Líder do governo Jair Bolsonaro (sem partido) na Câmara dos Deputados, o deputado federal paranaense Ricardo Barros (PP) virou personagem central da nova crise política vivida pelo Palácio do Planalto. O nome dele foi envolvido na suspeita de irregularidades na compra da vacina Covaxin. Conhecido pela sua habilidade de articular com o poder central, a ponto de ter sido vice-líder de Lula, ministro de Temer e líder de Bolsonaro, Ricardo Barros também tem importante participação política e envolvimento em casos que foram parar na Justiça no Paraná.
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Barros é o patriarca de um dos principais clãs da política paranaense. Filho do ex-prefeito de Maringá (1973-1977) Sílvio Barros, ele construiu sua carreira política na cidade do Noroeste do estado, onde se elegeu prefeito com apenas 29 anos, em sua primeira candidatura a um cargo público. Seu irmão, Silvio Barros II também já foi prefeito da cidade por dois mandatos (2005 a 2012). Sua mulher, Cida Borghetti, foi deputada estadual, deputada federal, vice-governadora do estado e exerceu o mandato de governadora por oito meses, em 2018, após a renúncia de Beto Richa (PSDB) para desincompatibilizar-se para eleição ao Senado. Hoje, Cida é conselheira da Itaipu Binacional, cargo de livre nomeação do presidente da República, para o qual foi indicada em maio, o que evidencia a proximidade de Barros e Bolsonaro. A filha do casal, Maria Victória, é deputada estadual em segundo mandato e presidente do PP do Paraná. O irmão de Cida, Juliano Borghetti, também teve carreira pública, foi vereador de Curitiba.
Da prefeitura de Maringá, Barros foi direto para Brasília, exercendo quatro mandatos consecutivos como deputado federal (1995 a 2010). Neste período, Cida iniciou sua carreira política, elegendo-se deputada estadual em 2003. Em 2010, Barros tentou um voo mais ousado, candidatando-se ao Senado. Não se elegeu, mas a família manteve uma cadeira em Brasília com Cida sendo eleita deputada federal. Sem mandato, foi nomeado secretário de Indústria e Comércio do governo de Beto Richa (PSDB). Nas eleições de 2014, voltou à Câmara dos Deputados, emplacou Cida como vice de Richa e Maria Victória como deputada estadual.
O envolvimento de Barros no caso da Covaxin fez os membros da CPI da Covid-19 lembrarem que Barros foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por atos de improbidade administrativa na época em que foi ministro da Saúde por irregularidades no processo de aquisição de medicamentos, mas os problemas do deputado com o Ministério Público e a Justiça também tiveram início na sua atuação como prefeito de Maringá.
Em 2009, Barros foi condenado a ressarcir os cofres públicos por fraude na venda de maquinário público durante o período em que foi prefeito da Cidade-Canção. Segundo a denúncia, a prefeitura de Maringá teria simulado a venda do maquinário a uma cidade vizinha para, de fato, vendê-lo a uma pessoa física, membro da comissão de avaliação do maquinário nomeada por Barros, sem licitação. “Não participei desse evento. Confiei nas pessoas designadas para fazer a avaliação. Recebemos o dinheiro e não houve prejuízo para a prefeitura. Não fui beneficiado. Vai ser mais um processo arquivado pelas instâncias superiores das dezenas que já respondi", declarou Barros à época. O Superior Tribunal de Justiça confirmou a condenação em 2012.
Em 2011, a Procuradoria Geral do Ministério Público do Paraná passou a investigar Ricardo Barros por suspeita de corrupção, improbidade, interferência administrativa e tráfico de influência em uma licitação da prefeitura de Maringá sob a gestão Silvio Barros II, irmão de Ricardo. Escutas telefônicas revelaram que Ricardo Barros teria orientado o então chefe de gabinete do prefeito a organizar um “acordo” entre duas agências de comunicação que disputavam licitação de publicidade da administração municipal no valor de R$ 7,5 milhões. Em 2019, o MP ingressou com ação por improbidade administrativa contra Barros, que alegou a prescrição do caso.
No ano passado, escritórios políticos de Ricardo Barros foram alvo de operação de busca e apreensão pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) num desdobramento de delação premiada da Operação Lava Jato. Em acordo de delação, o ex-presidente da Galvão Engenharia, Dário Queiroz Galvão Filho, afirmou ter feito doações eleitorais de R$ 5 milhões ao PP, por intermédio de Ricardo Barros para conseguir se aproximar do então secretário de Indústria e Comércio do governo do Paraná e viabilizar a venda da participação da empreiteira na São Bento Energia à Companhia Paranaense de Energia (Copel). Barros alegou que nunca teve nenhuma influência sobre a gestão da Copel e que só recebeu da Galvão Engenharia doações eleitorais lícitas e registradas no Tribunal Superior Eleitoral.
Além das investigações e processos que atingem diretamente o deputado federal há ainda o caso de Juliano Borghetti, condenado a três anos de prisão por tráfico de influência na Operação Quadro Negro, que investigou desvio de recursos para obras de construção e reforma de escolas; e a Operação Taxa Alta, que investiga uma licitação do Detran para o registro de contratos de financiamento de veículos durante o governo Cida, que teria sido direcionada a uma empresa do relacionamento do grupo político de Barros. Na operação, foram presos, entre outras pessoas, o diretor do Detran no governo Cida, Marcelo Panizzi, e Leopoldo Floriani Fiewski Júnior, ex-assessor da governadora, responsável pela elaboração do edital, segundo a investigação. Na época da operação, Cida Borghetti disse que determinou a realização do edital de credenciamento porque os contratos anteriores eram precários, mas que desconhecia qualquer irregularidade posteriormente identificada pelo Ministério Público.
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