O eleitor do Paraná demonstrou, neste domingo, que mantém apoio à Operação Lava Jato e mandou para o Congresso Nacional os dois principais personagens da maior operação de combate à corrupção da história do país, com votações consagradoras. O juiz da maioria das ações penais que tramitaram na 13ª Vara Federal de Curitiba, Sergio Moro, foi eleito senador pelo estado, enquanto o coordenador da força-tarefa no Ministério Público Federal, Deltan Dallagnol foi o deputado federal mais votado do estado. A bancada ainda será reforçada por Rosangela Moro, mulher do novo senador paranaense, eleita deputada federal em São Paulo.
A eleição para o Senado coroa uma primeira candidatura conturbada de Sergio Moro. O ex-juiz, que estava trabalhando na iniciativa privada, nos Estados Unidos, desde que deixou o Ministério da Justiça, em 2020, voltou para o Brasil em novembro de 2021 para ser o pré-candidato à Presidência da República da “terceira via”. Moro filiou-se ao Podemos, a convite do senador Alvaro Dias, a quem acabou derrotando nesta eleição.
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Em abril, o ex-juiz trocou de partido, buscando uma legenda com maior estrutura para seu projeto nacional, filiando-se ao União Brasil, mas, logo, sofreu um revés interno, com o partido barrando sua candidatura a presidente e lançando-o pré-candidato ao Senado por São Paulo. No entanto, seu domicílio eleitoral paulista foi negado pela Justiça Eleitoral e ele acabou disputando a eleição pelo Paraná, polarizando a campanha contra seu ex-padrinho político, Alvaro Dias (Podemos).
Neste domingo, no entanto, Moro teve tranquila vantagem de 10 pontos percentuais sobre Dias, mas travou uma disputa acirrada com Paulo Martins (PL). Moro recebeu pouco mais de 33% dos votos válidos, ante 29% de Martins e 24% de Alvaro Dias. O resultado mostra um acerto da estratégia de campanha de Moro, que focou no eleitor bolsonarista, não tratando, em sua campanha, das desavenças com o presidente que o levaram a sair do governo e nacionalizando seu discurso ao apresentar-se como antagonista ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Com isso, o ex-juiz conseguiu conter o crescimento de Martins, candidato oficial de Bolsonaro e do governador reeleito Carlos Massa Ratinho Junior (PSD). Moro também utilizou a estratégia de associar Alvaro Dias à esquerda, explorando a presença do PSB na coligação do adversário, além de uma declaração de petistas sobre “voto útil” no candidato do Podemos para tentar evitar a eleição de Moro.
"Foi uma eleição difícil porque nós lutamos contra todo um sistema político, que não queria a gente em Brasília e, por isso, se posicionou contra nós. Tivemos poucos aliados políticos, mas tivemos aliados valorosos. Vamos retomar a luta pela integridade, pelo combate à corrupção e pela honestidade na política, que é o pressuposto de tudo para gente mudar esse país", comentou Moro, ao chegar no Tribunal Regional Eleitoral do Paraná para comemorar a vitória.
"Lava Jato renasceu como uma fênix"
Já Deltan Dallagol seguiu o caminho inicial de Moro, deixando o Ministério Público federal para filiar-se ao Podemos, mas manteve-se no partido mesmo após a mudança de Moro. Chegou à eleição como favorito e confirmou essa condição, sendo o deputado federal mais votado no Paraná, com a segunda maior votação da história, com 344.917 votos. Só Ratinho Junior, em 2010, com 359 mil votos, teve uma votação maior que a recebida por Deltan neste domingo.
“O recado que a sociedade está mandando é um recado claro para os corruptos: que a Lava Jato renasceu hoje como uma fênix. Não das cinzas, mas das urnas, a partir do coração das pessoas. O povo deixou uma mensagem muito clara de que os corruptos não vão nos vencer”, comentou Dallagnol à coluna. “Para a gente analisar o futuro do combate à corrupção vai depender muito da composição do Congresso. Uma, duas, cinco, dez pessoas não vão mudar o Brasil. Por isso, a gente precisa da nossa força e do apoio das pessoas a essa causa, o combate à corrupção”.
Deltan já deixou claro que a eleição deste domingo marca o início de uma carreira política que ele pretender ser de longo prazo. “A capacidade nossa de acabar com o foro privilegiado, de aprovar a prisão em segunda instância e outras medidas contra a corrupção vai depender dessa configuração do Congresso. Se não tivermos um Congresso bom neste momento, vamos ter que lutar por isso para a próxima legislatura. Não adianta a gente achar que a luta contra as injustiças históricas e arraigadas vão ser vencidas da noite para o dia. Precisaremos de anos, décadas, e, novamente, do apoio das pessoas”, afirmou. “Além da pauta do combate à corrupção, defenderemos a reforma política, reforma tributária, reforma administrativa, uma educação com melhores resultados e uma política pública nacional em relação aos autistas. Não saí buscando um cargo. Saí por uma transformação, que sei que será de longo prazo”, concluiu.
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