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Embora um dos maiores importadores de bacalhau do planeta, o Brasil parece estar totalmente alheio à guerra que Portugal trava com a Noruega, Dinamarca e Islândia. A briosa, brava e indormida imprensa nada (sem trocadilho) ou muito pouco tem noticiado a respeito desse mar de tormenta.
O professor Afronsius foi buscar mais detalhes em periódicos portugueses: o futuro do bacalhau, tal como é consumido e apreciado hoje, está sendo decidido em Bruxelas, onde a aprovação de uma proposta ameaça acabar com o tradicional prato português.

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Polifosfatos no lugar do sal

É que a Dinamarca, Islândia e a Noruega querem liberar a adição de produtos químicos (polifosfatos) no processo de salga úmida. A Associação dos Industriais do Bacalhau (AIB) pôs a boca no trombone, alertando para as “consequências desastrosas” da alteração legislativa, por parte da Comissão Europeia.
E disse desconhecer objetivamente o fundamento e os objetivos da proposta que, nos termos em que é colocada, “afeta exclusivamente o bacalhau pescado no Atlântico Norte destinado a Portugal, uma vez que este é o único peixe que, depois de salgado pela cura tradicional portuguesa, apresenta um teor de sal superior a 18 por cento (entre 18 a 22 por cento), precisamente o valor especificado na proposta”.
Os portugueses dizem estranhar “que se pretenda trocar um produto 100% natural, com séculos de processamento absolutamente seguro para o consumidor, por um produto adulterado com químicos, os quais a própria Comissão reconhece que apenas ‘a maior parte dos polifosfatos será removida’ juntamente com o sal quando do processo de demolha”.
– Demolha? – surpreendeu-se Natureza Morta.
– Trata-se do processo para retirar o excesso de sal, permitindo que o bacalhau volte a ganhar volume. Durante a secagem, o dito cujo perde cerca da metade do seu peso.

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Sem propósito (aparente)

O abacaxi, ou bacalhau, está nas mãos da Direção-geral da Saúde e Consumidores, cujo acrônimo, em Portugal, resulta em Sanco. Coisa lá deles. Quanto aos efeitos na saúde dos consumidores, não há consenso na comunidade científica. Pela proposta, que acarreta graves prejuízos à economia portuguesa, “a adição de polifosfatos teria como objetivo evitar a oxidação da gordura no pescado salgado”. Mas, na contestação de Portugal, em se tratando de peixe magro (baixo teor de gordura), não há justificativa tecnológica ou prática para mexer na fórmula.
O consumo mundial de bacalhau chega a 250.000 toneladas por ano e a proposta é “objetivamente injustificada e explicitamente prejudicial para Portugal”.

Origem basca, quem diria…

Vale registrar, até para mostrar como é inexorável o processo de expropriação, que o comércio do bacalhau começou com os bascos. Eles conheciam o sal e já no ano 1000 se dedicavam ao comércio do bacalhau curado, salgado e seco. Foi na costa da Espanha que o bacalhau começou a ser salgado e depois seco nas rochas, para melhor conservação.
Manifestando solidariedade aos portugueses, que, justificadamente, “subiram nas tamancas”, o solitário da Vila Piroquinha disse que, diante da investida da indústria química e dos interesses financeiros correlatos, teme pelo futuro do nosso tradicionalíssimo bacalhau:
– Só falta vir por aí o chesseburger de bacalhau, hambúrguer de bacalhau, McFish Bacalhau, BigMac bacalhau… Sem falar do hot dog e da carne de onça – de bacalhau.

ENQUANTO ISSO…

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