explica que, clinicamente, ainda não faz diferença para o indivíduo saber por qual variante do coronavírus ele foi infectado, uma vez que não há diferença de abordagem terapêutica. No entanto, diz, a maior transmissibilidade e a maior carga viral da cepa P1 já podem ser diretamente associada ao recente crescimento de casos, óbitos e da ocupação de leitos hospitalares no país. “Existem algumas observações que estão aparecendo. Essa variante foi identificada em dezembro. A gente está acompanhando tudo ainda. A primeira conclusão que se teve é que ela é mais transmissível. E é uma doença que ataca o sistema de saúde. Se a gente tem uma maior transmissão, o número de pacientes que vai necessitar de internamento é muito maior. E, pelo acompanhamento dos dados, número de casos, de mortes e de saturação dos leitos, vemos um crescimento em ritmo inédito, muito mais rápido do que em qualquer outro momento da pandemia”, explica.
Essa variante foi identificada em dezembro. A gente está acompanhando tudo ainda. A primeira conclusão que se teve é que ela é mais transmissível. E é uma doença que ataca o sistema de saúde. Se a gente tem uma maior transmissão, o número de pacientes que vai necessitar de internamento é muito maior
Marco Aurelio Krieger, vice-presidente de Produção e Inovação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
“Há algumas outras observações que já estão sendo registradas, a da carga viral maior é a principal delas, há também a de que provoca uma doença mais grave, com maior velocidade da piora do quadro, mas ainda não há confirmação científica disso”, acrescenta. “Mas podemos associar que uma variante de preocupação identificada no Brasil há quase três meses se disseminou de uma maneira muito rápida, associando essa dispersão rápida com indicadores que levaram ao pior momento da pandemia no Brasil”, conclui.
Além da preocupação sobre como a nova cepa atinge o sistema de saúde, o biólogo reforça a preocupação que as mutações do coronavírus provocam nos desenvolvedores de vacinas, como a própria Fiocruz. “A gente ainda está numa fase que existe lacunas de conhecimento. Uma das lacunas é essa, a do impacto das variantes sobre as vacinas. Os primeiros dados são sobre a variante inglesa. As vacinas mantiveram efetividade. Na variante da África do Sul, houve queda em algumas vacinas. As informações que temos agora sobre a variante brasileira dão um otimismo relativo: a principal resposta das vacinas atuais que é a destruição das células afetadas, é pouco influenciada pelas novas cepas e, no caso da nossa variante, estamos fazendo esse estudo com a universidade de Oxford para termos uma resposta analítica breve. Mas, hoje, não existe motivo para achar que as vacinas, qualquer uma delas, vão parar de funcionar com as variantes”, assegura.
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Fiocruz está preparada para entregar 20 milhões de doses de vacina por mês a partir de abril
Marco Aurelio Krieger também atualizou a coluna sobre o momento da produção própria de vacinas pela Fiocruz, fabricante, no Brasil, do imunizante desenvolvido pela Universidade de Oxford. “Já começamos a produção na Fiocruz. Estamos na fase final do que chamamos de início da produção. São muitas etapas que temos que trabalhar, com reforço muito grande na garantia de qualidade, para reforçar a consistência da produção. Estamos finalizando isso e vamos entrar na fase comercial”, disse.
Ele afirmou que a fundação trabalha para distribuir as primeiras doses produzidas localmente ainda em março e que já pretende trabalhar com capacidade máxima em abril. “A liberação dessas doses vai começar a acontecer após a obtenção do registro. Então, esperamos o registro nas próximas semanas para, ainda em março, fazer as primeiras entregas e já em abril entrar numa escala superior a 20 milhões de doses por mês. Com muita transparência, vamos divulgar nosso cronograma depois do registro, para não frustrar nenhuma expectativa”, contou. “Estamos muito próximos do início de uma entrega consistente para o Programa Nacional de Imunização. Temos certeza de que até julho vamos entregar as 100 milhões de doses. E como nossa vacina tem uma proteção muito rápida, protegendo já na primeira semana, a gente pode vacinar mais pessoas porque a segunda dose pode esperar até três meses para ser feita”, concluiu.
Krieger ainda comentou a iniciativa de governadores e prefeitos que estão buscando contratos para fazerem aquisições próprias de imunizantes. “Existe esse nível de incerteza, insegurança e cobrança que entendemos como natural. Mas é importante acompanhar essas negociações, porque esses contratos que estão sendo feitos agora são para quantitativos no segundo semestre, que vão até auxiliar a gente a vacinar mais pessoas, mas não vão resolver o problema de momento, que será resolvido com essas entregas já programadas para as próximas semanas, tanto da Fiocruz quanto do Instituto Butantan”, comentou.
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