Muitas coisas mudaram. Outras, nem tanto. Como diz Beronha, antigamente fumar era bonito e entrar na política significava bons propósitos. Hoje, é o contrário. Mas, falando sério, Natureza Morta citou a homofobia e a longa batalha contra sua prática.
Aproveitou para citar Coretta Scott King, ativista e líder dos direitos civis. Para ela, a homofobia é como o racismo, o anti-semitismo e outras formas de intolerância “na medida em que procura desumanizar um grande grupo de pessoas, negar a sua humanidade, dignidade e personalidade”.
Tanto que, em 1991, a Anistia Internacional passou a considerar a discriminação contra homossexuais uma violação aos direitos humanos.
Um caso de polícia
A propósito do assunto, a seção Achados&Perdidos comparece com uma notícia publicada pelo jornal O Dia, do Rio de Janeiro, no dia 5 de dezembro de 1964: “Policiais do 12.° DP ficaram espantados, na noite de ontem, quando viram passar estranha mulher, na Rua Barata Ribeiro, esquina da Rua Hilário de Gouveia. Com calça azul saint-tropez e blusa de fustão listrada, usando ainda sandálias fechadas e capa de napa, o que mais impressionou no curioso conjunto feminino eram os requebros, que iam chamando a atenção de quantos passavam.
A bonita cabeleira que, na realidade, era uma rica peruca, constituía o ponto culminante de um artifício que os policiais entenderam de pôr logo a limpo.
Tratava-se de um travesti. Era o gaúcho (…), de 25 anos de idade, tratado por Jaelita que, conforme explicou, reside e trabalha como doméstica na Avenida Nossa Senhora de Copacabana (a omissão do número do prédio e do apartamento é por nossa conta). Jaelita confidenciou que conhece Sofia Loren e Coccineli, tendo por ambas grande admiração, embora entenda que Coccineli seja farsante.
Logo em seguida, disse aos policiais que “adoro a vida artística; adoro a música, a literatura, o jornalismo, mas quem eu adoro mesmo é o Nélson Rodrigues”.
A notícia – o nome da pessoa foi suprimido agora por nossa conta – consta do livro Assim Marcha a Família, Editora Civilização Brasileira, que reuniu “onze dramáticos flagrantes da sociedade cristã e democrática, no ano do IV centenário da cidade do Rio de Janeiro”, isso em 1965, com prefácio de Carlos Heitor Cony.
Entre os que assinam o livro estão Sylvan Paezzo, Arthur José Poerner e José Louzeiro.
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