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Roger Pereira

Roger Pereira

A política do Paraná em primeiro plano

Entrevista com governador reeleito

Relação com servidores, apoio a Bolsonaro, maioria na Alep: como Ratinho projeta o novo governo

Ratinho Junior, governador reeleito pelo Paraná
Ratinho Junior, governador reeleito pelo Paraná (Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo)

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No primeiro dia útil após ser reeleito em primeiro turno, tendo alcançado 69,64% dos votos válidos, o governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), concedeu uma entrevista exclusiva à Gazeta do Povo. Ratinho falou sobre sua relação com o servidor público estadual e afirmou que será cabo eleitoral do presidente Jair Bolsonaro até o segundo turno, no fim do mês.

À coluna, o governador também respondeu sobre como a ampla maioria dos deputados na Alep pode facilitar a aprovação de projetos enviados pelo Executivo, como a gestão estadual está se planejando para evitar consequências de uma eventual nova crise hídrica e sobre as expectativas quanto ao lançamento de edital para as concessões das rodovias. Houve espaço, ainda, para especular sobre a equipe que irá compor o segundo mandato dele e sobre as conversas de bastidor para a preparação de um sucessor ao cargo, no ano de 2026. Confira abaixo.

Vamos começar com uma avaliação sobre o resultado de domingo e essa expressiva vitória no primeiro turno, mais uma vez.

É uma alegria e, não escondo, foi uma boa surpresa. Claro que esperávamos fazer uma boa votação, ganhar no primeiro turno, trabalhamos para isso. Mas as nossas próprias pesquisas internas indicavam que a gente poderia fazer de 60% a 62% dos votos. Tivemos uma ampliação dessa expectativa de votação, quase chegando a 70%. É uma demonstração importante de que estamos no caminho certo. A população confirmou que esse modelo de governo que nós implantamos de mudança em 2019, das grandes obras, da melhor educação, é o que a população quer que siga. Acho que a palavra hoje é de gratidão para a população do Paraná.

A Assembleia elegeu 40 deputados que estavam nos partidos que formaram a sua chapa. Essa ampla maioria, novamente, garante uma tranquilidade quanto à governabilidade? O senhor vai conseguir aprovar tudo o que mandar para o Legislativo?

Eu acredito que ajuda muito você ter uma Assembleia à disposição de poder construir e aprovar esses projetos que porventura venham a ser necessários. O parlamento, tendo um alinhamento com o Poder Executivo, mesmo com a sua independência respeitada, colabora muito e faz o Estado avançar. E se você tem uma Assembleia contrária, trava, por exemplo, a captação de recursos. Então, essa boa bancada que nós elegemos ajuda muito.

Ainda sobre o resultado eleitoral de domingo, Bolsonaro teve uma boa vantagem sobre Lula no Paraná (55% a 35%). Que papel o senhor vai desempenhar no segundo turno?

Vou me dedicar como cabo eleitoral do presidente. Vou convidar os prefeitos que tenham esse alinhamento e que entendem que é importante a eleição do presidente Bolsonaro para o Paraná e para o Brasil. Eu tenho buscado falar com alguns governadores que se elegeram no primeiro turno para ver aqueles que estão dispostos para a gente fazer um manifesto de apoio ao presidente. Acredito que a votação do presidente Bolsonaro surpreendeu a todos, porque as pesquisas davam outro prognóstico.

Ontem, no primeiro discurso depois de reeleito, o senhor citou que será o mandato das grandes obras. Além das obras previstas nas novas concessões rodoviárias, Ferroeste e Ponte de Guaratuba, que grandes obras serão concluídas neste segundo mandato?

Eu espero que todas elas, porque muitas dessas coisas nós já estamos tocando. A parte mais chata, burocrática, de elaboração de projetos, de estudos, as partes ambientais, tomam muito tempo. A Ponte de Guaratuba, por exemplo, levou três anos e meio de estudo - 18 meses só na parte ambiental. Então nós superamos, digamos assim, a fase chata. Falo, por exemplo, pela nova Ferroeste. Está tudo pronto. É só agora ter licença prévia, que é um ato do Ibama, que obviamente eles estão analisando. É um projeto de 3 mil páginas, nossa equipe técnica está há dois anos construindo junto com o Ibama, para não ter nenhum tipo de óbice. O projeto está em conformidade com aquilo que as leis ambientais exigem. Agora é esperar  a licença para estar autorizado a ir para a Bolsa de Valores. Eu quero ver se eu faço uma rodada internacional, apresentando esses projetos, em especial a nova ferrovia, com alguns fundos, porque esse é um projeto de US$ 2,5 bilhões. São poucos no Brasil que têm condição de pegar um projeto desse. Então nós temos que atrair investidor internacional. Estamos vendo se, em novembro, a gente vai para Nova York falar com alguns fundos de investimentos, para a Europa ou até Emirados Árabes. Mas a gente está estudando quais aqueles que podem ter interesse em disputar esse projeto.

No primeiro discurso o senhor também falou em sustentabilidade. E, às vezes, sustentabilidade entra em conflito com grandes obras. Como promover essa prometida sustentabilidade ao mesmo tempo em que se toca esses grandes projetos?

Sustentabilidade é a junção do desenvolvimento econômico com o cuidado ambiental. Para essas grandes obras, hoje, a engenharia já te dá alternativas e soluções sustentáveis. Então, a ideia é que a gente possa trabalhar dessa forma. Você trabalha para que a obra faça uma compensação ambiental, e isso de forma organizada, técnica. É possível ser feito.

O que do mandato que está acabando nestes três meses ficou para ser feito no próximo?  

Eu penso que as concessões [de rodovias], naturalmente, pelos prazos. Não podia fazer audiência pública no meio da pandemia, então acabou atrasando. Nós temos algumas obras de infraestrutura também, que estão sendo finalizadas. Nós vamos começar, no final desse ano ou no início do ano que vem, diversos projetos. Obras importantes que a gente vai tirar do papel.

Outro problema que o governo enfrentou nesse primeiro mandato foi a crise hídrica. Como está essa questão do uso dos reservatórios? O fator climático foi determinante, mas temos obras de reservatórios atrasadas. Como evitar que, na próxima seca, falte água nas torneiras dos paranaenses?

A Sanepar e a parte ambiental do Estado, a Secretaria de Sustentabilidade, estão pensando para os próximos 30 anos para, justamente, mesmo que tenha uma crise hídrica por falta de chuva, a gente não tenha que passar aquele sufoco que foi nesses últimos dois anos. Nós temos o projeto do Miringuava sendo finalizado. A obra atrasa porque tem um solo muito úmido e não pode fazer concretagem no ambiente úmido. A questão do clima influencia diretamente na obra, mas ela está acontecendo e vai ser finalizada. Nós temos, também, um projeto do Corredor de Biodiversidade no Rio Iguaçu, que vai daqui até Porto Amazonas. Vai ser uma grande reconstrução de fauna, flora, de combate a erosão e assoreamento do rio Iguaçu, e vai ajudar muito nessa capacidade hídrica. Outro projeto sendo estudado é o de vir por tubulação de Porto Amazonas para abastecer reservatórios de Curitiba, margeando a linha do trem, então não teríamos problema de desapropriação de qualquer tipo de impacto ambiental. E temos o programa Sinais da Natureza, para fazer um grande trabalho de preservação das minas, das nascentes na Mata Atlântica, aqui da Serra do Mar.

O senhor citou as concessões. Acredita que ainda vai dar para lançar edital esse ano? Ou, por conta do segundo turno da eleição presidencial, que vai até o fim de outubro, não vai acontecer nada?

Essa questão depende do Tribunal de Contas da União, cujo prazo não temos gerência, porque é um órgão extremamente independente, que é técnico. Temos que aguardar. É possível que um ou dois lotes sejam lançados nesse segundo semestre. Aí tem mais 120 dias de publicações. Então, aconteceria mesmo no início do ano que vem.

Um dos problemas que seu governo enfrentou neste primeiro mandato foi na relação com os servidores. Teve protesto dos servidores, dos agentes de segurança, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) foi aprovada pela Assembleia sem prever o pagamento da data-base dos servidores. O funcionalismo está entre as prioridades do governo?

Nós não temos problema com servidor. Tenho, talvez, problema com sindicato. Alguns sindicatos, em especial dos professores, que é um sindicato que não defende a classe. Ele defende um partido político, não defende os professores, é um só instrumento para fazer política com o partido. Veja, nós tivemos uma readequação salarial para os professores que nenhum outro estado deu: 48%. Ganho para a base dessa categoria dos professores. Nós estamos abrindo concurso público agora em novembro para mais 2 mil professores. Acho que a gente já demonstrou para esses servidores a boa vontade do governo de construir esse bom relacionamento e fazer os ajustes quando é possível. Mas você teve a Lei Mansueto, que proibiu aumento de gastos com pessoal, e temos o Supremo Tribunal Federal, que já definiu que data-base só se dá quando o caixa do governo tem essa possibilidade. Tivemos a queda do ICMS de gasolina, energia e comunicação. E nós temos que ver como é que o caixa do governo vai se ajustar ao longo desses próximos meses. E ir construindo isso com a categoria.

Ainda na questão da educação, como vai se dar a política de contratação na educação nos próximos anos? Concurso, PSS, terceirizações?

Vai se dar como nós já fizemos. Primeiro, a contratação de PSS tem que passar por teste. Nós queremos cada vez mais elevar a régua de qualidade dos professores. É uma coisa que não existia e nós resolvemos fazer para justamente ter os melhores professores na sala de aula, que isso acaba entregando uma melhor educação. Também vamos abrir concurso para 2 mil professores. As terceirizações foram e vão continuar sendo feitas na medida do possível, quando tem a necessidade, porque melhora a gestão dentro da escola. Um diretor não pode ficar sem o funcionário da merenda, da limpeza, da zeladoria porque uma pessoa faltou. Isso cria um problema para ele internamente na escola. A terceirização é um mecanismo pelo qual você consegue se, caso alguém vier a faltar, repor essa pessoa em 24 horas. É isso que nós temos, uma visão muito simples de gestão pública. E isso não é só na educação. Nada justifica eu ter um policial que ganha R$ 6 mil, que passa por um treinamento rígido, fazer serviço administrativo. Não tem lógica. Eu vou lá, contrato uma pessoa com serviço administrativo de uma terceirizada, com um contador, um auxiliar administrativo e ele vai fazer. O policial vai fazer a função dele, que é cuidar de rua, cuidar das famílias. É essa visão que nós estamos tendo e o que modifica é que essas pessoas que entram não ficam contribuindo com sindicato, nem fazendo pauta política. Por isso tem uma parte do sindicato que quer criar uma crise ou uma crítica ao governo, mas nós não vamos mudar isso.

Ao justificar essas terceirizações o senhor chegou a citar, em entrevista à RPC, o excesso de atestados médicos e, até, supostas irregularidades nestes atestados. Isso se confirma, o estado tem essa informação?

Temos essa informações, sim. Isso vai passar por análise dentro da Secretaria de Educação e conforme vai tendo esse levantamento, nós estamos encaminhando, inclusive para a Controladoria Geral do Estado.

Essa terceirização que o senhor citou para a segurança, por exemplo, é um caminho para polícia penal, para a administração de presídios?

Sim e já começamos. Vamos fazer um teste, e a ideia é avançar. Como nós construímos 12 presídios, em um acordo com o Ministério Público, que não queria mais as contratações por PSS. Com a terceirização você deixa o policial penal para aquilo que é sua missão. Hoje o policial penal faz a gestão da penitenciária e também faz a transferência de preso, coisa que a Polícia Militar fazia antes. Tinha que tirar o policial que estava na rua para fazer escolta de presos. Nós não estamos inventando nada, nós estamos só colocando aquilo que o servidor tem como missão.

Ainda na educação, o Estado teve o melhor Ideb, mas não atingiu a meta que desejava. O senhor acha que o Ideb é a melhor medida de se avaliar o nível da educação? Não é uma medida facilmente camuflada pelo qual se pode manipular matrículas, aprovações e até notas?

Eu acredito que é o instrumento que nós temos. E você não tem, no Paraná, a política de aprovar o aluno só para fazer nota no Ideb. Aqui é o estado em que, se o aluno não tiver bom desempenho, vai repetir o ano. Estamos muito focados em entregar a melhor educação do Brasil. O Ideb é um instrumento. Nós temos os nossos instrumentos. Por exemplo, a Prova Paraná é o que nós inventamos. A cada 60 dias se faz uma prova com 1,1 milhão de alunos para saber qual a escola e quais salas de aula estão indo bem. Então você sabe qual  professor está dando uma boa aula, qual não está. Então nós também fazemos a nossa referência.

Na saúde, o senhor herdou um problema crônico do Estado, que é das filas para consultas de procedimentos eletivos, uma situação que se agravou na pandemia, porque as pessoas deixaram de procurar o médico para se proteger da Covid-19. Neste próximo mandato, com a situação da pandemia sob controle, como pretende atacar esse problema?

Continuar fazendo os investimentos para diminuir essa fila. No final do ano passado, injetamos R$ 150 milhões no programa Opera Paraná. Historicamente, se você pegar o orçamento da saúde, o Paraná investia 30 milhões em cirurgias eletivas. Nós pulamos para 150 milhões esse ano. Vamos repetir o investimento de R$ 150 milhões. Nós criamos o AME, um ambulatório médico de especialidades, em Cascavel, Apucarana, estamos em construção de Jacarezinho, vamos construir de Cornélio Procópio e Ivaiporã. O plano é de 21 Ames espalhados regionalmente, com o médico especialista mais perto das pessoas.

A gente já começa a especular o secretariado. O senhor está dando continuidade ao mandato, tem sua equipe, seu secretariado, mas muitos deles deixaram o governo em abril para se descompatibilizar e disputar a eleição, porque muitos vinham do Poder Legislativo. Quase todos foram eleitos. O senhor pretende contar de volta com esses secretários que hoje são deputados?

Vou ter esse prazo de 60 a 90 dias até o próximo mandato para analisar o cenário. Se a gente vai ter uma outra secretaria que talvez vai ter que turbinar ou até mesmo criar para melhor atender as políticas públicas. Estou muito contente com a minha equipe. Acho que a gente conseguiu entregar um bom mandato, bater as metas. Se não todas, a grande maioria que a gente tinha colocado no plano de governo. Agora é analisar o cenário dos próximos anos.

Tem apoiadores importantes que acabaram não se elegendo. Um exemplo é o deputado federal Rubens Bueno. Ele fez um movimento importante para o Cidadania apoiá-lo mesmo estando em federação com o PSDB, evitando a candidatura do Cesar Silvestri Filho (PSDB). Terá espaço para ele em seu governo?

O Cidadania faz parte do nosso grupo político, como outros partidos. Temos ali nosso presidente de Esporte, Hélio Wirbiski, que foi um dos coordenadores da minha campanha, que é do nosso grupo. Agora, é avaliar nomes bons. Temos muita gente no nosso grupo político com qualificação e qualidade para assumir qualquer espaço.

O senhor já citou as limitações orçamentárias. Foi aprovada uma LDO com previsão de orçamento deficitário, teve a queda de receita com o ICMS. Mas, todo ano, temos a Assembleia devolvendo um cheque da sua parcela não utilizada do Orçamento. O Tribunal de Justiça está criando benefícios novos para utilizar dinheiro que tem sobrado em seu orçamento. Reduzir o percentual de repasse aos demais poderes não pode ajudar a resolver questões orçamentárias?

Se você parar para analisar, nós já estamos fazendo isso, de uma forma construtiva. Eu pago o 1/12 que temos como compromisso com os outros poderes, mas está previsto que, se a arrecadação aumentar, essa arrecadação a mais não é repassada. Então, de certa forma, isso já é feito, e espero que continue. Eu não posso influenciar no orçamento que a lei me determina repassar para os poderes, aí uma matéria interna corporis deles.

Na contramão disso, tramitou, na LDO, uma emenda para aumentar em 0,1 ponto percentual o repasse ao Ministério Público do Estado. A emenda acabou retirada, mas ficou a expectativa de que, após a eleição ela fosse apresentada. Agora, ela só pode vir via Poder Executivo. O senhor pretende apresentar essa emenda?

Eu não vejo problema nessa emenda, porque, se você vê, o Tribunal de Justiça aumentou o número de desembargadores. O Judiciário está expandindo, criou a Comarca de Paiçandu e a de Quatro Barras. Quando tem uma expansão do atendimento da Justiça, também tem um acompanhamento do Ministério Público, por razões óbvias. Então, como não é tão significativo assim esse recurso e como não temos o compromisso de repassar aquilo que é acima da LDO e do superávit, não vejo problema nesse caso.

Depois que o governador é reeleito, a gente já começa a pensar na sucessão dele também, já que o senhor não vai poder ser candidato em 2026. O senhor escolheu como vice o Darci Piana que, de certa forma, freou o ímpeto dos aliados por já indicar esse sucessor. Com esse grande grupo de aliados, o que o senhor vê para a sua sucessão?

Acho que é muito cedo, obviamente, mas eu penso que a parte boa é que nós temos muitos bons nomes que podem estar lá na frente buscando uma candidatura majoritária. Tem que trabalhar com calma. Nosso foco é entregar aquilo que estamos comprometidos com a população do Paraná. Se começar a pensar daqui quatro anos, desvia o foco. Então vamos trabalhar. Aquele que tiver um bom desempenho naturalmente vai acabar podendo ser o nosso sucessor.

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