O formato inédito do debate promovido pela Gazeta do Povo entre os candidatos ao Senado, na última segunda-feira, produziu diversos confrontos interessantes entre sete dos oito concorrentes de partidos com representação no Congresso Nacional (Alvaro Dias, do Podemos, não compareceu). Participaram do encontro os candidatos Aline Sleutjes (Pros), Desiree Salgado (PDT), Laerson Matias (Psol), Orlando Pessuti (MDB), Paulo Martins (PL), Rosane Ferreira (PV) e Sergio Moro (União).
Assista à íntegra do debate
Em discussões um contra um, sem tema pré-determinado e dividindo o mesmo tempo de três minutos em cada embate, sem tempo fixo para cada candidato, com os dois microfones abertos simultaneamente, o debate se tornou muito mais dinâmico do que os tradicionais. Os candidatos não demoraram a compreender o funcionamento da regra e o debate teve diversas discussões quentes, com interrupções de lado a lado e tudo em um clima respeitoso, sem a necessidade de intervenção da mediadora, a jornalista Mariana Braga.
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Acompanhando tudo dos bastidores, podendo ver as reações, dos candidatos atrás das câmeras, a coluna escolheu os pontos altos do debate:
Os melhores embates
Logo no segundo confronto do debate, o ex-juiz federal Sergio Moro (União) foi sorteado para responder a uma pergunta de Paulo Martins (PL). O candidato do partido do presidente Jair Bolsonaro (PL) aproveitou a oportunidade para questionar sobre o aceno do ex-juiz ao eleitor de Bolsonaro, após ter deixado o governo, do qual foi ministro da Justiça, acusando Bolsonaro de interferência na Polícia Federal. “Julgo ser uma traição a forma como o senhor saiu do governo, fazendo acusações e, agora, o senhor acena ao eleitor de Bolsonaro. Queria saber se mantém as acusações que fez?”, questionou Martins. “Você sabe que não traí ninguém. Sempre fui fiel à Lava Jato e ao combate à corrupção e deixei o governo por conta desses princípios e valores. Mas, hoje, temos um adversário em comum, que é o projeto de poder do PT. Quando você me ataca, você está fazendo o trabalho do PT”, disse Moro. “Quem fez o trabalho do PT foi você, que trabalhou para desestabilizar o governo", rebateu Martins.
A deputada federal Aline Sleutjes explorou uma situação curiosa e mal explicada da candidata Rosane Ferreira (PV) que, no ano passado, renunciou ao mandato de vereadora de Araucária, para o qual foi eleita em 2020, abrindo a vaga para o suplente, no que foi interpretado como uma manobra partidária. Citando esse caso, Sleutjes perguntou se, eleita senadora, Rosane teria força política para exercer os oito anos de mandato. “Foi um projeto de construção partidária, queria ajudar o Partido Verde a conquistar uma cadeira na Câmara de Araucária. Ao estar dentro da Câmara, percebi que eu não precisava do mandato para fazer o trabalho que vinha fazendo por Araucária e o partido tinha mais a fazer com aquela cadeira”, tentou explicar Rosane.
O candidato do Psol, Laerson Matias, foi um dos mais ácidos e irônicos no debate. Mesmo não tendo a oportunidade de debater com Sergio Moro, criticou a Lava Jato e atacou o ex-juiz (que obteve direito de resposta) em discussão com Desiree Salgado. Seus dois “confrontos direitos” com candidatos de direita foram com Aline Sleutjes. Na oportunidade, Laerson questionou Aline sobre corrupção no governo Bolsonaro. “Não entendo quem apoia Lula vir falar de corrupção. Mensalão, petrolão, dinheiro na cueca, isso não aconteceu neste governo, aconteceu no governo do PT”, rebateu Sleutjes. Laerson, então, citou o orçamento secreto, as irregularidades no Ministério da Educação e a compra de imóveis com dinheiro vivo pela família do presidente Jair Bolsonaro. “Ou ele tem uma máquina de fazer dinheiro em casa, ou é corrupto”, finalizou.
Desiree também abordou as suspeitas de corrupção no governo Bolsonaro, citando o caso do Ministério da Educação e o sigilo de 100 anos colocado pelo presidente em documentos oficiais para perguntar se Paulo Martins, candidato de Bolsonaro, teria independência para fiscalizar o Poder Executivo. Martins respondeu que “óbvio que sim”, mas disse discordar da visão da candidata de que o atual governo seria um governo corrupto. “se houver um caso ou outro, é em algum ponto longe, por conta do tamanho da máquina pública, mas jamais vai haver uma corrupção sistêmica como no governo petista”. Desiree, então, questionou a compra de imóveis pela família de Bolsonaro. “Essa reportagem induz a erro, pois pegou 30 anos de diversos membros da família, alguns, até, que mal se relacionam com o presidente. Vamos falar do patrimônio do Lula?” respondeu Martins. “Eu não tenho que defender o Lula, meu candidato não é o Lula”, replicou Salgado. “Lá na solidão da urna, é”, ironizou Martins, que depois se desculpou.
Paulo Martins teve uma segunda oportunidade de questionar Moro e abordou aborto e porte de arma. Depois de o ex-juiz falar ser conta o aborto, “além das situações já permitidas pela legislação” e a favor do direito de o cidadão portar armas, Martins perguntou por que, em sua tese de doutorado, Moro elogiou uma decisão da Suprema Corte Americana que autorizou o aborto até seis meses de gestação. “Um livro escrito há 20 anos, vamos parar com as fake news”, interrompeu Moro, irritado. “Responda que mudou de opinião. Era só uma pergunta sobre aborto”, finalizou Martins.
Em “dobradinha” com Desiree Salgado, no primeiro bloco, Rosane Ferreira criticou a Operação Lava Jato. Sorteada para responder a Moro, a candidata do PV ouviu quase um minuto de defesa da operação por parte do ex-juiz que, depois, a questionou como ela defende moral e ética estando na federação do ex-presidente Lula. Moro ainda alfinetou: “embora não seja muito apoiada pelo PT, que tem outro candidato ao Senado, que é Alvaro Dias”. Rosane, então falou que a atuação de Moro acabou elegendo Jair Bolsonaro presidente. “Você elegeu um governo que matou 600 mil brasileiros por descaso com a pandemia”. “Eu não, a população brasileira”, respondeu Moro.
Orlando Pessuti foi o candidato mais “paz e amor” do debate. Tentou discutir propostas, principalmente voltadas para o agronegócio, e até criticou o fato de o debate ter se desenrolado com discussões ideológicas muito focadas no cenário da eleição presidencial. Ao debater com Paulo Martins, no entanto, o candidato do MDB pautou o tema segurança pública e questionou o deputado federal pelo fato de a Câmara não ter aprovado as leis orgânicas da Polícia Civil e da Polícia Militar. “Fui o deputado que mais destinou recursos para a nossa segurança pública, defendo a reforma , principalmente na polícia civil”, respondeu Martins. “E, por que, em dois mandatos, não ajudou a destravar as leis orgânicas?”, reforçou Pessuti. “Não destravei porque eu não sou governador, sou deputado federal, trabalhamos num processo de formação de maioria”, finalizou Martins.
No último bloco de embates, Aline Sleutjes questionou Sergio Moro sobre o domicílio eleitoral indeferido em São Paulo e o fato de sua esposa, Rosângela Moro, ser candidata a deputada federal em São Paulo. Se não haveria conflito de interesses na atuação dos dois e se a agenda de Moro estaria 100% à disposição do paranaense. “Já esclareci essa história. Fui abandonado pelo Podemos, precisei mudar de partido e foi uma exigência partidária que eu me filiasse em São Paulo. Havia um projeto político importante: derrotar o PT e o PSDB lá em São Paulo. Houve a decisão do TRE e eu optei por não recorrer. Vou defender os interesses dos paranaenses, ela vai defender o dos paulistas, e vamos trabalhar pautas conjuntas, porque temos o mesmo problema, pagamos muitos impostos e temos pouco retorno”, respondeu Moro. “A minha única opção é o Paraná”, rebateu Sleutjes.
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