A situação é de colapso e a capacidade de ampliação da rede hospitalar para o atendimento a pacientes com Covid-19 está no limite. O secretário de estado da Saúde, Beto Preto, narrou à coluna, nesta quinta-feira (4) a situação de sufocamento causada pelo coronavírus na saúde pública paranaense. Segundo o secretário, a possibilidade de ampliação no número de leitos esgotou-se e, a partir de agora, o estado deve recorrer a leitos de UTI geral para internar pacientes com Covid-19.
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“Estamos chegando ao limite. Daqui pra frente vamos conseguir abrir um ou outro leito, pontualmente, aqui e ali, mas, basicamente, teremos que utilizar um pouco mais da rede que já existe. O próximo horizonte é ocupar alguns leitos da rede geral do SUS do Paraná”, disse o secretário.
O estado atingiu, nesta quinta-feira, 96% de ocupação dos leitos de UTI específicos para a Covid-19. Dos 1.425 leitos habilitados, 1.372 estavam ocupados às 11 h (horário da atualização diária do painel) e apenas 53 leitos disponíveis. A situação mais crítica é na Macrorregião Oeste, em que há, somente, quatro leitos de UTI vagos.
A rede hospitalar paranaense tem, ainda, 1.008 leitos de UTI adulto que estão sendo utilizados para pacientes com outras necessidades, diferente da Covid-19. Destes, 752 estão ocupados (72%), havendo, ainda, 283 leitos vagos. É sobre esta estrutura que, agora, a Secretaria de Saúde pretende avançar. “Mas, ao mesmo tempo que estamos enfrentando a Covid-19, os paranaenses não deixam de enfartar, não deixam de ter AVC. Reduzimos bastante, com o toque de recolher, os acidentes, mas eles continuam existindo. E, também, não podemos colocar pacientes com Covid-19 numa mesma UTI que outros pacientes, pois eles acabariam contaminando os demais. Então estamos estudando, conversando com os hospitais, fazendo remanejamentos”, disse Beto Preto.
O número de UTIs adulto disponíveis para o enfrentamento da Covid-19 nesta quinta-feira (1.425) é 29% superior aos 1.101 em funcionamento no estado em agosto, quando o Paraná atingiu o pico da primeira onda da pandemia. A partir deste pico, o estado iniciou uma desmobilização de leitos, com a queda da curva de internamentos por Covid-19 no segundo semestre do ano passado. Em novembro, no entanto, voltou-se a habilitar leitos por conta da ascensão da curva de contaminação. Ao anunciar seu plano de enfrentamento da pandemia, em abril do ano passado, o governo do Paraná previu uma capacidade máxima de leitos de UTI de 1.128 no momento mais grave da crise, capacidade também já superada pela estrutura atual.
“É importante lembrar que a estratégia do Paraná mais do que dobrou o número de UTIs que o Paraná tinha para adultos. Tínhamos 1.200 leitos de UTI e estamos hoje, com 1.406 leitos exclusivos Covid, além dos 1.200 que seguem na rede. É um esforço tremendo da rede, de todos os parceiros. Agora, temos alguns hospitais que, inicialmente, ficaram de fora, como no caso do Angelina Caron, que agora estão entrando no atendimento da pandemia. Já tiramos uns 200 leitos da rede e passamos para a rede Covid. O que vai acontecer nos próximos dias é abrir novos leitos pontuais, em pouca quantidade, e ocupar alguns leitos da rede geral, que vão acabar atendendo pacientes Covid. Não tem como cravar um número, se 100, 200”, explicou o secretário.
Beto Preto atribuiu o aumento drástico da demanda por leitos de UTI à nova variante do coronavírus, a P1, batizada de cepa amazônica brasileira, que segundo ele tem um comportamento muito mais agressivo do que a primeira cepa. “Estávamos compreendendo o vírus e conseguindo manter o fluxo e a rotatividade dos nossos leitos, mas essa cepa age muito mais rápido, em dois dias o paciente já está internado, no dia seguinte, precisa ser intubado. Isso sufoca o sistema de saúde”, disse.
Mesmo na situação de colapso - segundo o próprio secretário, havia, nesta quinta-feira, 700 pacientes esperando uma vaga em hospitais do Paraná -, Beto Preto voltou a descartar a instalação de hospitais de campanha. “Hospital de campanha não tem legado e custa de três a cinco vezes mais. Aqui no Paraná, construímos a estratégia de utilizar os hospitais que já existiam. Hospital de campanha agora? De onde vamos trazer equipe? Vamos colocar pessoas em tendas, sem o devido material e equipamentos à disposição, sem uma rede de gases montada? Leito de enfermaria nós temos, não está faltando. Nossa necessidade são leitos de UTI e os hospitais estão fazendo o que é possível fazer.”
Estamos chegando ao limite. Daqui pra frente vamos conseguir abrir um ou outro leito, pontualmente, aqui e ali, mas, basicamente, teremos que utilizar um pouco mais da rede que já existe. O próximo horizonte é ocupar alguns leitos da rede geral do SUS do Paraná
Beto Preto, secretário de Saúde do Paraná
O secretário também respondeu às críticas de que, um ano após os primeiros casos da pandemia, o estado poderia ter previsto a segunda onda e ampliado a capacidade hospitalar. “Nós mais do que dobramos a rede hospitalar. Abrimos mais leitos em um ano do que se fez nos últimos 30 anos. Quem fala que não nos preparamos em um ano ignora toda essa estratégia, ignora o esforço de todas as equipes, dos médicos, dos enfermeiros. Tivemos reforço de caixa do governo do estado, do governo federal. Estamos cobrando um reforço de caixa mais efetivo em 2021; é uma luta que não tem fim e uma encruzilhada de decisões que precisam ser tomadas a cada dia”, desabafou.
Beto Preto não adiantou se o decreto restritivo do governo do estado, que fechou as atividades não essenciais, suspendeu as aulas presenciais e determinou toque de recolher noturno no estado, será prorrogado, mas lembrou que a situação está longe de se estabilizar. “Estamos avaliando tudo isso. Não é tão simples e fácil decretar ou não decretar. Nossa ideia nunca foi fazer restrição de nada. Nossa ideia sempre foi de levar informação, discutir o assunto, ampliar leitos. Mas chegamos a uma perigosa encruzilhada em que os leitos estão rareando para poder abrir e, infelizmente, houve esse recrudescimento da pandemia com essa nova cepa e, aí, o caos se instalou novamente”, pontuou.
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