Audiências públicas, mobilização de vários setores. E o Ibama negou a licença para as obras do Contorno Norte. Será preciso refazer o estudo sobre o impacto ambiental. Entre outros absurdos, pretendia-se atropelar inclusive a Embrapa Florestas, em Colombo, fatiando a reserva legal. Por ora, prevalece o interesse coletivo sobre o interesse individual. Ou interesses.
Quem melhor definiu a questão foi o professor Sergio Ahrens, engenheiro florestal, bacharel em Direito, pesquisador em Planejamento da Produção e Manejo Florestal na Embrapa Florestas:
– A proposta é a resposta errada para a pergunta certa há 40 anos…
Quilômetros de problemas
Com o Contorno Norte pretende-se ligar a Rodovia da Uva (PR-417) à BR-116, em Colombo. A obra faz parte do plano de exploração da BR-116 SP/PR com 13,2 km de pista dupla. O projeto original é de 1978.
Osmir Lavoranti, chefe de administração da Embrapa, ressalta que a Embrapa Florestas é o maior imóvel de Colombo: 305 hectares. O projeto, além de prever a divisão da área, “promoveria o desordenamento territorial ao invadir área de preservação permanente da APA do Iraí e a nossa reserva legal”. Mais: não respeitaria a resolução do Conama ao apresentar “só uma alternativa de traçado e desobedeceria a Lei da Mata Atlântica”.
O Contorno: uma rodovia de pista dupla com 80 metros de largura e 50 metros de recuo com uma área de influência de 500 metros de cada lado, afetando todo o sistema hídrico da região da APA do Rio Iraí, com estancamento de águas e destruição de nascentes. Só na área de reserva legal, uma perda 62%. No total, 51% da Embrapa Florestas”.
“Comedor de florestas”
Já que coisa nenhuma parece escapar do progresso, o projeto do Contorno Norte de Curitiba deixou muita gente com os cabelos em pé e, sempre na surdina, fez a alegria de pessoas que pretendiam – e ainda pretendem – lucrar com a obra, nos termos em que foi colocada a proposta. Não se trata, por supuesto, de descartar o contorno, mas sim de impedir que seja construído com o pretendido traçado atual, considerado “simplesmente ilógico”.
– Se realmente for isto que a concessionária propõe, a obra deste contorno será um verdadeiro “comedor de florestas”, como classificou o deputado Rasca Rodrigues (PV), em audiência pública na Assembleia.
O alvo
Para que se possa medir, por baixo, os prejuízos que poderiam advir da obra, do jeito com que foi encaminhada, basta ver que, em quase 30 anos, um dos alvos a serem abatidos, a Embrapa Florestas, “possibilitou e colocou, comprovadamente, um significativo número de tecnologias à disposição do setor florestal. Graças a isso, foi possível atuar com eficiência produtiva, redução dos custos de produção, aumento da oferta de produtos florestais e agrícolas no mercado e, simultaneamente, conservar o meio ambiente”.
Um baita patrimônio – em todos os sentidos.
Afinal, sua missão é “viabilizar soluções de pesquisa, desenvolvimento e inovação para a sustentabilidade florestal em benefício da sociedade brasileira”.
Prejuízos atuais e futuros
Em agosto de 2012, sobre o EIA-RIMA (Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental), a Embrapa alertava que a obra afetaria “seriamente pesquisas atuais e futuras sobre o desenvolvimento florestal brasileiro”.
ENQUANTO ISSO…