Principalmente por conta do triunfo do Atlético na Bahia, contra o Vitória, o assunto do professor Afronsius, Natureza Morta e Beronha foi futebol. Não propriamente os resultados, mas o que acontece de surreal numa partida.
– Principalmente quando se trata do Atleticón…
Basta ver o estranho lance com Manoel. Prensado na pequena área por dois adversários e o goleiro, ficou sem saber o que fazer com a bola. Providencialmente, eis que aparece um outro atleticano e manda a bola pro mato.
– Pro mato ou para cima dos coqueiros? – provocou Beronha.
– É, tem jogador que é um perigo. Pros dois lados – emendou o professor Afronsius.
Não bastasse isso, os frequentadores do Bar VIP da Vila Piroquinha tiveram de aguentar um comentário. Um carioca, turista de passagem, se encantou com o jogo:
– No segundo tempo, o Atlético parecia o Barcelona.
Alguém trucou:
– Menos. Talvez o Barça Nova…
Baixando a bola
Mas, até porque, no jogo de ontem, entre Ponte Preta e Santos, a TV deu um susto ao mostrar o placar do estádio. Merece registro: o time da casa fez 1 a 0 e apareceu na telinha “Ponte Preta 1 x Visitante 0”.
Isso mesmo: o Santos (de Pelé) virou um mero visitante em Campinas. O primeiro (ou segundo) time mais mais famoso do mundo (o Barça seria o primeiro?) foi reduzido a pó de traque. Poderia ser, pelo menos, “ilustre” visitante… E deu no que deu.
A “caixinha de surpresas”
Sobre sustos e sobressaltos no futebol, Natureza viu-se obrigado a se socorrer no mestre Armando Nogueira. No livro “Na Grande Área”, Edições Bloch, 1966, destaca as “forças ocultas”. Antes, cita Jean Giraudoux, para quem “a bola não admite truques – só efeitos sublimes”.
Diante do interesse do vizinho de cerca (viva) e do nosso anti-herói de plantão, citou de cabeça o caso do Zé do Efeito. Nas palavras de Nogueira, Zé do Efeito jogava no Sapiranga FC, interior do Rio Grande.
Segundo o jornalista, não era um craque, “mas tinha um segredo que o tornava irresistível em certos momentos”.
Taco de bilhar francês
Zé do Efeito fazia jus ao cognome. “Sabia como ninguém chutar de efeito. Seu pé esquerdo, um pezinho de nada, continha a sabedoria de um taco de bilhar francês: quando tocava na bola, aplicava-lhe os mais variados efeitos”. A saber:
– Efeito contra, efeito de curva aberta, efeito de curva fechada, efeito a favor, o diabo.
Um belo dia
Armando Nogueira prossegue, ressaltando que passa história como lhe foi contada: jogo contra o Sapucaia, “o temível rival”. O juiz marca um pênalti para o Sapiranga, que perdia por 1 a 0.
Chance do empate. Quem vai bater? Diante do Himalaia de responsabilidade, Marajó, o chutador oficial, saiu de fininho. “Se perdesse o pênalti poderia perder o lugar no time, o emprego na fábrica ou até a própria vida”.
A torcida pressiona
A torcida começa a gritar, sugerindo Zé do Efeito. Como sabidamente chutava fraco, qualquer um poderia ser escolhido, menos o Zé do Efeito. Até o capitão do time desaconselhou o treinador a indicar o Zé.
Mas, diante da pressão dos torcedores, coube a ele efetuar a cobrança. Ajeita a bola. Silêncio profundo.
O goleiro era “um gato de agilidade”. Zé do Efeito parte para a bola. Sai um chutinho. “O goleiro encaixa à altura do peito sem o menor sacrifício. A torcida explode em ódios”.
De repente…
O goleiro, “glorioso, dá dois passos à frente para rebater a bola de acordo com a regra. Mas nem chegou a concluir o lance. Ao quicar, a bola possuída de estranho efeito, fugiu-lhe do controle e rolou, zarolha, para dentro das redes: gol do Sapiranga. Zé do Efeito voltou ao centro do campo, em silêncio”.
Fim. Fim?
Temos ainda muito futebol pela frente.
ENQUANTO ISSO…
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