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Em Curitiba, onde participou da convenção do MDB Mulher e MDB Afro do Paraná no último sábado, a senadora Simone Tebet (MDB), pré-candidata à presidência da República, afirmou acreditar que no momento certo haverá a união das candidaturas da terceira via (que ela chama de centro democrático) para tentar fazer frente à polarização entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva. Ela reconheceu que, com diversas candidaturas pulverizadas, dificilmente haverá espaço para alguma delas despontar e ameaçar os dois principais pré-candidatos do momento. “É matemático. E nós sabemos fazer conta”, disse.
Em entrevista à Gazeta do Povo, a senadora afirmou, no entanto, que o momento da união das forças será em julho, no período das convenções. Segundo ela, agora, todos os pré-candidatos precisam se apresentar, tornarem-se conhecidos, mostrarem suas ideias para, no momento das convenções o chamado centro democrático decidir qual seria o nome com maior viabilidade. Com a menor rejeição entre os pré-candidatos, sendo a única mulher a se colocar na disputa, Simone Tebet disse que a sua candidatura tem os requisitos para “ganhar o coração do brasileiro” a ponto de tornar-se o nome da terceira via. Confira a entrevista:
Criou-se uma expectativa de que a sua pré-candidatura fosse uma das que tivesse capacidade de aglutinar a terceira via. O que falta para se tentar esse passo?
Falta começar o processo eleitoral. Este não é um momento de eleição ainda. É um momento em que estamos saindo de uma pandemia, em que o mundo está em guerra e as pessoas estão preocupadas com comida no prato e se vão dar conta de pagar o aluguel. Então, é natural que o processo eleitoral não tenha começado. Ao mesmo tempo, é muito sintomático quando a gente vê a angústia a aflição das pessoas por busca de nomes. É sinal que, realmente, a população não está satisfeita com o que se tem por aí. Diante desta situação, o maior partido do Brasil não poderia ficar omisso. O MDB é assim: nos momentos em que o Brasil mais precisa, ele está presente. E nós nunca vivemos uma crise como essa. Que não é crise apenas econômica, é conjunta: crise econômica, crise política, crise de valores, crise de identidade. Onde tudo se somou: fome, desemprego, inflação, miséria, falta de igualdade, de oportunidade. Os índices de qualidade de educação e saúde despencaram. Então, agora é hora de se apresentar ao Brasil, no momento certo. O fato de ser a única mulher entre os pré-candidatos, vir do maior partido do Brasil e ter a menor rejeição, nos dá certeza de que temos condições de representar essa única via capaz de tirar o Brasil desta situação de polarização.
A senhora diz que o brasileiro clama por novos nomes, mas, apesar dos vários nomes colocados à disposição, o atual presidente e o ex-presidente Lula seguem dominando as pesquisas eleitorais sem que um terceiro nome desponte. É natural, pelo momento, pela maior exposição de ambos, pelo antagonismo que representam ou esse cenário já deveria estar diferente?
É natural entender o que está acontecendo, mas não é normal. É natural essa polarização entre dois candidatos que se rivalizam e se retroalimentam, um da política raivosa do outro. Mas não é normal, não é saudável. Você fica falando de ideologia, de volta ao passado ou permanecer no presente, como se o Brasil não tivesse um futuro diferente a oferecer às pessoas. Não é natural você polarizar em cima de conceitos ideológicos quando as pessoas querem comer. As pessoas querem segurança, querem teto para morar, querem o atendimento médico que estão esperando há anos. Enquanto a gente tem mazelas profundas no Brasil, essa polarização não faz bem para o país. E é contra essa polarização que o centro democrático se apresenta.
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E a senhora acredita que para que um nome da terceira via chegue com chances reais de segundo turno é necessária a união em torno de uma única candidatura? Isso ainda é possível?
Isso vai acontecer no meio do caminho, eu não tenho dúvida. É matemático, nós sabemos fazer conta. Mas não é a hora. Agora é hora de cada um percorrer o Brasil e se apresentar. A gente não sabe quem vai tocar o coração das pessoas. Em qual dos nomes as pessoas vão enxergar a verdade, o conhecimento, a capacidade, vão confiar o voto. Não vai ser um voto qualquer. É preciso conscientizar a população brasileira de que estamos em uma encruzilhada. Podemos seguir o caminho da direita, o da esquerda, ou o único caminho viável para tirar o Brasil do buraco. A bússola indica que o porto seguro é o caminho do centro. Se você não serenar, não tranquilizar a política, não garantir paz e segurança, não conseguiremos resolver os grandes problemas que assolam o Brasil.
E há espaço para convencer nomes como Sergio Moro (Podemos), Ciro Gomes (PDT) e João Doria (PSDB), entre outros, a andarem juntos?
Eu tenho certeza que o centro democrático vai ter juízo. Conhecendo esses personagens como eu conheço, sei que eles vão colocar o interesse do Brasil acima de um projeto pessoal ou partidário de poder. O que está em jogo, hoje, é a vida das crianças que precisam ter um ensino de qualidade, um direcionamento da nossa juventude para o mercado de trabalho, dar segurança para que o setor produtivo, com regras claras, desburocratizando, possa voltar a investir e gerar emprego. Está faltando responsabilidade econômica e social, economia verde para atrair investimentos internacionais. A classe política e os pré-candidatos do centro democrático têm a consciência da responsabilidade estarmos juntos lá na frente em prol de um projeto de país.
E para que o nome levado ao eleitor em outubro seja o seu, o que é preciso fazer até a data das convenções?
Tornar-me conhecida. Estamos percorrendo todas as capitais e pelo menos uma cidade do interior de cada estado. Vou voltar ao Paraná, que é um estado irmão e que conheço muito bem. Vou estar percorrendo o Brasil, me apresentando. E o fato de ser a única mulher candidata já faz com que as pessoas, ao menos, parem pra ouvir o que a gente tem para dizer. E a gente tem muito a dizer.
Para encerrar, senadora, queria um comentário seu sobre a situação do MDB no Paraná. O partido passa por uma reformulação, com a saída do ex-governador Roberto Requião e várias outras desfiliações importantes, e a busca por novas lideranças. Como reorganizar um partido no ano da eleição?
É muito fácil porque não é qualquer partido, é o maior partido do Brasil. É um partido que tem grande história no Brasil e no Paraná. É um partido com 2 milhões de filiados, com o maior número de prefeitos e vice-prefeitos e de pessoas públicas. É o partido que, nos momentos mais difíceis, sempre se fez presente e a população brasileira tem memória. Sabe que fomos nós que tiramos o Brasil da ditadura, que fomos nós que escrevemos a Constituição Cidadã junto com outros parlamentares, que buscamos nossos irmãos exilados para voltar ao Brasil. E fomos nós que tivemos a capacidade de, depois do impeachment de uma presidente da República, reorganizar a inflação e fazer o PIB brasileiro voltar a crescer. Então, esse gigante que estava adormecido, agora se desperta porque estamos, de novo, numa das maiores, senão a maior crise política, social e econômica da história. Então o Brasil precisa do MDB, que é o maior partido de centro. E o MDB está voltando às suas origens. Como a gente vai se recuperar, fazendo isso: com o Anibelli, aqui, repaginando o partido, como estamos fazendo no Brasil e em outros estados da federação. Começou com o Baleia Rossi (deputado federal e presidente nacional do MDB), mostrando para os caciques do MDB que era preciso renovar. Passou pela candidatura dele à presidência da Câmara e a minha à do Senado, contra o sistema, contra os candidatos na base do orçamento do presidente da República. E, depois, entregando cargos e dizendo que não queremos ministérios, que iríamos votar de acordo com o que era interesse do Brasil. Então, não é no ano eleitoral. O MDB começou a se reencontrar com a sua origem e com a sua história de um ano e meio para cá.