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Roger Pereira

Roger Pereira

A política do Paraná em primeiro plano

Entrevista

Ricardo Barros: “O centro não vai entregar tudo o que Lula quer”

Ricardo Barros - reforma administrativa
O deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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Vice-líder de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), vice-líder de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e, desde 2020, líder do governo Jair Bolsonaro (PL) na Câmara dos Deputados, o deputado federal paranaense Ricardo Barros (PP) é um dos principais símbolos do chamado “Centrão” no Congresso Nacional. Não importa quem seja o presidente da República, Barros é chamado para negociar a adesão dos partidos de centro à base de apoio e dar ao chefe do Poder Executivo da vez a tão necessária governabilidade.

Nesta eleição de 2022, no entanto, Barros se engajou de forma mais efetiva na campanha de Bolsonaro, o que torna, num primeiro momento, mais difícil sua adesão ao governo Lula. Em entrevista à Gazeta do Povo, o deputado comenta o resultado da eleição, aponta o que faltou à campanha de Bolsonaro e faz uma projeção das dificuldades que Lula terá para construir sua base parlamentar. “Isso não vai se dar nos moldes que acontecia anteriormente”, alertou.

Confira a íntegra da entrevista:

Queria começar com uma avaliação sua sobre o resultado da eleição. O presidente Bolsonaro fez mais votos do que as pesquisas indicavam no primeiro turno e, a campanha se animou com a possibilidade de virada. Na sua opinião, o que faltou?

Olha, o presidente, como você disse, fez mais votos do que se esperava no primeiro turno, e fez mais votos, também, do que as pesquisas davam para ele no segundo turno. O presidente enfrentou, como ele fala, o sistema: a Justiça Eleitoral, muito parcial contra ele, e a grande mídia também. Mas tudo bem, também. São brigas que ele comprou e ele segurou. Então, não pode reclamar do comportamento que eles tiveram, porque era também uma reação à própria conduta do presidente. Eu acho que faltou voto, só isso. Eleição ganha quem erra menos, né? E a campanha do presidente tinha totais condições de vencer, mas houve percalços da campanha, principalmente na última semana, que custaram caro. Mas a própria apuração de votos mostrou que ele poderia vencer as eleições. Claro que o fato de o tribunal tirar dele as suas inserções comerciais a última semana inteira e passar para o Lula pesou muito também, mas faz parte do contexto e era esperado da minha parte. Pelo menos o comportamento da Justiça, do Alexandre Morais, era totalmente previsível, e da mídia também. E das pesquisas, vale lembrar. Então, os fatores que foram mais acentuados no resultado negativo eram todos previstos e não vejo surpresa nesse comportamento. Acho que o presidente fez muito voto, fez a maior bancada na Câmara, a maior bancada no Senado. O governo de São Paulo. Está em condições plenas de disputar a presidência em 2026.

Houve percalços na última semana que, infelizmente, custaram caro.

O senhor citou que houve erros na campanha na reta final. A declaração do ministro Paulo Guedes sobre desvincular o salário mínimo da inflação foi o grande erro da última semana?

Foi uma série de erros. Na última semana teve as declarações do Guedes; teve a história das inserções de rádio que, depois, o próprio Fábio Farias, que foi quem denunciou, voltou atrás; teve Roberto Jefferson; teve Carla Zambell. E teve o debate, que também que não foi bom. Então foi um conjunto de revezes, vamos dizer assim, da campanha ou não, mas que impactaram. Lula errou também, com o MEI, com outras questões, mas errou menos. E os comerciais, né? Os comerciais são muito impactantes. Lula ficou com 90% de comerciais e o Bolsonaro com 10%. Então eu acho que a decisão da Justiça que mais afetou a campanha foi essa, embora ele tenha baixado inúmeras resoluções para favorecer a candidatura do Lula e prejudicar o Bolsonaro, né? Foram sequências. Só no dia 20 (de outubro) teve cinco decisões do TSE tentando conter o avanço do Bolsonaro e facilitando o crescimento do ex-presidente Lula. Isso tudo, no conjunto, produziu esse resultado que eu considero um excelente resultado diante das adversidades que a campanha enfrentou.

E, como líder de Bolsonaro na Câmara, como o senhor define este governo que está se encerrando?

O governo Bolsonaro foi um governo liberal, com um Banco Central independente, uma decisão muito importante que foi tomada, com a capitalização da Eletrobras, a gestão profissional das estatais, todas dando lucro. Correios deram lucro recorde de R$ 3,7 bilhões. A Petrobras: o lucro da Petrobras financiou o auxílio caminhoneiro, o auxílio taxista, os R$ 200 a mais de auxílio emergencial, o Vale Gás. Tudo isso com o resultado das estatais. Então, eu acho que está muito bem. O governo contratou R$ 1 trilhão de infraestrutura nos próximos anos. Ferrovias, rodovias, portos que vão gerar muito emprego e oportunidade. Menor taxa de desemprego dos último anos. Menor inflação que os Estados Unidos e Europa; maior crescimento que os Estados Unidos e Europa. Vamos crescer mais do que a China. Então é um governo de muitas realizações. A Câmara votou cabotagem, licenciamento ambiental, regularização fundiária, que são projetos importantes para o Brasil. Defensivos agrícolas; Lei da liberdade econômica. Toda a questão da pandemia, o auxílio a estados e municípios, todo o socorro que foi feito; os R$ 500 milhões em vacina. Então, esse governo que tem uma boa história para contar.

E agora? Esse governo liberal que o senhor citou chega ao fim, para a volta do PT e de Lula ao poder. O que esperar desse terceiro mandato de Lula??

O Lula começou a falar esta semana e você viu a repercussão no mercado. Eu não acho que eles vão mudar. Estão chamando o Paulo Bernardo, o Guido Mantega. Estão chamando a mulher da Marielle. Começou bem a composição, com nomes muito palatáveis, mas agora já começou a radicalizar. Mas é esperado de quem ganha. Quer governar com seus companheiros e vamos ver como o mercado vai avaliar e vai absorver isso. O centro, como sempre, será decisivo no governo. Temos, hoje, um governo de centro-direita, passaremos a ter um governo de centro-esquerda e o centro vai entregar o que for possível ao presidente, mas não tudo. Como não entregamos tudo o que o Bolsonaro queria na pauta conservadora. O Lula também não vai conseguir tudo, especialmente retrocessos na reforma trabalhista que já estão sendo anunciados. E a liberdade para gastar sem limites que também não vai ser dada.

O Lula também não vai conseguir tudo, especialmente retrocessos na reforma trabalhista ou liberdade para gastar sem limites

E esse governo Lula terá participação do PP, terá o PP na base de apoio no Congresso? Como o partido deverá se comportar?

Eu não tenho a expectativa que o Progressistas declare apoio à base de apoio ao presidente Lula, pelo menos nesse momento de transição, em que o nosso eleitorado ainda está muito posicionado. A responsabilidade de pacificar o Brasil é do presidente Lula. Se ele pacificar, ele cria um ambiente para que possa ter mais apoio. Se não pacificar, os parlamentares não vão se divorciar da sua base eleitoral para apoiar o governo.

Mas o governo Lula precisará buscar o PP e o centro para sua base, principalmente por conta do tamanho da bancada que o PL conseguiu eleger e que, certamente, estará na oposição.

Mas isso não vai se dar nos moldes que aconteceu anteriormente. Nós, hoje, temos um eleitor do Bolsonaro que está na rua protestando. Então, quem se elegeu com a pauta bolsonarista, com o vínculo com o presidente Bolsonaro, não pode ir lá agora e contrariar todo esse povo porque quer ser governo, isso não existe. Nós temos cada um que manter uma posição de coerência. Então será mais difícil para esse governo montar base parlamentar, pelo menos no primeiro momento. Então, ninguém sabe o que vai acontecer. Todo mundo está esperando, será um 15 de novembro nervoso. E nós temos que entender a mensagem das urnas, mas temos que ouvir a voz das ruas também, com cuidado, com parcimônia e paciência.

Por falar em voz das ruas. O senhor fez publicações nas redes comentando, elogiando e incentivando as manifestações após as eleições, afirmando que elas são pacíficas e democráticas. Até onde esses atos podem ir sem deixarem de ser pacíficos e democráticos? O que essas pessoas podem reivindicar sem deixarem de ser pacíficas e democráticas?

Olha, eu sou defensor da livre opinião. Eu estou radicalmente contra os exageros do Alexandre Moraes, do TSE e do STF tentando calar a boca do povo. Isso não existe. Quem se sentir ofendido com alguma declaração, tem o Código de Processo Civil, vai lá e pede indenização por injúria, calúnia, difamação, pede retratação. Mas ele não pode mandar prender, não pode bloquear a rede social. Nós estamos vivendo um momento de exceção. O TSE está quase fazendo uma intervenção na liberdade de expressão no Brasil, o que é absolutamente reprovável. As pessoas têm todo o direito de estar na rua, de fazer ato, de expressar a sua opinião, desde que não bloqueiem o direito de ir e vir dos outros. Desde que todo mundo respeite, as opiniões são livres para serem dadas. Eu apenas registrei o movimento que eu acho que está aí na rua, nós não podemos dizer que não. As pessoas estão nas ruas, estão, ainda, vamos dizer assim, indignadas com o resultado da eleição. Na minha opinião, inclusive, o TSE está emitindo decisões totalmente sem prerrogativa para isso, porque já acabou eleição, o TSE não tem mais nada a ver com o movimento da rua, não vai afetar o resultado da eleição. O que não afeta a eleição não é prerrogativa do TSE reagir. Ele tem que se recolher.

A principal pauta dessas manifestações, como o senhor disse, é contestar o resultado da eleição. O senhor foi um dos primeiros apoiadores mais próximos do presidente Bolsonaro a reconhecer o resultado da eleição. O senhor tem alguma dúvida sua sobre o resultado das urnas em 30 de outubro?

Não. A apuração está completa e o resultado proclamado. Os eleitos serão diplomados e empossados. Agora, quem não gostou tem todo direito de reclamar. E não podemos cercear a liberdade de opinião de ninguém. Eu não só reconheci o resultado como estou ajudando na transição, porque é o que tem que ser feito. Mas não há nenhuma razão para um deputado federal ter a sua rede social bloqueada, como temos hoje, de vários parlamentares. Isso é incabível. O Tribunal Superior Eleitoral tem que se enquadrar rapidamente nas suas atribuições. Acabou a eleição. Eles não têm mais que estar tomando medidas e nenhuma medida que ele tome agora deve ser respeitada, porque ele não tem prerrogativa, não tem atribuição. Nós não estamos mais no período de eleição.

A reeleição do presidente Câmara, Arthur Lira, é uma prioridade para o PP no ano que vem?

Com certeza é o projeto mais importante para o partido nesse momento. E está indo muito bem, na medida que o governo eleito já declarou que não vai ter candidato e nem vai interferir no processo o que torna o Arthur Lira franco favorito para ser reeleito presidente da Câmara, assim como Rodrigo Pacheco (PSD), que está sendo franco favorito no Senado.

A tal governabilidade do governo Lula está em jogo nessa eleição da presidente da Câmara.

Olha, o PT por duas vezes tentou interferir na eleição da Câmara, perdeu com Severino Cavalcanti e depois perdeu para o Eduardo Cunha, o que custou o impeachment da Dilma. Então, a declaração feita pelo presidente Lula eleito, de que não vai interferir no Poder Legislativo, é, também, o reconhecimento de uma lição aprendida.

Para encerrar, uma pergunta sobre o Paraná. O governador Ratinho Júnior também foi uma das pessoas que se engajou na campanha do presidente Bolsonaro, principalmente no segundo turno, depois de reeleito, ele liderou e coordenou a campanha do presidente aqui e fez alguns discursos contundentes, até fugindo um pouco da característica dele, que é muito mais apaziguador. Tem caminho para Ratinho Júnior se reaproximar do presidente Lula?

Claro, o presidente Lula precisa do apoio de todos. Como acabei de dizer, a principal tarefa dele é pacificar o país. O partido do governador Ratinho já está na base do novo governo. Vai ter dois ministérios. Então, não vejo nenhuma dificuldade para que haja um bom relacionamento entre o governador e o presidente da República, que pode ser atrapalhado apenas por lideranças petistas do Paraná que queiram criar caso para que esta relação não seja melhor para o povo do Paraná.

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